Prológo

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Quando cheguei a Great Falls em Montana, tinha apenas dez anos, não sabia da existência desta cidade e tão pouco conhecia a história de meu pai, muito menos imaginava que poderia existir em algum lugar do meu passado a existência de um pai. O pai que nunca conheci e que falecera muito antes de minha mãe supor que estava grávida. Chegamos à pequena cidade para ficarmos apenas um mês, mas um mês se tornou um ano e um ano se tornou dez e quando percebemos já estávamos mais do que enraizados na pequena Great Falls. Muitas coisas na minha vida mudaram depois que viemos viver com meu avô. Antes disso, minha mãe e eu vivíamos mudando de um lado para o outro, sem-muita parada. Infelizmente, ela tinha o dedo podre para a escolha de seus parceiros. Todos, dos quais me lembro, eram sempre violentos e beberrões. Ela vivia com os olhos e os lábios inchados devido aos maus tratos que recebia de seus parceiros. Isso perdurou por toda minha infância até que um belo dia, depois de brigar violentamente com seu parceiro número seis ou sete, ela decidiu fugir, saímos apenas com a roupa do corpo e as economias que ela conseguiu guardar para alguma emergência, como essa. Então, viajamos por uns cinco dias cortando o estado; em algum momento da viagem chegamos a dormir no relento como também alimentávamos apenas nas paradas que encontrávamos pelo caminho. Por incrível que apareça não me encontrava triste, estava aliviada, minha mãe havia tomado uma atitude, finalmente estava cumprindo com a palavra dada a mim tantas vezes. Ao fugirmos descobri um novo sentimento brotar em meu coração, descobri que podia ter esperanças.

Antes de chegarmos ao rancho de meu avô em 1983, morávamos em um pequeno trailer, onde tinha uma divisória de compensado que separava minha pequena cama de minha mãe. Tínhamos um pequeno banheiro que consistia em um vaso sanitário e um chuveiro, não existia um lavatório para lavarmos o rosto e escovar os dentes. Isto? Bem, fazíamos, isto do lado de fora do trailer, no mesmo lugar onde minha mãe lavava a roupa e as panelas. Pensar nisso é deprimente, mas para mim era uma situação normal, minha infância foi em meio a total pobreza. A nossa sala e a nossa cozinha eram o mesmo ambiente; digo isso, porque tínhamos uma pequena mesa que ficava embaixo da janela, a televisão ficava em uma prateleira acima da janela do lado da mesa; em frente à mesa se encontrava o pequeno fogão de duas bocas, além dos poucos talheres e vasilhas, haviam quatro bancos que ficavam em torno da mesa vermelha. Eu odiava a cor daquele trailer, por fora era todo encardido, por causa da ferrugem e por dentro, além da cor vermelha, tinha um revestimento de parede que imitava madeira. No verão, quase morríamos de calor e no inverno, bem, nem preciso dizer, você pode imaginar o quanto era gelado. O aquecedor vivia quebrado, contávamos com as fogueiras externas que Billy fazia para assar seus pedaços desprezíveis de carne. Mas era minha casa, morava ali com minha mãe e de alguma maneira ela queria que aquele lugar fosse legal e habitável.

Uma das desvantagens de se morar em uma cidade pequena é justamente não ter onde trabalhar, pois as opções são.... Como posso dizer.... Precárias? Hum! .... Insuportáveis, seria um termo mais adequado para caracterizar o serviço de uma garçonete, auxiliar de cozinha ou mesmo auxiliar de agentes de coleta seletiva; salvo aqueles que resolvem terminar o secundário para se casarem ou nem terminarem, como aconteceu com minha mãe. Ela trabalhava como estoquista em um empório agrícola, o dinheiro não era muito, mas dava para sobrevivermos. Enquanto viajávamos, para passar o tempo, ela me relatava algumas coisas sobre a história de amor que teve com meu pai. E para vocês compreenderem a minha vida terei que lhes contar um pouco do que ela me contou...

Ela se casou com meu pai aos dezesseis anos, ele era, três anos mais velho que ela. Conheceram-se na infância, a paixão nasceu mutuamente. Ela me contou entre lágrimas que adorava os domingos, pois era o momento de vê-lo na igreja, ela fazia parte do coral, e do altar ficava olhando para ele. O menino de cabelos vermelhos e o rosto cor de ferrugem. Os olhos pareciam duas grandes esmeraldas de tão verdes que eram, ela ficava hipnotizada cada vez que ele a olhava. Essas características peculiares dele foram passadas para mim; filho de um rancheiro, criador de cavalos, morava em uma grande propriedade, embora, fosse uma família abastada da pequena cidade, eles não eram arrogantes e muito menos orgulhosos, tratavam a todos com muito carinho e respeito.

AO TOQUE DE UM OLHAROnde histórias criam vida. Descubra agora