Capitulo I - Parte II

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POV Julieta.

Olho o relógio pela milésima vez hoje. 5:39. Faltava apenas uma hora e seis minutos para o fim do plantão. Ótimo.
Termino o café que estava no copo descartável e jogo na lixeira. Procuro na papeleta as informações do próximo paciente.

Luíz Eduardo Cardoso.
48 anos.
Vitima de atropelamento.

Trabalho nesse hospital há 8 meses e já estou mais familiarizada com as ocorrências do que quem trabalha aqui 10, 20 anos.
Vai ver eu era emergêncista na outra vida. Ou vai ver o amor por Grey's Anatomy me fez assim...

- Julie, chegou uma vítima de atropelamento e precisamos...

Ou pode até estar no sangue, sabe... quem sabe eu tenha nascido pra isso mesmo, e agora eu tenha realizado o meu objetivo na vida ...

- Julie?

Ou até mesmo quem sab..

-JULIETA !

Sou acordada bruscamente de meus pensamentos com o grito do meu chefe, Dr. Thiago.

- Oi? É, bom, desculpe - Sinto minhas bochechas queimarem.

- "Mantenha a cabeça nas nuvens e os pés no chão"...- Ele sorri de lado.- Sabe quem disse isso?- Abro a boca para responder, mas fui interrompida- Nem eu. Mas foi inteligênte.

Ele me entrega as luvas e a papeleta da vítima recém chegada.

-É UMA LINDA MADRUGADA PARA SALVAR VIDAS. VAMOS. - Grita e sai andando em direção ao elevador.

Fico encarando o chão, tentando digerir o que ele tinha dito. Vai ver ele disse no sentido em que...

-VAMOOS!?! - Grita de dentro do elevador.

Me apresso em segui-lo.

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Saio da sala de cirurgia e, após uma longa respirada, encaro o relôgio. 6:44. Suspiro de alívio e corro para o vestiário. Eu realmente precisava de um banho, mas não seria aqui.
Me despeço da atendente com o meu melhor sorriso e saio do hospital, já com os fones de ouvido. Eu só precisava ir para casa, tomar um banho, um café e um bom dia de sono.
Enquanto planejo tudo nos mínimos detalhes, sigo o caminho que me leva ao prédio onde moro, sorrindo para todos.
Ninguém tinha culpa por eu trabalhar tanto, e um sorriso pode salvar vidas. Destaco isso. UM SORRISO PODE SALVAR VIDAS.
Sinto uma leve vibração no bolso da blusa. Abro a mensagem.

Mensagem on

Hey, sorriso.
Que tal tomar café comigo hoje? Eu sei, uma ótima idéia. Não recuse.
Te espero ás 7:30, no lugar de sempre.

Não me deixe na mão.
Do seu melhor amigo, vulgo escravo sexual. <3

Mensagem Off

Se eu sorri? Muito. Posso estar morrendo de sono, mas estou com saudades dele também. Daria tempo de ir em casa, tomar um banho e, se eu for rápido, até tirar um cochilo.
Matheus é meu amigo desde a morte da minha mãe, que por coincidência foi no mesmo dia da morte da mãe dele. Nos conhecemos no cemitério e juramos juradinho cuidar um do outro. E estamos cumprindo isso. Até hoje.

-Moça, eu tô com muita fome. Não tem nenhum trocadinho aí não? - um senhor de idade me pergunta.

Retiro da mochila o lanche que tinha levado para comer na noite passada e entrego á ele.

- Olha, senhor, isso é tudo que eu tenho aqui, mas se o senhor quiser me acompanhar até minha casa, lá deve ter alguma coisa para...

-Não, não, minha jovem. Isso é o bastante.- Ele sorri, fazendo rugas ao redor de seus olhos. Eu não pude deixar de sorrir junto. Amo sorrisos, mas os sinceros me fazem a pessoa mais feliz do mundo. - O mundo precisa de pessoas como você.- Ele diz, e sai pulando de alegria.

Eu sorrio e continuo meu trageto.
Aproveito a deixa do farol fechado para trocar a música que estava tocando. Quando finalmente encontro uma aceitável para o momento, atravesso a rua.
Na metade do caminho, um rapaz me chamou atenção. Não sei bem ao certo o que. Talvez o jeito sério, talvez o olhar profundo... não sei.
Entorto a cabeça para tras e sorrio, mesmo sem perceber.
E ele corresponde com outro sorriso. Um incrível sorriso.




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