DOIS

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Emilie olhava fixamente para a chama da vela que parecia dançar em sincronia com a sua respiração. O silêncio voltou a dominar o chalé, pois os demais membros do coven formaram um circulo de proteção ao redor dela e do Alex.

A garota fechou os olhos.

Por um segundo, tudo se transformou em escuridão, mas logo em seguida, a luz da vela voltou a brilhar. Emilie pensou que tivesse perdido a concentração e aberto os olhos, porém percebeu que não estava mais dentro do chalé e, sim, em uma caverna escura e úmida. Segurava um pequeno candelabro, a vela insistia em manter-se acessa, mesmo com toda a umidade do ar. Errara em achar que conseguiria fazer alguma coisa, que teria a sabedoria e poder suficiente. Como fui tola, pensou.

Estava sozinha; perdida em seu próprio subconsciente. Não sabia para onde ir ou o que fazer. O barulho de água escorrendo era constante e causava-lhe arrepios. Tentou manter a concentração, pois todos esperavam muito dela e, não poderia vacilar em seu primeiro ritual sozinha. Buscava na mente algo significativo, ao menos uma pista do que passara nos últimos dias. Conforme caminhava mais adentro da caverna, ia se sentido mais confiante, uma onda de poder percorria por cada pedacinho do seu corpo. As informações chegavam ao cérebro como uma enxurrada violenta.

Siga reto.

Vire á esquerda.

Mantenha-se concentrada.

Continue caminhando.

Você está chegando.

Ela podia ouvir as vozes sussurrando dentro da cabeça. Vozes que não pertenciam á ninguém. Simplesmente não conseguia questionar o que homens, mulheres e até mesmo crianças falavam.

Mantenha a vela acessa enquanto quiser permanecer aqui. E quando quiser voltar, apague-a, pois ela a levara de volta para plano terreno — sussurrou a voz de uma mulher.

Emilie reconhecera a voz imediatamente.

— Mamãe! — exclamou a garota, procurando de onde vinha a voz.

Apenas siga o seu coração e você começará a compreender tudo — disse a voz. — Siga o caminho dos...

Quando deu por si, Emilie já estava em um bosque completamente iluminado pela luz do sol e a voz da mãe era apenas ecos perdidos na escuridão.

Ela queria voltar para a caverna para poder ouvir novamente a mãe, mas sabia que precisava manter o foco; pelo coven.

O bosque era completamente vivo, parecia haver vida em cada folha ou pedra. Ao lado esquerdo tinha uma cachoeira tão alta que, era impossível ver onde começava a queda d'água. Continuou caminhando sem um rumo ao certo. Seguia o coração, como a mãe dissera para fazer, mas seguia exatamente para onde? No meio do bosque verdejante, notou algo estranho, algo que parecia não se encaixar no cenário de contos de fadas. Uma árvore completamente negra surgia no meio de dois pinheiros verdes. Não reconhecia que tipo de árvore era aquela, mas sabia que nunca a vira em nenhum livro. Tentou se aproximar, mas um forte vento soprou e junto com ele um barulho incrivelmente alto começou a soar: era o som de corvos gralhando. Milhares e milhares de corvos gralhavam e começavam a alçar vôo, foi quando percebeu que a árvore negra tratava-se de um poleiro para as aves que pareciam vorazes.

Emilie manteve-se imóvel.

Os corvos voaram em sentido ao contrário o da Emilie, liberando a visão para uma estrada vazia que seguia em linha reta até o perder da vista.

Os Filhos da Cidade #2: O Caminho dos CorvosOnde histórias criam vida. Descubra agora