SkyleAbri os olhos lentamente e tudo que consegui ver foram borrões,não consegui identificar o local onde estava mas tinha a certeza de que não era o meu quarto. Reuni todas as forças e ao levantar-me então ,senti que a superfície era gelada,o cheiro de mofo empregnou-se nas minhas narinas,fazendo-me enjoar.
Esfreguei os olhos e percebi que estava num lugar totalmente escuro. Mas como vim aqui parar? Porque sinto como se tivesse carregado uma tonelada? O que aconteceu?-pensei.
Pensei rápido, precisava sair dali. Apenas um feixe de luz ao fundo iluminava o que eu acho que era um túnel.Levantei-me cambaleante e corri,corri a toda velocidade na esperança de encontrar alguém,de encontrar uma saída, mas quanto mais eu corria parecia que mais me distanciava de chegar ao fim,àquela luz,a minha respiração estava acelerada e o coração parecia que sairia pela boca de tanto bater aritmado.Gritei desesperada por ajuda,mas ninguém ouviu.
Quando finalmente escutei o barulho de uma cachoeira,acalmei-me,automaticamente todos os meus músculos tensos relaxaram e pude libertar o ar que parecia preso nos meus pulmões a séculos,andei mais devagar e de repente escutei alguma voz sibilar dentro da minha cabeça: skyle,minha menina,porque foges do teu destino? (Risos)não existe saída não vês?
Assustei-me,de onde vinha aquela voz eu não sabia,mas o medo que percorreu a minha espinha me dizia que havia algo errado,na verdade tudo estava errado,eu não fazia ideia do que fazia ali e àquela altura não queria saber,apenas queria sair dali,corri ainda mais com esperança de chegar à luz,sem sucesso.
Desesperada e cansada rendi-me:-Quem és tu? O que tu queres? Dinheiro?-falei ofegante por entre lágrimas.-(Risos) Tu és uma criança muito engraçada. Tu tens algo muito mais valioso que pertence-me.-falou a voz na minha cabeça.
-Mas o que eu fiz? Quem és tu? O que queres de mim?-falei dentro de mim pois não tinha mais forças para falar para o nada.
-Eu sou aquele que veio buscar-te porque a tua alma pertence-me.-falou com autoridade.
Engoli em seco e senti algo viscoso segurar o meu tornozelo e puxar-me logo de seguida,caí de barriga no chão frio e fui arrastada para a emensidão de total breu,tentei gritar mas a voz não saía,tentei segurar-me ao chão mas não tinha mais forças e a velocidade com que puxava-me impedia-me de fincar as minhas unhas curtas no chão,tentei soltar-me,mas parecia que aquela coisa viscosa não atingia só o meu tornozelo,mas sim rasgava-me por dentro,como se fossem garras afiadas.
Senti cada parte do meu corpo desligar-se da minha alma. Eu senti o fogo e o gelo,até que aos poucos não sentia mais nada.
Convenci-me que aquilo era a minha morte. Não havia esperança, não havia mais nada. Eu ia morrer e pronto. Mas eu não queria,eu não podia,não sem antes saber o que havia acontecido,não antes de perceber como eu havia ali chegado e quem era aquela voz,eu não queria acreditar que eu iria morrer assim. Não mesmo,mas o vazio que preenchia o meu peito e condensava o ar impedindo que respirasse era a confirmação de que aquele pesadelo só iria terminar quando eu desse o último suspiro,quando eu finalmente morresse.Naquela escuridão tomada pelo desespero ouvi alguém chamar o meu nome e pensei que pudesse ser uma lembrança,talvez apenas um desejo de salvação bobo da minha mente conturbada, mas a voz insistiu e mais uma vez eu a ouvi me chamar e o som tornava-se cada vez mais audível até ao ponto em que já a ouvia gritar:SKYLE.
A escuridão dissipou-se como se de um truque de mágica se tratasse e percebi então que estava de volta ao meu quarto,talvez eu nunca tivesse saído dele na verdade. O meu coração ainda batia descompassado,as minhas mãos em punho,os meus pés formigavam como se a circulação do sangue tivesse sido interrompida a minutos atrás e eu tinha a certeza que estava mais pálida que o habitual.
