Capítulo oito

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Os pecados de Ballindery


A viagem de Demétrius até a região de Welches levou um pouco mais de uma hora, Demétrius dirigiu pela rodovia tranquilamente, a paisagem típica do entorno da rodovia era um convite ao sossego. O estado do Oregon orgulha-se por ser um dos poucos estados que mantém a cultura do ecologicamente correto, para todos os lados que se olha, só se enxerga o verde, e mais verde e o colorido das flores.

A viagem durou um pouco mais de uma hora, a constatação da preservação do meio ambiente deu um gás ao ânimo de Demétrius. Ele não ousou acelerar o carro como de costume, percorreu o caminho calmamente, a natureza intocada da região era um deleite para os olhos acostumados a selva de pedra, por onde passava podia ver casas cercadas de jardins, muito bem cuidado, rosas de todas as cores, não era à toa que chamavam Portland de a capital das rosas. Uma cidade com uma característica peculiar, vibrante e cheia de vida. Os olhos já estavam acostumando com os pés de rododendros e azaléas, um pouco antes de chegar ao cruzamento que levava a mansão, Demétrius avistou uma enorme cascata, ela deveria ter mais de 30 metros. Ele parou o carro para ver o cenário lírico, pensou que se Charlie tivesse ali, com certeza iria parar para fotografar. Será que ela ainda continuava com este robe? Ele achava muito lindo o jeito que ela olhava para a natureza, ela tinha um dom natural para ver a beleza até mesmo em um lagarto comum que circulavam pelas ravinas. Mas aquele lugar era de fato muito deslumbrante.

Um lugar com personalidade própria, a música fluía no interior do carro criando uma atmosfera de pura liberdade, ao som de Wish You Were Here de Pink Floyd Demétrius desatava o nó da garganta que se encontrava desde a tragédia de Aleska. A letra da música dizia muito sobre sua tragédia pessoal... "Como eu queria que você estivesse por aqui... nós somos duas almas perdidas nadando em um aquário... o que nós encontramos? Nada além dos nossos velhos medos... como eu queria que você estivesse aqui..." Ele não amava, mas sentiu uma dor dilacerante em perdê-la da forma como perdeu. E o remorso ainda corroía-lhe a alma, afinal a noite de amor que tivera, não fora realmente com ela. E a constatação das últimas palavras nos braços dela era como um açoite, ele não podia mudar o passado e tão pouco poderia transformar aquelas lembranças em algo bom, afinal estava com a mulher que dizia que estava grávida de um filho seu, e no auge do prazer o nome que sai de lábios era o nome do seu verdadeiro amor. "Uma lástima" - pensou consigo mesmo.

Demétrius saiu da estrada principal e seguiu vagarosamente pela estrada de terra batida ladeada por imensos carvalhos e faias, rodou ainda uns três quilômetros até que parou diante de um imenso portão de ferro com uma placa dizendo Mansão Mildred Bell, apertou o interfone e se identificou. Imediatamente as grandes grades de ferro abriram e ele deslocou por uma estrada estreita cheia de vegetação típica da região, o cheiro de mato molhado se destacava naquela manhã, pequenos roedores cruzavam o caminho, mais uma curva e ele visualizou a imensa propriedade , a mansão era sem dúvida um grande monumento vitoriano, lembrava os palácios ingleses do século XVIII, que abusavam da assimetria e dos detalhes com colunas torneadas e balaústres, ele viu com imensa curiosidade o número de vidraças na faixada da imensa casa, o entorno da mansão havia um imenso jardim e ao norte da construção um campo de golfe, avistou também uma quadra, e talvez , não tinha certeza uma piscina. Pelo horário que chegara, com certeza encontraria o pai em alguma atividade.

Diante da imensa propriedade, olhou o estacionamento e escolheu o melhor lugar para parar seu veículo. Então seu coração acelerou, quantos anos não via o pai? Uns cinco anos. Desde que se posicionara como um democrata, a relação entre eles ficou muito difícil. O que fez o velho Ballinderry tomar a decisão de vir morar em uma casa de repouso.

AO TOQUE DE UM OLHAROnde histórias criam vida. Descubra agora