𝐶𝐴𝑁𝐶𝐸𝑅 | yoonseok

one

Gwangju, 3 de março de 2010

O ar-condicionado está muito gelado e eu estou extremamente entediado, eu resolvi escrever essas pequenas notas para você se lembrar de mim.

Bom, é, eu não sei o que escrever aqui então vou falar de nós.

O dia em que nos conhecemos é meu dia favorito.

Eu ainda me lembro muito bem, como se fosse ontem. Você usava um pijama amarelo com listras brancas, as mangas escondiam suas pequenas mãozinhas, uma pantufa branca de coelhinho, seu cabelo estava bagunçado e você coçava seus olhos, como se tivesse acabado de acordar.

Você soltou a maçaneta da porta e me dirigiu um "oi", então eu pude ver o pequeno ursinho que você segurava. Tão adorável.

Haviam caixas espalhadas por todo o corredor de entrada, sua família tinha acabado de se mudar.

Eu te entreguei os biscoitos sem conseguir olhar em seus olhos, minhas bochechas pegavam fogo enquanto eu fitava meus próprios pés.

"Sejam bem vindos", eu soltei as palavras num sussurro. Nunca havia sentido tanta vergonha na vida.

Você abriu um sorriso enorme e seus olhinhos se fecharam por conta disso. Eu nunca havia visto ser tão fofo em toda a minha vida. Logo após fechar a porta na minha cara eu pude ouvir seus gritos através dela, cantando e falando como amava biscoitos. Quem não ama biscoitos, né?

Você sempre foi uma pessoa elétrica, Hoseok.

Sempre teve esse dom de nos deixar felizes nos nossos piores dias. Você sempre teve essa risada alta e contagiante, esse sorriso caloroso e esse abraço aconchegante. Você sempre me colocou em primeiro lugar. Você era meu melhor amigo e minha pessoa favorita no mundo.

Eu me lembro como a minha mãe sempre me dizia que eu só tinha olhos para você. O que era verdade, desde pequeno eu sempre quis estar ao seu lado mais do que qualquer outra pessoa. Você me fazia feliz como mais ninguém fazia.

Você está presente em todas as minhas memórias, o que faz eu me perguntar se algum dia eu estive vivo por qualquer outra razão, sem ser você.

Quando eu caí do balanço do parquinho e você foi correndo me ajudar, limpando minhas lágrimas com a palma da sua mão. Quando eu provei sushi pela primeira vez e o wasabi me fez espirrar, você estava lá, rindo de mim. Os nossos passeios no parque, as vezes que fomos à diretoria juntos por fazer algumas das nossas milhares de merdas. Você sempre estava lá.

Mas a minha lembrança favorita é a de quando você me defendeu diante os garotos do primeiro ano, eu estava apanhando por ser o mais fraco, eu tinha apenas quatorze anos e não tinha ninguém ao meu lado, até você chegar. Suas bochechas ficaram num tom avermelhado de raiva e você gritou o mais alto que podia, eu ainda lembro das suas exatas palavras.

"Se vocês tocarem no meu hyung outra vez, eu quebro a cara de vocês, um por um!"

Então eu olhei pra você, meus olhos brilhavam e minha testa sangrava.

Foi aí que eu me apaixonei. Enquanto você me ajudava a limpar minhas feridas eu apenas olhava para você e chorava. Eu não chorava de dor, eu não chorava de tristeza, eu chorava por ter alguém como você ao meu lado, eu chorava por saber que eu poderia contar com você para tudo, eu chorava de paixão.

E hoje, eu ainda choro por você, mas dessa vez, é por medo de nunca mais poder vê-lo.