Amaranto

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Caio era uma criança maravilhosa... Apesar de não saber dizer sua idade deveria ter por volta de seus 13 anos de idade. Ele corria alegremente por entre as árvores cinza da estrada que seguia, ria alto e parecia perfeitamente saudável.

Meus pés ainda doíam um bocado, sangravam muito... Estava descalça á esta altura como Caio me sugeriu há momentos atrás. Fazia um tempo que estávamos andando um trilho entre a floresta e o lamaçal... Honestamente nunca tinha me imaginado entrando na floresta, quer dizer: o lugar todo parecia morto! O que encontraria no meio disso senão apenas solidão?

O medo de prosseguir havia me travado.

"Vai se divertir muito quando chegarmos à cidade, mana!" Ele dizia de meia em meia hora quando tomava fôlego.

Era gostoso estar com Caio, confortante. Ele era um ponto de luz nesse meio de nada cinza. Mas admito que ainda me sinto arrepiada e com um sinal de alerta vermelho na mente toda vez que olho para ele... Acho que estou exagerando por todos terem sido hostis comigo neste mundo, mas ainda assim não consigo confiar nele cem por cento.

"Olha, lá está! Lá está!" ele gritou apontando para uma muralha de pedra cinza bem no fim da pequena floresta.

Sai dos meus pensamentos e voltei para a realidade olhando surpresa para aquela construção incrivelmente isolada e bonita. Um sorriso se formou sem dificuldades no meu rosto: eu sabia, eu sabia que tinha civilização!

Meus pés se moveram sem eu mandar e comecei a correr como uma boba para perto daquela muralha sem cor, mas que encheu meus olhos.

Caio sorriu enquanto passei por ele como o vento. Ele correu atrás de mim satisfeito com minha empolgação.

"Precisamos dar a volta para encontrar a entrada" ele disse risonho.

Eu não conseguia tirar os olhos daquele muro... Ele significa uma esperança, uma chance.

Toquei nele... Senti as pedras frias, gélidas, queimarem minhas mãos já muito judiadas... Um sorriso seguido de suspiro aliviado tomou conta de mim: Aquela sensação de estar viva de novo...

"Vamos mana" disse Caio impaciente.

Minhas mãos se afastaram lentamente das pedras e eu olhei para aquele garoto risonho. Meus olhos brilharam, eu tenho certeza.

Segui Caio em silêncio por alguns minutos até encontrarmos a entrada da muralha. Estava ansiosa, minhas mãos estavam suando e minha boca começou a ficar seca de repente.

Quando encontramos o portão abri a boca querendo falar algo mas nenhuma palavra saiu. Era enorme de madeira marrom acinzentada e com fechaduras de ferro preto, gasto. Estava semiaberto o que me deixava mais ansiosa: mal dava para ver o que tinha por detrás daquilo.

Um guarda vestido de vermelho e com uma lança prateada maior que seu corpo inteiro permanecia imóvel olhando para o caminho da floresta incansavelmente... Como o guarda da estalagem olhava para o céu, petrificado.

"Boa tarde" comecei relutante... Nada.

O guarda me olhou de cima para baixo, um sorriso de canto de boca me arrepiou a nuca. Silêncio.

"Será que poderia nos dar licença?" tentei novamente.

"E por que deveria?" sua voz gélida cortante seguida de uma gargalhada cheia de rancor me fez lembrar que eu estava mesmo no Inferno.

"Porque eu tenho ouro" disse Caio sorrindo. Um sorriso que eu nunca tinha visto antes na verdade... Sombrio, com certo ódio no tom de voz que me fez dar um pequeno pulo de susto. Ele retirou uma moeda dourada extremamente polida, brilhante de um dos bolsos cinza. A moeda reluzia em seu rosto o que deixava com tom bem fantasmagórico... Assustador.

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