a contar aquilo para sua mãe. Elas haviam brigado a três dias atrás e não se falavam desde então. Ela só pensava que isso pioraria muito a situação. Com seus pensamentos girando em sua mente ela retornou a sala de aula.
- Posso entrar?
- Sim, mas desta vez preste atenção
Ela sentou e ficou olhando para a professora que estava explicando, mas não conseguia se concentrar em nada no que ela falava. Era como se ela estivesse falando uma língua totalmente diferente. Ela só pensava que se não tivesse tanta gente ao seu redor, choraria ali mesmo. Mesmo assim ela fixou o olhar no quadro negro e deu a impressão de estar interessada no que a professora falava, mas por dentro ela queria gritar. Finalmente o sinal bateu para o próximo periodo e a professora saiu da sala.
- Ju o que houve lá?
- Nada, ela só me deu uma advertência
Ela dá os ombros. Mas as amigas dela sabiam que não era apenas uma simples advertência e se preocuparam pois ela nunca havia agido assim.
- Como assim "só uma advertência"?
- Parem de drama, grande coisa!
Ela finge não se importar, mas por dentro estava morrendo de preocupação. Preocupada em como ia ser a reação da sua mãe ao ler aquele bilhete. Ela tentou afastar esses pensamentos mas eram inevitáveis. Queria se preocupar com isso apenas quando estivesse a caminho de casa, mas não conseguia. Ela só pensava na briga que tiveram a três dias atrás e daquele silêncio mortal que ficava cada vez que as duas se encontravam no mesmo cômodo. Quando ela se deu conta já estavam no último periodo de aula. Ela começou a ficar nervosa, mas não deixou transparecer. Quando o sinal tocou ela começou a guardar os cadernos dentro da mochila.
- Ju quer ir comigo?
Sua amiga perguntou.
- Hoje não vai dar, tenho que ir no mercado ainda
- Então tudo bem, até amanhã
Ela se despede e sai. Mas ela estava mentindo, não tinha que ir no mercado, e sim queri a fazer o trajeto de casa sozinha, sem ninguém falando em seus ouvidos o que ela não queria ouvir. Ela já tinha um milhão de problemas para serem resolvidos mas sempre deixava pra depois. Tentava ajudar suas amigas dando concelhos, mas ela mesma não conseguia se ajudar. Parecia que de alguma forma ela lidar e tentar achar soluções para os problemas dos outros era mais fácil, e menos doloroso. Mas ela teria que criar coragem para entregar o bilhete para sua mãe. E esse era um problema que ela não teria como deixar pra depois, teria que ser agora. Faltava uma quadra para chegar em casa, suas mãos começaram a suar. Ela entrou em casa normalmente e sua mãe estava na cozinha. Então subiu as escadas e dez questão de pizar fundo para que a mãe tivesse certeza que ela já havia chegado. Trocou de roupa e desceu para almoçar. A mãe não pronunciou uma palavra durante os dez primeiros minutos de almoço. E tinha sido assim à três dias; Ela ficava com os olhos fixados em seu prato. Na briga que elas tiveram a três dias atrás, ela havia dito "eu te odeio" para mãe e batido a porta do quarto. E depois ficou lá dentro chorando por umas horas até pegar no sono. Ela percebeu que se dependesse de a mãe dizer algo, nunca iria acontecer um diálogo, então ela começou.
- Mãe?
- Que foi?
Ela não ergueu os olhos para olhar para a filha.
- Preciso te contar uma coisa
- Fala
Responder sem demonstrar nenhum interesse no que iria ouvir.
- Eu recebi uma dvertência na escola hoje e preciso que você assine
Imediatamente ela ergueu os olhos para a filha, com um olhar curioso e ao mesmo tempo assustador.
- Advertência? Como assim, o que você fez?
- Nada
- Se não tivesse feito nada não levaria uma advertência
Ela responde em tom de ironia.
- Eu não fiz nada na aula, justamente por isso. Não prestei atenção na aula de matemática
- Era só isso que me faltava!
