Capítulo 01

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Dizem que quando você está a beira da morte, sua vida passa por você como um filme. Mas, com vinte anos não tem muito o que passar nesse tal filme, então, no meu caso, foi apenas a infância. E o modo como isso tudo aconteceu foi até interessante.

Era madrugada, o vento gélido deixava meus lábios ressecados. Com os fones para fugir da realidade, eu andava rápido. Precisava chegar em casa logo, trabalhar todos os dias naquele bar estava me esgotando.

Virei para atravessar a rua, e me arrependo por não ter olhado. Um carro me acertou, e eu voei pelo asfalto. A última coisa que eu ouvi foi a melodia da minha música preferida ecoando ao fundo enquanto sentia minha vida acabando.

Mas algo aconteceu, entre o morrer e meu último suspiro. Uma mãozinha segurou a minha e me puxou, colocando-me de pé. Olhei ao redor e quando me vi ali, parado me olhando, fiquei com medo. Pode soar confuso, mas o meu eu de seis anos estava bem na minha frente. Seus olhinhos escuros demonstravam irritação.

— Você é um menino muito teimoso, Nathan. Mamãe não fala sempre para olhar antes de atravessar? — ele fala, eu falo?

— Porque você... Eu... É... — Passo as mãos pelo rosto, demonstrando toda a minha confusão.

— Agora olha só o que aconteceu! — Olho na direção indicada, e vejo a ambulância. O homem do carro está desesperado, pedindo para que me ajudem e não me deixem morrer.

— Eu morri?

— Quase... Você está bem pertinho... — O pequeno eu dá voltas saltitantes, como se não estivesse preocupado.

Não pode ser verdade, eu não posso morrer. Não agora pelo menos. Tenho que fazer tanta coisa. Eu iria finalmente chamar a Hannah para sair. A faculdade de direito me aguardava.

— Nathan?

— O que?

— Tá pensando em que? Na Hannah? — Olho torto para aquela pestinha e ele simplesmente ri da minha cara. Agora eu entendo porque minha mãe era tão estressada.

— Preciso voltar para o meu corpo. Você pode me ajudar?

— Não sei. O que eu vou ganhar?

— Que tal, se eu não morrer, eu te levo para comer muito sorvete?

— Eu amo sorvete — diz, meio perdido do assunto e eu sorrio.

— Então vamos lá, pequeno Nathan.

Eu o coloco nos meus ombros e saio correndo na direção que ele aponta.

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