Bring Me To Life

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Luz. Trevas. Morte. São as únicas palavras que vêm à minha mente. Será que subi para o céu ou desci direto ao inferno?

De repente, meus cinco sentidos se despertam... Consigo escutar o barulho ao meu redor: sons de pessoas falando em uma linguagem difícil de ser decifrada; são tantas vozes, equipamentos e prantos. Me sinto desconfortável, em um ambiente desconhecido por mim. Meus dedos se movem em pequenos espasmos até que eu possa controlá-los. Inspiro o máximo de ar que eu posso. Um ar ilusoriamente puro, carregado, um ar denso. Faço um pouco de esforço e engulo o seco que desce amargando em minha garganta e finalmente tomo coragem para abrir os olhos. Tudo é embaçado até que minha visão se firma. Olho ao redor e minha cabeça lateja no ritmo da máquina ao meu lado. Meus batimentos são constantes enunciados por ela com seu pi..pi..pi e as linhas verdes que sobem e descem, mas nunca somem. 

Estou perdida. É como se eu flutuasse em um vasto labirinto que começava a me enlouquecer.

Meus olhos param em uma mulher de branco que vem sorridente em minha direção parando ao meu lado e me analisa.

— Olá. Ainda bem que você acordou. Sou sua enfermeira, meu nome é Elisabeth. Você sabe qual é o seu?

Penso... Claro que eu sei o meu nome. O que me preocupa é o por que de ter a possibilidade de eu não saber.

— Katherine Kristen Johansson. - falo para que ela não tenha dúvidas.

— Só um minuto. Vou chamar o médico para te dar o diagnóstico. - sorri amigável e sai.

Dez minutos depois ela volta com o médico a acompanhando. Como Elisabeth, ele sorri e toca minha mão. Logo recuo. Não gosto desse olhar, parece que de alguma forma é acalentador e reconfortante. Pessoas geralmente te olham assim quando algo trágico aconteceu e vão começar a contar. Sabendo disso, me preparo para o pior.

— Você ficou sete meses em coma. Você sofreu um terrível acidente e infelizmente... - ele faz aquela pausa dramática para tornar tudo mais assustador - seus pais faleceram. Você foi a única sobrevivente. Quando chegou aqui tivemos que fazer uma cirurgia de imediato, pois você estava perdendo muito sangue e....

A voz dele some e flashes do acidente passam aos meus olhos, como as folhas das árvores que caem em pleno outono e as flores que desabrocham na ponta dos galhos, antes desnudos. Como se eu pudesse sentir minha agonia naquele mesmo dia, naquela mesma hora. A pior hora a qual eu já passei em minha vida, mesmo em pouco tempo.

— Senhorita Johansson? - alguém me salva da melancolia.

— Sim?

Por incrível que pareça, não sinto vontade de chorar. Não vem. Mesmo que eu queira. Acho que aquelas lágrimas que eu contive no carro ficaram presas e não consigo encontrar a chave certa para libertá-las.

— Daqui a uma semana, seu tio Robert virá te buscar. Pelo seu ótimo estado, irá ganhar alta rápido. - ele diz e sai do quarto.

Sem nada para fazer ou pensar, fito o teto com cor de marfim. Imagino cores vivas colorindo-o deixando aquele tom mais convidativo para os olhos de qualquer pessoa. Mas... Quem irá querer vir ao hospital para apreciar uma "arte"?

                   *               *               *

Limpo o espelho que havia se embaçado por causa do vapor que saía da água quente do chuveiro. Me olho no espelho observando as sequelas do acidente. Não eram muitas, porque as piores ninguém poderia ver. Elas estavam dentro de mim, na minha cabeça. Penteio meu cabelo, que estava bem comprido pelo longo período sem corte, mas estava fosco e sem vida.

Take Me Away - The LiarOnde histórias criam vida. Descubra agora