Capítulo 3

66 10 2
                                    


Assim que abro a porta vejo Jared do outro lado da rua observando a janela de Charlotte.

– Ela não vai hoje?

Jared se vira e coça a cabeça.

– Mamãe acha melhor ela fica em casa hoje. Meu pai está saindo daqui a pouco quer uma carona?

– Que tal irmos andando?

Ele assenti, e se junta a mim no meu lado da rua.

– Charlotte é tudo para mim. Eu não posso perdê-la. Eu queria uma irmã, e o médico disse que minha mãe não poderia ter mais filhos, não sei qual de nós dois ficou mais arrasado. Mas então oito meses depois mamãe estava grávida. De uma menina, eu que escolhi o nome dela, era Charlotte ou Wendy, e ficou Charlotte. Quando ela nasceu era tão pequena eu chorei por dias por que ainda não podia segurá-la e quando finalmente pude eu prometi que sempre estaria com ela. E... Eu falhei. Meu avô faleceu pouco tempo depois de você se mudar e Lottie não aceitou bem. Foram meses sem dormir, pesadelos, e a assistindo chorar. Eu acho isso tão injusto, por que você cresceu com a gente e viu como foi difícil ela aprender a andar, falar e agora isso.

Aperto a mão dele. Ele não fracassou.

– Você não fracassou. Pelo contrário, fez tudo que podia. E ela te ama.

– Obrigado, por me ouvir. Eu pareço uma menina quando se trata dela.

– E é isso que torna você tão especial Jared Evans!

– Seria mais fácil se você admitisse logo que me ama.

– É mesmo? E por que eu tenho que ser a primeira?

– Por que na verdade eu disse primeiro. Quando você partiu.

Ele tinha razão.

– Eu amo você! Satisfeito?

Ele sorri e me puxa para perto. Fazemos o resto do caminho assim. No fundo eu sempre soube que meu coração será sempre dele, mas também o que esperar quando ele trata a mãe como uma rainha e a irmã como a única razão pela qual ele respira? Eu estava fadada a fracassar em me manter longe dele desde o começo. E agora ele ganhou. Eu não tinha para onde ir a não ser ele e sua família.

Avisto Kalebe em frente à escola e não posso evitar compará-lo ao garoto ao meu lado, meu irmão não estava aqui na escola estudando, estava aqui fazendo trabalho comunitário, e assim como nossa família a de Jared tinha uma empresa que um dia seria administrada por eles, a diferença é que Jared faria um bom trabalho já Kaleb estava fadado ao fracasso.

Entramos na escola e caminhamos em direção a nossa sala de aula, Jared não me largou em momento algum e quando os garotos do time vêm chamá-lo ele me dá um beijo rápido e sai com a promessa de mais beijos.

Eu quero beijá-lo o resto do dia.

– Vejam se não é a amiga da surtada e filha da suicida! Você não é suicida também é? Senão pobre Jared está só gastando tempo.

Ouvir essas palavras é como ter mil facas perfurando meu peito. A filha da suicida... Minha mãe era uma boa mulher e uma mãe maravilhosa, o problema é que ninguém enxergou o que ela estava sentindo e ela não contava... Charlotte, minha mãe ambas estavam no mesmo caminho... A dor é demais e quando dou por mim estou correndo com meus pulmões implorando por ar. E quanto mais doí, mas eu corro. Não queria pensar em Charlotte sendo encontrada como minha mãe.

As lembranças estão voltando... Eu cheguo em casa da escola e chamo minha mãe, mas ela não aparece, Kalebe esta descendo as escadas e diz que acha que mamãe não esta em casa.

– Tenho que ir senão vou me atrasar e papai vai ter um ataque. Ligue para a mãe e veja onde ela está.

– Tchau.

Subo as escadas e deixo a mochila em meu quarto, então lembro que meu batom esta com minha mãe e vou buscá-lo. Lembro de parar em frente à janela do quarto deles e observar a lua cheia. Então noto a porta do banheiro aberta com a luz acesa, não é o feitio de mamãe e quando abro mais a porta para ver o que havia de errado a encontro no chão, com uma poça sangue e sem vida, seus olhos estão abertos ainda. Corro até ela levanto sua cabeça, grito com ela, mas ela não responde. A última coisa que lembro é de meu pai me arrastando para fora do banheiro.

– Ana! Ana!

Braços circulam minha cintura e me tiram do chão. Meus pulmões receberam ar enquanto eu luto com a pessoa me segurando.

– Sou eu. Jared.

Sua voz me acalma. E meu mundo finalmente para de girar.

– Tem que cuidar dela Jared! Você tem que cuidar da Charlotte! Senão ela vai terminar como a minha mãe!

Jared me aperta mais contra ele.

– Não, ela não vai. Nós estamos aqui. Eu, você e a Mi.

Assinto com a cabeça. Ele tem razão eu estou aqui e vou impedir que isso aconteça. As lágrimas fluem livres por meu rosto agora. Sim eu vou impedir isso.



Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Lembranças da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora