Mercedes estava sentada na varanda da velha casa Grace. Bebericava um liquido viscoso em uma xícara branca de porcelana chinesa, sabia que tal objeto tinha um valor inestimável e que já estava na família Grace há muito tempo. A mulher mantinha-se focada em algo; fitava o vazio como se fosse a coisa mais interessante de todo o mundo. Julia, sua filha, estava sentada aos seus pés. Desenhava freneticamente no seu caderno, às vezes a garotinha parava e fitava o vazio, como a mãe fazia.
— Terminou? — perguntou Mercedes, secamente.
A menina apenas assentiu com a cabeça.
— Você tem certeza disso?
Julia esticou a mãe e entregou-lhe a folha desenhada.
Mercedes analisou cuidadosamente a arte que a filha fizera. Uma floresta rabiscada em longos e pesados traços pretos, no meio da folha uma estrada fora desenhada, também era possível identificar a figura de um pequenino corvo onde parecia terminar a estrada.
Julia arrancou outra folha do seu caderno e também a entregou à Mercedes.
— Que horas você desenhou isto?
— Hoje mais cedo — respondeu-lhe, a voz infantil quase inaudível.
— Seus poderes estão ficando mais forte — disse Mercedes. — Acho que esta cidade está nos fazendo muito bem, minha pequena.
A mulher analisou o segundo desenho; era uma cabana no meio de duas árvores. Ela sorriu satisfeita ao reconhecer o local.
— Pegue as suas coisas, querida, pois vamos fazer um pequeno passeio.
***
Emilie estava sentada em um tronco de árvore derrubado atrás da velha cabana, ainda paralisada de medo, ou talvez de êxtase. Depois que acordara do último apagão, Alex lhe contara tudo que aconteceu. Ela só queria passar um tempo sozinha, pois precisava absorver todas as novas informações. Era estranho saber que havia um poder adormecido dentro dela e que, aos pouco, estava despertando. Os demais membros do coven estavam acostumados com a magia, pois crescera no meio dela, mas com ela era diferente, era tudo novo. Ouviu passos se aproximando e, instintivamente, olhou de soslaio para a escuridão atrás dela. Respirou um pouco aliviada ao ver Eva se aproximando.
— Eu vim em paz, terráqueo! — ironizou Eva. — Posso me sentar? — perguntou, mas antes de ouvir a resposta já estava acomodando no tronco úmido.
Surpresa, Emilie apenas assentiu com a cabeça.
— Sabe, eu nunca tinha visto uma manifestação de poder tão forte... foi assustador — disse Eva.
— Eu ainda não consegui entender o que realmente aconteceu lá dentro— ponderou Emilie. — Não era eu.
Eva balançou a cabeça em negativo e disse:
— Olha, não sou uma biblioteca ambulante como o Thomas ou a Olivia, mas... — Eva pausou para analisar a expressão de Emilie. — eu acho que sei o que aconteceu.
— Continue.
— Realmente não era você — disse Eva.
Emilie arregalou os olhos.
— Quando você fez o feitiço para acessar suas memórias, foi como abrir um portal para o outro lado e, o seu corpo, era a porta.
— Você está dizendo que...
— Por alguns segundo Atária teve acesso ao nosso mundo. O meu medo é que ela tenha se libertado. E se isso tiver acontecido, ela precisará de um receptáculo: sangue do seu sangue.
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Os Filhos da Cidade #2: O Caminho dos Corvos
Viễn tưởngOs Filhos da Cidade: Livro Dois - O Caminho dos Corvos Emilie se descobre uma bruxa e, finalmente, consegue ser iniciada. O coven fica alarmado quando um antigo membro ressurge dos mortos trazendo consequências para todos. Emilie está cada vez mais...