O Dia da mudança

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*3 meses depois*

Aqui os dias são todos iguais é sempre a mesma rotina, é tudo igual, a única coisa que muda é as pessoas. Todas as semanas chegam pessoas novas aqui e vão se embora outras tantas. Nós não nos podemos mesmo apegar a ninguém aqui. John continua a observar-me à distância, já tentei muitas vezes falar com ele mas ele ignora-me sempre.

Acabei de acordar agora, com o som das botas pesadas de John, toco-lhe ao de leve na mão e suspiro-lhe:

"Por favor fala comigo."
"Não tenho nada para te dizer."
"Desculpa eu sei que fui horrível, também sei que mesmo que quisesses não me podias tirar daqui."
"Então... Entendes que não posso?"
"Entendo."

Ele baixou-se perto da cama e me beija a testa. Passa com a mão pelo meu cabelo e sorri. Levanta-se rapidamente e começa a gritar.

"Levantem-se seu impuros."

Olha uma ultima vez para mim e sai. Fico mais um pouco deitada a pensar nos macios lábios dele na minha testa, como queria sentir mais vezes aqueles lábios.

A minha mãe chama-me afastando-me dos meus pensamentos. Visto-me e faço a cama, saio e vou ter ao refeitório onde já estão os meus pais, como rapidamente e vou com eles fazer a fila.

Já agora, a fila era onde todas as pessoas ou famílias se juntavam para saber quem iria sair daqui. As pessoas costumam ficar 2 semanas aqui, eu e a minha família estamos aqui há 3 meses. Se calhar esqueceram-se de nós, o que até é bom pois não sei para onde eles nos levam, mas para casa não vai ser.

Um soldado da SS começa a gritar o nome das famílias.

" konig! "

Oh não! Não pode ser... Deve haver algum engano... Esta é a minha família. Olho para os meus pais que estão cada um ao meu lado, a expressão deles mostra tristeza e medo. Olho para John e vejo a cara de pânico dele. Parece que ele não sabia que era o meu dia.

"Peguem nos vossos pertences e vão para perto do portão principal, não adianta tentar fugir." grita o soldado.

Vou com a minha mãe para o nosso barracão e ponho as minhas roupas dentro da mala. Ao longe vejo John com uma mala de viagem na mao. Será que ele também vai?
Estava a ir até lá quando sinto uma mão no meu ombro, viro-me e vejo a mão do meu pai.

"Onde estavas a ir?"
"A lado nenhum pai." digo olhando para baixo.
"Não me estás a mentir pois não? "
"Não, claro que não. "
"Então vamos, o comboio está à nossa espera."

Fomos em direção ao portão ainda fechado e com os soldados do lado de fora acompanhados pelos seus cães raivosos.
Ao longe vimos o comboio e entramos dentro dele. Era um comboio normal. Tinha 2 carruagens onde eu, a minha família e as outras pessoas que estavam no campo estrela iam. Os outros iam em vagões de gado que não deviam ter muitas condições. O comboio que nos levava estava imerso num silêncio que gritava mais do que qualquer som. Todos tinham medo de falar, e se falavam era muito pouco. Nós estávamos a ser levados para a propria Alemanha, por isso a nossa viagem levou dias. Nesse tempo nunca recebemos comida. tínhamos chegado ao nosso destino, de uma forma quase automática pegamos nas nossas coisas que agora eram poucas. Desta vez não tinhamos parado dentro do campo mas sim fora onde estava inúmeros soldados da SS com os seus cães pastores alemães, só a forma como os cães ladravam e olhavam para nós metia medo e eu nunca tive medo de cães. Entre insultos a SS gritava para formarmos uma fila. Rapidamente nos colocamos em fila como nos mandaram e olhamos para baixo com medo do que o mínimo contato visual pode se causar. Caminhamos por mais de 30 minutos, não importava se não comiamos há dias, não podiamos parar. Finalmente chegamos ao nosso destino, destino que eu preferia que não fosse o meu. O nosso destino era o campo de extermínio Bergen-Belsen. Este campo é formado por outros diversos campos separados por arame farpado. Era realmente enorme.

Qual deste será o nosso lugar?

Observo aquelas torres de vigilâncias e os soldados das SS com as suas armas.
John está ao meu lado o seu rosto mostra nojo. A minha vontade era de tocar na sua mão, mas se o fizesse de certeza que ia sofrer então simplesmente continuei o meu caminho de cabeça baixa. As vezes olhava para ele mas a sua expressão era a mesma. Estava com muito medo. Fomos levados para tomar banho em chuveiros gelados. Nunca tive tanta vergonha na minha vida, os banhos eram comuns, quem dizer que estavam lá homens e mulheres.
Depois levaram nos para perto de uma mesa, era uma mesa de registo onde tínhamos de dizer o nosso nome e o cargo social, como o meu pai antes de sermos levados era diretor de um banco eles meteram-nos no campo estrela onde só ficava as pessoas e famílias com cargos sociais elevados. Desse campo as condições eram melhores, não tínhamos que rapar o cabelo e podiamos ficar com a nossa roupa.

Agora a SS não andava dentro do campo mas sim fora. Havia soldados mesmo fora do campo e entre os subcampos digamos. Para minha sorte John ficou no meu subcampo já não podiamos falar agora mas pelo menos podia vê lo.

Arrumei as minhas coisas no barracão e fui para a rua. Estava com medo, muito medo.
Vi John perto de rede e fui ter com ele, sentei me perto na rede.

"Alice, estás bem? "
"Sim senhor estou com um pouco de medo. "
" Não tenhas não vou deixar que ninguém te faça mal. " eu olhei para ele. " Eu prometo" sorri para ele e ele deu me um pequeno sorriso."Tens fome? "
" Um pouco senhor."
"Desculpa tenho este pecadinho de pão. Toma. "
"Obrigada senhor. "
"De nada"
"Ei! Tu ... Sua impura afasta-te daqui"grita um soldado.

Com medo me levantei depressa e fugi entrei dentro do meu barracão e encontrei lá a minha mãe sentada na sua cama. Me sento na minha e começo a comer um pouco de pão, a minha mãe vem ter comigo e pergunta:

" Onde arranjaste isso? " Não lhe podia dizer que tinha sido John.
"Encontrei no chão e estou com tanta fome que apanhei. "
"Todo bem querida eu entendo que tenhas fome." vi na cara da minha mãe que ela também estava.
"Queres um pouco?"
"Obrigada querida mas come tu. " disse ela passando com a mão pelo meu cabelo ruivo.
"Podes ficar com este bocado não quero mais. "
"Obrigada. Vou partilhar com o teu pai. "
"Eu vou ficar por aqui deitada. " disse e minha mãe beijou me a testa.

Acabei adormecendo.

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⏰ Última atualização: Aug 29, 2019 ⏰

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