Ela pegou a caneta e assinou o bilhete sem ler.
- Você acha que eu te sustento sem querer o minímo de volta?
Ela fica calada, então a mãe continua.
- Você sempre faz tudo errado mesmo!
Ela começa a chorar depois de ouvir essas palavras da mãe.
- O que adianta chorar agora hein? Você sempre faz tudo errado e depois se arrepende. Onde foi que eu errei, em meu Deus?
Ela gritou enquanto erguia as mãos para o céu.
- Porque você não me abortou então?
Ela responde com lágrimas nos olhos.
- Porque eu realmente acreditei que poderia ter uma filha ou um filho descente
Seu tom de voz estava aumentando.
- E o que você pensa disso hein?
Ela não responde.
- Estou falando com você sua inútil
As palavras da mãe pareciam flechas em seu coração. Memso assim ela continuou calada por mais um tempo, depois resolveu falar.
- Porque desde que o papai morreu você me trata assim hein? Eu não tenho culpa da morte dele
- Cala a boca
A mãe disse enquanto dava um tapa no rosto da filha.
- Nunca mais fale isso, não fale assim do seu pai
Mesmo chocada e com a mão sobre o rosto doloriso ela fala.
- Você só não quer falar sobre a morte dele porque sabe que foi culpa sua. Que se naquela noite você não tivesse brigado com ele, ele não teria saído de casa e bebido, e estaria aqui comigo agora
A mãe vira outro tapa no rosto da filha.
- Chega Julia!
Ela sobe correndo e chorando as escadas e se tranca no banheiro. Ela mal acrditava no que a mãe havia feito. Sua vida havia desmoronado, seu pai não estava mais ali para ajudá-la e a única coisa que a mãe sabia fazer era julgá-la. Ela estava com muito ódio da mãe, começou a revirar os balcões do banheiro procurando algo que pudesse machucar. Encontrou uma pinça, mas só fez alguns arranhões em seu braço. Ela se lembrou que já havia lido sobre auto-mutilação e que as pessoas diziam que aliviava a dor emocional. Ela foi até o box e pegou uma gilete. Depois de cortar o braço esquerdo ela seca o sangue e saí do banheiro. Sua mãe já estava dormindo, ela tomou banho e foi se deitar. Ficou pensando se aquilo realmente havia valido a pena; se resolveria algo. Mas também pensava que ninguém se importaria e que na verdade ela gostou da dor. Ela pensou em nunca mais fazer isso de novo, mas seus dias foram passando e ficando cada vez mais difíceis. Ela brigou com as amigas a ponto delas não quererem mais falar com ela. Passava o tempo todo sozinha na escola e com um casaco de manga longa quando estava quente. Ninguém mais a reconhecia, ela estava fria, calada, deprimida. Não falava mais nada na aula e suas notas haviam baixado. E para completar um colega novo na turma começou a tirar sarro com ela. Ela sempre fingia que não se importava e à noite se encontrava com a lâmina. Ela tinha encontrado algo que sempre ficaria ali com ela, que nunca a abandonariam, diferente de todos. Ela encontrou na lâmina um refúgio, refúgio ao qual ela não podia contar a ningué, afinal sua vida desde o dia do bilhete havia virado um inferno, e não queria que piorasse ainda mais. Ela daquele dia em diante se encontrou diariamente com a lâmina, até que um dia ela foi fundo demais e acertou uma veia. Foi parar no hospital e depois de sair de lá não parou de se encontrar com a lâmina. Ela continuou mais em lugares menos visíveis, o que ninguém sabe é que ela não consegue largar esse vício. Mas se ela pudesse voltar atrás, com certeza não teria feito os primeiros cortes.
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Pequena suicida
Novela JuvenilVocê esta preparado para morrer ? Não tente acordar. Isso não é um sonho. Não há para onde fugir. O seu pior pesadelo irá te perseguir para sempre, em cada noite.