two

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Gwangju, 9 de março de 2010

Hoje é meu aniversário, não que isso faça diferença, um dia a mais estando vivo, um a menos para viver.

Você veio me ver Hobi, você estava tão lindo. Seus cabelos estavam bagunçados e seu rosto corado por você ter vindo de bicicleta até o hospital, eu sempre admirei isso em você, sabe, a sua vontade de fazer as coisas. Eu só sairia de casa em um domingo nublado para ir até um hospital se eu fosse levado de limusine, você me conhece.

Mas pensando bem, se fosse por você, eu iria até engatinhando.

Enfim, você chegou aqui antes do horário de visitas começar, e esperou ansiosamente - como você mesmo disse, - os portões abrirem e todos aqueles velhinhos remelentos saírem da sua frente para você poder chegar aqui antes mesmo de eu acordar.

O que infelizmente não foi possível, já que eu tenho sentido muita dor para poder dormir mais de quatro horas seguidas. Mas você não sabe disso, shiu.

A porta do meu quarto se abriu e assim que eu coloquei meus olhos em você abri um sorriso enorme, que logo se desmanchou ao ver um garoto de cabelos laranjas vir logo atrás de ti. Você me disse que seu nome era Jimin, e que ele era novo na sua turma de história.

Você é minha dupla na aula de história, Hobi, é tão fácil assim me substituir?

Minha garganta tinha se fechado naquele momento, eu apenas balancei minha cabeça para tirar aqueles pensamentos da minha mente, não era a hora.

Você então me abraçou e deu vários beijinhos nas minhas bochechas, que a essa altura não coram mais. Logo depois, puxou algum assunto sobre o colégio e revistas em quadrinhos, você sempre foi de ficar tagarelando, e eu, apenas o observava com um sorriso. Você é tão maravilhoso que me deixa triste, Hoseok.

Assim como eu, Jimin também te observava com um sorriso bobo nos lábios. Ele gostava de você. Eu não gostava dele.

Mas eu não conseguia mentir para mim mesmo, e aceitei que seu amigo era lindo, seu sorriso era extremamente branco, suas coxas eram grossas e suas bochechas coradas.

Ele era muito lindo, muito mais que eu.

Eu fiquei emburrado de ciúmes, e eu tenho certeza que você percebeu, pois parou de tagarelar e me olhou meio estranho, logo depois puxando uma sacola que você havia escondido nas costas ao entrar no quarto.

De lá você tirou uma pequena fatia de cheesecake de framboesa, meu favorito.

Eu peguei a colher que havia dentro da minha gelatina verde que o hospital oferecia, que sinceramente devia ser de brócolis porque o bagulho era ruim demais, e comi meu cheesecake, lembrando do passado.

Foi como no meu último aniversário. Mas ao invés de sentados em uma cama de hospital, estávamos no telhado da sua casa.

Lá é seu lugar favorito, logo se tornando o meu também.

Você tinha quebrado a perna depois de cair de skate, uma semana antes do meu aniversário, o que te impediu de sair de casa por uns bons dois meses. Eu havia acordado bem cedo e ido até a sua casa, que naquela época ainda era do lado da minha.

Eu toquei a campainha e sua mãe me avisou que você estava de cama no seu quarto, eu apenas agradeci e subi correndo as escadas, tropeçando nos degraus. A cena que eu presenciei depois de abrir a porta foi preciosa, você estava emburrado olhando através da janela, reclamando baixinho sobre querer se jogar da mesma.

Eu apenas ri e corri pra me jogar ao seu lado, e ficamos assim a tarde toda. Conversando e vendo filmes na sua televisão. Eu confesso que não assisti nem metade de cada filme, você me distraia sempre, sendo brincando com seus próprios dedos ou mordendo o lábio.

Depois do terceiro filme, você me acordou do meu transe, falando que sua mãe havia feito meu cheesecake favorito. Eu fui correndo buscar dois pedaços pra gente. Você falou que queria ir pro telhado, eu achei loucura você querer sentar no telhado com a perna quebrada mas eu sou um cachorrinho, e sempre faço tudo que você me pede.

Fiz uma rampa de cobertores até a janela e cuidadosamente te coloquei sentado lá, olhando para as estrelas.

A noite estava linda, as estrelas brilhavam no céu, assim como seus olhos.

Ficamos lá a noite toda, eu peguei cobertores para nós e dormimos no telhado, eu fazia carinho nos seus cabelos enquanto você me contava sobre algum anime de meninas que viravam gatinhos. Você caiu no sono gradativamente, suas palavras foram demorando para sair, seus olhos foram demorando para abrir após cada piscada.

Eu não sei quanto tempo eu fiquei te admirando. As mechas de cabelo caindo no seu olho, sua boca entreaberta e sua expressão de paz me faziam suspirar a cada segundo.

Eu não te beijei, eu tive medo. Eu ainda tenho medo.

Porque a parte mais difícil de tudo isso, é, te perder.

E eu não vou arriscar te perder, não antes da hora.

𝐶𝐴𝑁𝐶𝐸𝑅 | yoonseokOnde histórias criam vida. Descubra agora