Uff...afinal foi só um sonho. Ainda bem que despertei ou melhor,que a minha mãe despertou-me.-pensei. Sim,era o que eu pensava na altura.
***
Ela continuava a gritar o meu nome como se ainda estivesse a dormir,talvez porque eu simplesmente olhava para a parede em frente a minha cama,sem sequer mexer um dedo ou piscar os olhos.
Permaneci em meus devaneios até que escutei a parte em que ela dizia:- saiba senhorita Sky que eu não sou sua babysitter e não irei mais tolerar a sua falta de responsabilidade então se atrasar mais uma vez eu juro que corto a sua mesada. Uma garota de 17 anos não consegue acordar a horas. Quando você vai crescer ehm? Será que o que eu falo não....- gritou a minha mãe enquanto abria as cortinas e andava de um lado para o outro nervosa. A luz proveniente da janela quase cegou os meus olhos que ainda se mantinham abertos tentando assimilar o que tinha acabado de acontecer.Saí do quarto em disparada para o banheiro,nem chequei que horas eram mas eu devia estar mais do que atrasada pelo jeito que a minha mãe falava. Despertador inútil e agora sem mesada nem tenho como comprar outro. -pensei.
Minha mãe continuava a cantarolar do lado de fora todo o seu fado de mãe maravilha enquanto eu cantava o meu rock de dentro do box. Sim,essa não é uma atitude correcta, e soa a muito infantil,fingir que não escuta só para irritar a outra pessoa. Mas naquela altura eu pouco me importava com isso,na verdade eu não me importava com nada,nem comigo própria,ou pelo menos fingia para mim mesma não me importar para ocultar o que realmente sentia, porque com certeza não era ignorância muito menos indiferença.
Minha mãe e eu nunca fomos muito ligadas,ela estava sempre fora,a trabalhar para colocar o pão de cada dia na nossa mesa,e sinceramente eu me orgulho muito dela. Desde que o meu pai morreu ela assumiu tudo sozinha,eu tinha quatro anos mas eu lembro de cada momento,ele era o meu herói e essa foi a pior perda da minha vida. Após alguns anos minha mãe decidiu mudar de estado pela décima vez e viemos viver para Washington D.C,eu senti como se vivesse aqui desde nascida,foi uma adaptação que levou menos tempo do que imaginado e fez bem para nós duas. Era uma nova etapa e estávamos prontas para tudo.- sim, era o que eu pensava.- Na verdade já estava acostumada com mudanças,eu nunca entendi muito bem o porquê de ter de mudar de cidade a toda hora,era chato e eu acreditava que esse fosse o motivo pelo qual eu não tinha muitos amigos,mas mais tarde descobri que não era exatamente esse o motivo.
Vesti uma blusa simples com um desenho das pirâmides preto e branca,umas leggins pretas umas sapatilhas pretas,pentiei meus cabelos longos e lisos pretos,peguei na mochila,dei um beijo estalado na minha mãe e corri para a escola sem pelo menos meter algo no estômago, o que também foi reprovado pela Dona Lívia Winston.
-Skyle já está atrasada mesmo,coma alguma coisa primeiro.-ela falou enquanto eu caminhava em direção a porta.
-Como depois no colégio mãe. Não se preocupe.-disse enquanto abria a porta e não esperei ouvir a resposta da minha mãe e corri como numa maratona para ver se chegava antes da aula terminar.
Cheguei ao portão sem aguentar mais,o ar me faltava e o meu coração estava tão disparado que parecia que a qualquer momento teria um infarto. Entrei feito o Flash, numa velocidade tal que não vi o obstáculo a minha frente e derrubei-o no chão levando o meu corpo junto com ele.
Senti-me tonta e quando recuperei da queda pude ver com clareza. O obstáculo que derrubara era um diamante reluzente.
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Onde Há Luz Há Sombra[COMPLETO]
Fantasy"Somos escravos de nossas promessas e sentenciados por nossas escolhas,desenhamos nossas ruínas e afundamo-nos no abismo de nossas falhas. Eu sou o começo e o fim,eu sou o veneno,eu sou o Vazio. "-Skyle Winston. Skyle Winston embarca numa viagem de...