Capítulo um

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Demétrius e Aleska

Já passava da meia-noite, quando Demétrius saiu do pequeno pub da rua quase escura de Glen Park em San Francisco, seus pensamentos escorregavam pelas curvas sensuais de Aleska; não gostava de pensar nela, mas naquela noite chuvosa, era a única coisa que lhe perturbava a alma, mas para sua frustração nada disso havia acontecido, então depois de algumas doses de uísque decidiu ir embora. Desceu o quarteirão da rua do pub às pressas, neste momento um arrependimento lhe ocorreu à mente, estava sem seu veículo. Era assim, todas às vezes que ia se encontrar com Aleska, caminhando há mais de dez minutos na avenida deserta, eis que a sorte lhe enviou um táxi. Ele deu o sinal para parar; ao abrir a porta sentiu a temperatura morna do interior do veículo, entrou apressadamente. Após um segundo de silêncio disse ao motorista:

Westwood Park, rua Eastwood, 5210. Por favor. - Demétrius falou com seu timbre baixo e firme. O motorista olhou pelo retrovisor e observou o homem que estava sentado na poltrona de atrás.

— Ok.

O carro começou a trafegar pelo bulevar Montrey em questão de minutos, logo estaria em sua casa para tomar um banho e dormir e deixar de vez Aleska para trás e dar um novo sentido para sua vida. Desde que chegara a San Francisco, Demétrius se entregara ao trabalho por inteiro, até se deparar com Aleska, em um dos corredores da corte superior do município de San Francisco, estava cuidando de um caso complexo de estupro quando a viu passar igual uma brisa suave em uma manhã de outono, foi atração instantânea, ela olhou para ele e sorriu. Seu coração aqueceu, e pela primeira vez desde que saíra de Montana, se viu atraído por uma mulher do mesmo naipe de Charlie, internamente se questionou se não fosse o excesso de trabalho que o estava perturbando ou quem sabe o velho remorso batendo em sua consciência novamente, mas vislumbrar aquela mulher vestida em um tailleur preto com uma camisa branca colada ao corpo foi realmente a melhor coisa que lhe aconteceu em anos depois de Charlie Robson.

Quando o taxi o deixou em frente à sua casa, ele caminhou cabisbaixo até o portão, procurando a chave no bolso do sobretudo, ele percebeu que estava tenso e mal humorado, por causa do bolo que Aleska lhe deu, pensou em arrumar uma companhia qualquer, mas um homem na posição dele não podia se dar ao luxo de se misturar aos homens normais, afinal, era um promotor público que estava em vias de ser indicado para a procuradoria, a política e a pressão que vinha sofrendo nos últimos meses o estava deixando com os nervos à flor da pele, afinal não era muito comum um jovem homem ser indicado tão precocemente a uma cadeira da magnitude que era ser um procurador estadual.

Desde sua indicação ao cargo de promotor na Divisão Criminal do Departamento de Justiça da Califórnia, não pensava tanto em sua carreira como agora, em pouco tempo de serviço na divisão seu nome passou a ser respeitado como nenhum outro, com inúmeras investigações apuradas e inúmeros processos ganhos o fizeram despontar na Associação dos Magistrados da Califórnia, então em meio a essa corrida frenética de trabalho surgiu Aleska, uma mulher forte e muito sensual, que circulava em meio a todos, desde o mais pobre dos réus aos grandes magnatas de San Francisco.

O sexo entre Demétrius e Aleska era selvagem e sem-qualquer sentimento ou pudor. Uma válvula de escape para os dois, não havia compromisso, nem de jantares e muito menos flores. Era apenas sexo por sexo, uma troca favorável e secreta entre uma jovem advogada e um promotor da Divisão Criminal. Ela era estonteante, com quase um metro e vinte de pernas, sem esforço nenhum conseguia mexer com a libido de qualquer pessoa que a olhasse, cabelos castanhos claros, tez morena e olhos de um verde oceano incrivelmente claros. Ela fazia mais o gênero "femme fatale" do que uma mulher séria do meio jurídico; era impossível não ceder aos caprichos profanos daquela mente quase perversa na intimidade, e desde que os dois começaram a se encontrar secretamente, a selvageria e a obscenidade de seus encontros só aumentavam a cada dia; era difícil de acreditar que duas pessoas centradas como os dois, fossem tão insanos em matéria de sexo. Mas agora, depois de tanto tempo, ele sentia um gosto amargo em sua boca, o relacionamento deles já estava cansando-o, os encontros furtivos, as viagens e as madrugadas já estavam perdendo a graça, e de repente em uma tarde, depois de uma audiência lhe ocorreu que Aleska estava apenas usando do prestigio dele para se promover; uma situação perturbadora que estava ganhando uma proporção muito maior que o trabalho que havia realizado até o presente momento.

AO TOQUE DE UM OLHAROnde histórias criam vida. Descubra agora