Bar

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–Com um rostinho desses e a essa hora, o que um nenem como você faz numa pocilga dessas?
–Não preciso dar satisfações da minha vida para ninguém, ainda mais para uma bêbada como você.
–Oras menina, estou sóbria e só achei estranho uma garota tão arrumadinha estar num bar como esses, nesse fim de mundo.
–Por que? Não posso sair de madrugada e encher a cara?
–Poder até pode... Mas aqui não servem Martini para afogar mágoas de princesinhas.
–Olha aqui! Você não me conhece! Não tem o direito de falar assim dos meus problemas, que você nem sabe quais são!!!
–Ah princesa, o que foi? Me conta vai. Brigou com seu namoradinho rico?
Seu papai tomou seu carro porque suas notas da faculdade caíram por causa do namorado?
–E se for? Não é da sua conta!!!
–Não se estresse princesa, vamos conversar.
Você está vendo aquela mulher ali, com um rosto amassado e sofredor, que nem toda maquiagem do mundo poderiam disfarçar as noites sem dormir? Ela trabalha sete dias por semana para sustentar quatro crianças que ela cuida sozinha e ainda tem que encarar um marido que só aparece uma vez por mês para pedir dinheiro.
–E daí? Cada um com seus problemas certo?
–De certa forma sim. Está vendo aquela outra mulher ali, com roupas coladas e insinuantes? O que me diz dela? O que você pensa?
–Que ela é uma prostituta. Papai sempre me disse que se eu não estudasse poderia acabar assim.
–Você acertou, ela é uma prostituta. Quando tinha quinze anos, o ano que você estava vestida de rainha em uma festa, foi estuprada por um tio e sua família ficou contra ela, foi expulsa de casa e como não teve apoio de ninguém acabou indo parar nas ruas e vendendo o corpo para sobreviver. Sabe o sonho dela era ser médica.
–Eu nem sei o que dizer e...
–E vê aquele rapaz ali?
–Tem uma história triste também?
–Sim. Seu pai morreu e agora se mata de trabalhar para sustentar sua família.
–Nossa! Todos aqui são assim? Bebendo para esquecer suas vidas tristes?
–Sim menina. Por isso estranhei quando vi você, vestida desse jeito, num lugar como esses, achei que a princesa se perdera de sua limousine.
–Não eu...
–Seu celular está tocando.
–É verdade. Vou atender rápido.
–Ok. Não vou nem comentar sobre o valor que deve ter sido isso aí.
(...)
–Era o meu namorado, ele quer conversar.
–Imaginei.
–Foi bom falar com você, mas agora estou indo.
–Caso esse seu namorado babaca aprontar de novo, esse aqui é meu telefone princesa, também estou indo.
–Ei espere, você não me disse qual o problema que a faz beber aqui.
–É só me ligar. Tchau.

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