Cap.27-Echo.

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Álex

A falta de confiança que a Skyle tinha comigo estava a matar-me. Eu sabia que era tudo novo para ela e que a insegurança era completamente normal mais ainda assim não conseguia deixar de ficar chateado.

Quando eu voltei para o quarto não a encontrei,chamei pelo nome dela mas ela não respondi. Vi que a porta do banheiro estava aberta e caminhei para lá, eu pensava que ela estava triste e que provavelmente a encontraria a chorar mas o que eu vi foi totalmente diferente.

A água do lavatório pingava uniformemente e ela estava paralisada a olhar para o espelho. Tentei mexe-la mas ela não se moveu,parecia que o reflexo consumia a sua alma. Não pensei duas vezes,dei um murro no espelho fazendo-o partir-se. Senti os cacos cortarem a minha pele,a dor reverberou na minha mão e o sangue começou a pingar mas a minha preocupação era outra. Quando eu virei-me para encara-la,ela caiu no chão ainda com os olhos abertos. Não... Não... Não.

Carreguei-a no colo e deitei-a na cama,mas ela não se mexia,não piscava,era como se ali só estivesse o seu corpo e não mais a alma. Senti a pulsação e vi que ela estava viva. Eu não sabia o que fazer,concentrei-me para tentar conectar-me a mente dela mas alguma coisa bloqueou impedindo-me de alcança-la.

Carreguei-a e saí de casa,coloquei-a dentro do carro no banco de trás e dirigi a toda velocidade enquanto observava-a  pelo retrovisor de segundo a segundo.

Estacionei no chalé esolado de Andrew,tirei a Sky do carro e corri para a entrada e antes que eu batesse na porta ela abriu-se. Andrew estava vestido como habitual e o seu semblante parecia cansado e triste.

-Andrew,por favor...-disse deitando-a na cama de um dos quartos.

-O que aconteceu?-disse ele sério e tranquilo como sempre enquanto examinava os olhos dela ainda abertos.

-Eu a encontrei olhando para o espelho e parti-o daí ela caiu e...-eu estava nervoso e não conseguia falar coisa com coisa,andava de um lado para o outro a procura das respostas para aquilo.

-Álex se acalme. Eu preciso perceber exatamente o que aconteceu.-disse-me enquanto caminhava para o armário e acendia diversos incensos.

-O reflexo.-falei lembrando de como ela olhava para ele.-ela parecia hipnotizada por ele.

-As doze almas do abismo.-ele falou pensativo.

-O que fazemos? Eu não posso perdê-la Andrew,faça alguma coisa por favor.-falei quebrando alguma coisa que estava na cómoda sem que me apercebesse.

-Antes que destruas a minha humilde residência eu o aconselho a sair.-falou ele sarcástico.

-Não é hora para piadas.-falei ácido.-Eu vou ficar aqui.

-Deixa-me fazer o meu trabalho. apanhar ar, partir mais mil espelhos ou se ferrar. Apenas saia daqui se quiser que eu salve a sua amada.-disse visivelmente cansado erguendo uma sobrancelha.
Decidi não lhe opor,saí pela porta e caminhei em direção a um lugar que a muito eu não visitava,um lugar que durante anos eu quis pertencer:o cemitério.

Os portões pesados e enferrujados de ferro davam o ar de entrada para o Inferno,mas eu sabia que estava bem longe disso,pois eu conhecia o verdadeiro Inferno que vivia dentro de mim,que ardia e me queimava com a dor da culpa e arrependimento. Todos esses anos movidos pelo ódio e mágoa,rancor e raiva,para nada,eu deixei morrer toda virtude que existia em mim e porquê? Porque eu queria justiça? De que valia essa justiça quando corrompia outra alma e manchava outras mãos. Burro,era isso que eu era e é isso que eu sempre fui.

Cheguei a campa dela e sentei-me a beira com a única flor que eu carregava em mãos. Um lírio branco,as suas preferidas.

-Mãe,eu trouxe isso para si.-coloquei a flor por cima da lápide e sorri para mim mesmo.

-Eu não sei quanto tempo passa,mas não existe dia que eu não me recorde da senhora.-continuei a falar para o ar.

-Durante este tempo todo eu sei que lhe dei desgosto.-fiz uma pausa e respirei fundo.-Mas dessa vez eu quero fazer a coisa certa. Mas como mãe? Como lutar contra Ele? Como?-perguntei para o nada.

-Se o plano der certo,em breve estaremos juntos e em paz.-disse baixo.

Senti o vento forte balançar a minha roupa e sussurrar segredos insurdecidos nos meus ouvidos. Lembrei do sorriso da minha mãe,vagas lembranças felizes apareceram na minha mente fazendo-me sentir uma falta que jamais seria preenchida. Olhei para o horizonte e vi o sol brilhar,respirei várias vezes tentando acalmar a tensão que se espalhava por todo meu corpo e rezei para os céus que a Sky melhorasse,ou estaria tudo perdido. Não só para ela,mas para mim também. Eu não ia suportar uma segunda perda,não queria sentir-me novamente impotente e covarde. Eu lutaria até ao fim para ajuda-la e morreria para salva-la,mas jamais,em hipótese alguma eu a perderia. Porque pior que a perda,é a culpa por não ter feito nada para impedir.

Levantei-me devagar depois de vários minutos e respirei fundo,eu estava mais calmo,confiava em Andrew,sabia que ele faria de tudo para ajuda-la. Pensei novamente na minha mãe, ela sempre me apoiava,protegia e me amava incondicionalmente. Porque a mãe da Sky não impediu que o acordo fosse feito? Que espécie de acordo foi feito?-pensei.
A minha mente vagava de uma hipótese a outra,mas nenhuma delas fazia sentido.

Eu queria que tudo acabasse bem,mas sabia que não seria possível pois o tempo contava a cada milésimo em ordem decrescente e fugia de nós. Tudo que eu queria era estar com a Sky,na cachoeira abraçados respirando paz e sossego mas nada disso era possível e eu sabia.

Frustrado decidi retornar a casa de Andrew,mas arrependi-me de ter saído de lá quando voltei e vi o que acontecia.

Onde Há Luz Há Sombra[COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora