Onde Há Luz Há Sombra[COMPLETO]

Cap.38-The time.

Skyle

A tontura foi ainda mais intensa a que alguma vez sentira. Quando finalmente abri os olhos eu estava ali,diante de uma porta enorme de madeira robusta,embora descascada era digna de admiração. O lugar era gelado,mas talvez não tão gelado quanto as minhas mãos de tanto nervosismo. Balord não estava mais lá e o medo não me permitia abrir aquela porta majestosa. Mas eu precisava ser forte,haviam vidas em jogo,e todas respostas estavam ali,eu não podia abdicar delas por um temor idiota,tudo o que já tinha passado deveria me fazer mais forte,mas não fazia.

Respirei fundo mais uma vez e aprumei-me pronta para qualquer coisa e as palavras de Balord ecoaram enquanto tocava nas maçanetas:"O seu desejo é o seu fim..." e sem pensar duas vezes abri a porta daquele Inferno.

O frio lá dentro fazia se sentir ainda mais,o ar estava seco e fazia-me ter dificuldades para respirar,havia uma névoa cinzenta que me impedia de ver claramente. Os meus pés pisavam firme o chão mas os meus joelhos ameaçavam fraquejar,caminhava devagar tentando encontrar o desconhecido.

Eu esperava encontrar um monstro,se calhar aquela força invisível que quase matou a Melyrin naquele beco escuro. Eu esperava encontrar tudo menos o que eu vi.

-Skyle minha filha.- a voz que tipicamente escutava dentro da minha cabeça fez-se ecoar,mas eu não sabia identificar se ela estava dentro ou fora dela. Tanto tempo de delírios mentais devia ter eliminado qualquer senso de percepção de realidade que ainda existia no meu cérebro.

Eu estava paralisada e não pude conter que as lágrimas caíssem. Nada daquilo fazia sentido,eu não podia acreditar,não era possível.
Ele era incrivelmente parecido comigo,ou eu devia ser parecida com ele. Ele era lindo,os traços adultos faziam-me parecer estar a olhar para espelho da maturidade. Ele não apresentava nenhum rasto de maldade,sombras e não tinha o ar demoníaco que eu sempre imaginei ter.

-Pai?-eu disse por entre lágrimas. Eu não conseguia mais me manter em pé. Caí de joelhos no chão e chorei por tudo,eu não tinha forças,até respirar me era difícil.
O homem a minha frente numa espécie de trono permanecia ali,com a sua capa preta e as típicas escadinhas que todo rei tem direito.

-Porquê? Eu.... Como? Eu.... preciso de respostas...eu não.-as frases estavam concebidas na mente mas não conseguiam ser transmitidas pela minha boca.
Ele lentamente levantou-se e desceu para perto de mim devagar,o semblante concentrado e sério.

-Você tem todas as respostas aí dentro.-falou enquanto me estendia a sua mão para me ajudar a levantar.
Demorei alguns segundos para aceitar a sua ajuda e quando finalmente toquei a sua mão fui atingida por um choque. A dor que eu senti perfurou cada poro e ardeu em cada pedaço de mim,a espiral no meu pulso queimou e as minhas órbitas tornaram-se escuras,eu senti a força e a raiva dentro de mim que queriam ser expelidas rapidamente,tudo pareceu aquecer ao meu redor e tudo que eu via era o total breu. Aos poucos eu não sentia mais nada,apenas aquela raiva,aquela força dentro de mim..

Eu tentei solta-lo,mas algo dentro de mim queria apertar a sua mão com ainda mais força,e foi isso que eu fiz.

***

Em três segundos fui teletransportada para um lugar diferente,demorei algum tempo para perceber onde estávamos,o cheiro fresco da erva molhada era bastante sensitivo e chovia lá fora. Eu estava no meu quarto de infância,os detalhes rosas e da Barbie tornavam o ambiente típico de uma criança de berço. A voz da minha mãe ecoou do outro lado da porta aos berros:"Deixe a menina. Ela é minha filha e não vou permitir que você seja o pai dela".
A porta se abriu e eu me assustei com medo que eles me vissem:"Mas eu sou o pai dela. E ela é como eu,não tem como fugir a isso."-disse o homem que pareceu não me vir,assim como minha mãe.

O homem agachou-se no chão e observou a pequena Skyle com ternura. Ele tinha as órbitas negras,mas era incrivelmente bonito e mesmo sem conseguir ver o brilho do seu olhar eu sabia que ele olhava para ela com ternura.

Eu estava paralisada naquele momento e a dor que me atingiu trouxe uma pontada forte no coração. A pequena Skyle observou o homem e continuou a focar-se em suas bonecas.

-Oi filha. E aí? O que você está fazendo?-disse o homem,tocando o rosto dela.

-Não toque na minha filha.-disse minha mãe puxando o braço dele e ele se levantou.

-Pare de agir assim. Ela é minha filha também e eu sei que tu me amas.-disse ele aos berros,enquanto minha mãe se afastava tentando manter uma certa distância entre eles. Ela saiu do quarto e ele a seguiu,assim como eu.

-Diz que não gostaria de ficar comigo e não com esse palerma do seu marido?- falou a segurando pelo braço. -Diz Lídia.

Os olhos dela estavam molhados e as lágrimas imploravam para cair de seus olhos. Aos poucos eles se encostavam e por um segundo as órbitas dele ficaram normais e pude observar os olhos azuis claro dele. Pareciam como de Álex quando olhava para mim,ele claramente a amava e ela o amava também. Os seus lábios estavam perto de se tocarem,quando ela finalmente falou:

-A vida é feita de escolhas,e nem sempre podemos escolher o que mais nos agrada,mas sim o certo.
Tu és o errado e eu não posso permitir que arrastes também a nossa filha para a sombra. Ela merece mais que isso.- disse rancorosa e os olhos deles tornaram-se negros novamente.

Ele se rebelou,bateu na parede deu voltas no corredor enquanto dizia:-Não. Ela é minha,minha filha. E quando ela fizer 18 anos eu venho buscá-la.

-Tu não vais fazer isso. Ou terás de matar-me primeiro.- disse a minha mãe enquanto o peitava.

-Mamãe. O que se passa?- a pequena Skyle apareceu,assustando os dois como a mim.

-Viu o que você fez. Vai embora agora.-disse ela agarrando a menina no colo.
O homem não respondeu,saiu porta fora deixando as duas lá.

A tontura me atingiu como um choque,agachei-me e fechei os olhos,senti que me movia e quando abri os olhos pude ver que estava de volta a sala de trono do meu pai. O frio se instalou em mim,ele largou a minha mão e caminhou de volta para o seu cadeirão deixando-me ali sentada no chão gelado,desnorteada.