Capitulo II

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Pov Felipe

Entro no estabelecimento e logo o sino avisa que alguém entrou no recinto. Instantaneamente o cheiro de café e a música clichê de fundo me trazem lembranças que eu quero muito lembrar, na mesma intensidade que prefiro esquecer.
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"-Vou querer um copo gigante de café mamãe, posso?- Pergunto, segurando em sua mão e fazendo biquinho.

-Claro, querido.- Ela responde, sorrindo agradávelmente.

Logo em seguida, vira-se para a mulher do balcão.

- Bom dia,Dona Tina. Dois cafés sem açucar, por favor.

- Bom dia, minha filha. Saindo dois cafés para os meus clientes mais sorridentes.-Diz e entra na cozinha.

-Mamãe? - A chamo, pensativo.

-Sim, filho.- Ela para de contar as cédulas e me olha.

-Um dia eu serei um grande médico e terei um lugar como esse. A senhora vai me ajudar a fazer café para as outras pessoas, não vai? Quero que todos saibam o quão bom é o seu café- Indago, esperançoso.

-É claro que sim, meu amor.-Ela sorri e me abraça.

-Promete?

-Prometo."
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O local era aconchegante e perfeito para qualquer pessoa que entenda que café é cem vezes melhor que chá. Tinha algumas mesas e cadeiras de madeira, um balcão com uma vitrola vermelha em cima, algumas plantas discretas em vasos, as paredes feitas de madeira e um relógio que, apesar de todos reclamarem dele ser velho, eu simplesmente adorava o estilo dele. Um ambiente extremamente vintage frequentando geralmente por pessoas modernas.
Varro o local com os olhoa procurando rapidamente pelo Gabriel enquanto me dirijo ao balcão. Ele não estava lá. Atrasado, para variar.

-Bom dia, Lipe. O de sempre? - Pergunta a senhora do outro lado do balcão.

-Bom dia. O de sempre, Dona Tina.- Peço gentilmente.

Me dirijo para uma mesa instalada perto da porta. O local estava quase vazio, exceto por um rapaz que estava na mesa em frente á vitrine, coincidentemente em frente á minha mesa. Eu poderia escolher um lugar mais reservado, mas tomar café naquela mesa todas as manhã era como uma tradição.
Sento-me na cadeira e, instintivamente, arrumo o saleiro que estava torto. Observo o objeto e percebo que não era ele que me incomoda. Talvez seja o açucar. Arrumo o recipiente. Ainda não resolveu. As flores no vaso em cima da mesa ? Coloco-ás em ordem crescente de tamanho. Nada. Coloco em ordem decrescente de tamanho. Nada. Coloco em ordem crescente com base no número de pétalas. Nada.Entorto a cabeça e encaro a mesa.
A toalha estava torta.

Eu não vou fazer isso.
Não mesmo.
Isso é loucura.
Me recuso.

Porra.

Me levanto e começo a colocar os objetos que estava sob a mesa em cima de uma cadeira. Enquanto faço isso, escuto o sino da porta tocar, um sopro de vento entrar, e junto com ele, um aroma incrivelmente e deliciosamente cheiroso e doce. Deve ser o Gabriel, e ele deve ter trocado de perfume.Ele conhece os meus retardos. E sabe que eu não vou sossegar até tudo estar perfeitamente alinhado. E provavelmente vai me zoar muito, mas foda-se.
Em seguida, arrumo a toalha de malha quadriculada vermelha perfeitamente e reorganizo os objeto em cima da mesa. Só depois disso, sento e sinto uma sensação boa de "missão cumprida" invadir meu corpo.
E é só então que percebo que o Gabriel não estava na mesa. Não foi ele quem chegou. Levanto a cabeça para encarar a porta, e sinto olhos me encarando.

Não pode ser.

Seria possível?

Não.

Negativo.

Sem chances.

Dirijo meu olhar á mesa que, antes estava com um rapaz sozinho, e agora tem duas pessoas nela.
E uma delas está me encarando.
E eu reconheço esses olhos.
Verdes.
E eu não vou desviar o olhar. Não porque eu não quero, e sim porque eu simplesmente não posso desviar.
Eles são tão profundos.
Tão cativantes.
Tão brilhantes.
Tão.... verdes

Enquanto encaro a desconhecida, vejo pelo canto da visão o seu parceiro conversando e gesticulando animadamente com ela. Ela que parece nem sequer estar notando sua presença.

Eu já não aguentava mais.

Mais alguns segundos de fixação e eu iria me levantar e inventar qualquer assunto para falar com ela. Perguntar se ela prefere gato ou cachorro. Se na casa dela tem parede. Se ela prefere café ou chá...
Eu não aguento mais. Vou lá. No três. Um. Um meio. Dois. Dois meios e ...

E numa fração de segundo o mundo voltou a girar.

O companheiro dela parece derramar algo quente nas pernas, o que (finalmente) a faz desviar os olhos e prestar atenção nos pulos desesperados dele. Alguém abre a porta, atrapalhando a visão. Dona Tina chega com o café. E eu pisco desconcertado.

O que acabou de acontecer aqui?

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