Estou agora em minha cadeira, esperando um daqueles umbráticos seres chegar, apenas uma vela queima sobre minha escrivaninha, deixando uma luz bruxelante, sendo capaz de iluminar as folhas de papel e uma velha caneta tinteiro. Meu nome... não interessa, pois estas histórias não são minhas, pode me chamar de você se quiser.
A forma como esse seres entraram em minha vida, foi sutil, porém aterradora. Lembro-me até hoje das noites mal dormidas, inundadas com aquelas delirantes visões, gritos de desespero e litros de suor frio, capazes de deixar minha roupa de cama encharcada, com aquelas vozes aterradoras me chamando, gritando meu nome e pedindo para que as ajudassem a se libertar daquilo.
Certa vez, em um momento de descontração na sala de minha casa, tomando meu bourbon whisk de qualidade duvidosa, a chama da lamparina começou a perder força, de forma gradativa, porém acelerada, toda sala começou a escurecem a ponto de partes do cômodo se tornarem vórtices negros e apenas a mesa de centro ser a única coisa a vista de meus olhos, em tons alaranjados e tremulantes, o resto era tudo escuridão. Tentei ajustar o gás par que ela ficasse mais forte, mas de nada adiantou, aquele bico assoviava alto, indicando que o gás estava a todo vapor saindo de sua pequena botija, mas ainda sim a luz era fraca e dançava num ritmo descompassado e macabro. Senti no ar um cheiro forte de fósforo queimado que logo após foi substituído pelo cheiro de tabaco se queimando, quando me virei, vi sentado na poltrona de frente a minha uma silhueta de um homem, aparentemente com vestes sociais, e usava um chapéu desses de estilo mafioso, não soube distinguir a cor de seu terno, mas era daqueles que deixavam seu ombro ainda maior e seu sapato refletia levemente a luz que recebia da lamparina e uma rubra incandescente e pequena se salientava em seu rosto, fumava um cachimbo simples, iguais aos que meu pai e meu avô usaram em vida. Ao lado dele, um ser de contorno humano, mas todo negro e com uma fumaça de mesma cor a exalar dele, sem olhos, sem boca, um verdadeiro borrão humanoide e umbrático.
Senti meu coração parar na garganta, são sabia quem eram eles e muito menos por onde entraram, mas eles estavam ali, diante de mim, perguntei quem eram e o que queriam, mas nada responderam apenas ficaram ali, me encarando através das sombras, gritei por respostas e a única coisa que fizeram foi deixar folhas de papel e esta caneta tinteiro que uso para citar a vocês o que estas mentes doentes me sussurram nos ouvidos.
Quando pensei em questiona-los mais uma vez sobre quem eram e de onde vinham, eles sumiram e a sala se tornou clara de novo, aquela luz intensa fez meus olhos arderem um pouco até se acostumar com o clarão. Achei que tinha bebido demais e já estava delirando, afirmando que realmente era duvidosa a origem daquele destilado, decidi ir para meus aposentos e me retirar, mas dormir em paz foi a ultima coisa que fiz.
Naquela mesma noite fui assombrado por pensamentos, visões, gritos e choros, que me fizeram acordar num movimento brusco. Em minha escrivaninha uma vela estava acesa e aqueles mesmos papéis e a maldita caneta estavam lá, em cada lado de mesa, os mesmos visitantes que outrora estavam e minha sala. Sentia o olhar deles penetrarem em minha alma, mesmo não vendo seus olhos. Senti um gélido arrepio subir pela minha espinha e entendi naquele momento o que eles queriam... Queriam que eu fosse a ferramenta deles, que através das minhas mãos e de tinta, suas palavras fossem transcritas para estes pedaços de papel. E a partir daqui... lhes contarei o que eles me contam, então sentem-se e acomodem-se confortavelmente, pois muitas cartas serão lidas a partir de agora.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cartas da Hora Morta - Psicografias de uma alma atormentada
HorrorEste é o diário de um escritor, cujo nome não tem tanta relevância, mas que foi ferramenta de dois espíritos sofredores e penosos, levando-o a loucura e a beira da insanidade. Noite após noite, em plena hora morta, um deles aparecia e deixava seu te...