Prólogo - parte 4

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A cabeça de Anna doía. Muito. Ela abriu os olhos lentamente, para se acostumar com a luz. Anna se surpreendeu por estar deitada em sua cama. Uma manta grossa a cobria até o queixo, e fogo crepitava na lareira. Apesar do calor, Anna não conseguia parar de tremer. Contudo, não era somente o frio em seus ossos que a fazia tremer. Era a confusão. Ela não fazia ideia de como retornara para a cama.
Sua última lembrança era de ter descido uma grande colina de trenó com Elsa. Ela se recordava da sensação de leveza quando o veículo bateu em uma pedra e saltou, suspenso no ar, antes de voltar para o chão. Lembrava-se de rir e sentir os braços da irmã segurando-a e de como era gostoso o abraço de Elsa. Depois disso...nada.
Anna elevou a mão e tocou, trêmula, em sua cabeça. Uma onda de dor tomou seu corpo, e um calor intenso substituiu momentaneamente o frio. O trenó devia ter batido. Isso explicaria o machucado que estava a apalpar e o porquê de estar na cama. Aposto que Elsa vai dizer "eu avisei", quando acordar, Anna pensou. Ela não gosta de ir tão rápido.
Sorrindo, com um pouco de dor, Anna chamou sua irmã com suavidade:
- Elsa? - ela esperava pelo barulho dos lençóis quando sua irmã se virasse, mas não ouviu nada no quarto. - Elsa? Elsa, você está acordada?
Nada ainda. Olhando pela janela do quarto, Anna viu que a lua se punha no céu. O azul-escuro da noite dava lugar às brilhantes do dia. Elsa provavelmente estaria dormindo.
Desajeitada, Anna se sentou. Seus olhos se arregalaram quando outra onda de frio estremeceu seu pequeno corpo. Elsa não estava dormindo - ela não estava ali! E a irmã não era a única coisa faltando no quarto compartilhado. Todos os pertences de Elsa - desde o armário abarrotado de belas roupas e sapatos, a penteadeira com o espelho elegante, e até mesmo sua coleção de brinquedos -, tudo tinha sumido. No lugar, estava a mobília menor de Anna, reorganizada na tentativa de ocupar os espaços vazios. Era como se sua irmã nunca tivesse vivido ali.
Preocupada e confusa, Anna tirou as cobertas e saiu da cama. Buscou equilibrar-se por um momento, quando o sangue subiu para a cabeça, deixando-a tonta. Assim que o mal-estar passou, ela abriu a porta e espiou o corredor. Todas as velas estavam acesas, com suas chamas fazendo sombra na parede.
Grata pela luz, Anna respirou fundo e caminhou na ponta dos pés pelo corredor. Passando por uma série de portas grandes, ela dobrou a esquina que dava para a Ala Leste do castelo. Era onde seus pais dormiam e onde estavam localizados os quartos maiores. O berçário, que Anna sempre compartilhara com a irmã, ficava entre as Alas Lestes e Oeste - era o lugar perfeito para dormir quando se está em crescimento, dizia sua mãe.
Parada na Ala Leste, Anna só queria pôr as mãos na cintura, bater o pé e dar um chilique enorme. Onde está Elsa?, ela queria gritar. Por que ela não está em nosso quarto e aonde foram as coisas dela? Mas, antes que pudesse abrir a boca, ela viu a porta do quarto de seus pais se abrir. Um feixe de luz iluminou o carpete ornado em frente ao cômodo, e o roxo e o dourado real brilharam contra as sombras. Um momento depois, sua mãe e seu pai apareceram. Para a surpresa de Anna, eles vestiam roupas de montaria. O cabelo de sua mãe, normalmente penteado e sedoso, estava se soltando do coque, alguns dos fios castanhos contra a luz se assemelhavam a uma auréola sobre sua cabeça.
- Mamãe? - disse Anna, correndo em sua direção. - Cadê a Elsa? Por que todas as coisas dela sumiram?
A rainha não respondeu no mesmo momento, e Anna sentiu um arrepio profundo quando seus pais trocaram olhares sérios.
Subitamente, o arrepio transformou-se em medo, assim que um novo pensamento lhe ocorreu.
- A Elsa... está bem? - Anna perguntou. - Sinto muito por termos ido andar de trenó. Sei que não devia, mas amo andar de trenó, não sabia que a gente estava indo tão rápido e... - sua voz desapareceu. Ela estava tão focada na estranheza do sumiço de sua irmã que ainda não tinha pensado nos motivos pelos quais ela poderia ter partido.
Ajoelhando-se, a mãe de Anna tocou gentilmente a bochecha da filha.
- Sua irmã está bem, coração. Ela está em perfeita segurança.
- Então por que ela não está no nosso quarto? - Anna perguntou com o lábio inferior tremendo. - Ela está brava comigo? Fiz algo errado?
- Ninguém fez nada errado - a mãe insistiu, agora fitando o rei. Então, voltou-se para Anna. - Já era hora de ela se mudar do berçário. Ela precisa do próprio quarto agora que está mais velha. Não está animada de ter o berçário todinho para você?
  Anna balançou a cabeça violentamente.
- Não! Não! Não! Não estou animada. Quero que a Elsa volte. Ela não pode voltar? Prometo ser boazinha. Nunca mais vou andar de trenó. Nem preciso do meu próprio armário, se isso ajudar. Só quero Elsa de volta... - conforme ela falava, sua voz ficava mais e mais alta, e as palavras saíam cada vez mais rápido. Nada daquilo fazia sentido. Por que Elsa se mudaria tão de repente? A não ser que... Outra ideia lhe ocorreu.
- A Elsa não gosta mais de mim? - ela perguntou baixinho. Fitando a mãe com olhos marejados, esperou uma resposta.
Houve uma longa pausa, durante a qual a mãe e o pai de Anna pareceram estabelecer uma longa conversa silenciosa sobre a cabeça de Anna. A cada momento, seu coração se apertava cada vez mais. Ela estava a ponto de desmoronar de tristeza quando sua mãe finalmente disse:
- Sua irmã ama muito você. Mesmo, Anna. Eu lhe garanto - disse a rainha. - Isso é só o que precisa ser feito. Precisa confiar em mim, é a coisa certa a ser fazer. Um dia você vai entender. Agora, precisa voltar para a cama. Precisa descansar.
- Mas...
- Para a cama, Anna - disse o rei.
  Suspirando, Anna se virou rumo ao quarto.
- Por favor, Anna. Confie em nós - repetiu a mãe, atrás dela.
No entanto, durante o retorno a seus aposentos, tudo que Anna não sentia era confiança. Era como se um pedaço dela tivesse sido arrancado, e as únicas palavras reconfortantes ditas por seus pais eram que, um dia, ela iria entender. "Um dia." Anna queria entender agora. Se ao menos ela pudesse falar com Elsa...
Naquele instante, ela ouviu um barulho. Ao olhar para cima, avistou dois homens carregando a cômoda de Elsa em direção a um quarto vazio no fim do corredor. Correu e atestou que toda a mobília desaparecida no berçário agora se encontrava naquele quarto. E ali, parada no meio daquele espaço enorme, estava Elsa em pessoa.
- Elsa - Anna chamou, esperançosa. Ela deus alguns passos de modo a entrar no quarto. - Elsa, por que você está aqui? Volte para o nosso quarto! Sei que a mamãe e o papai disseram que... - sua voz sumiu ao se deparar com a expressão da irmã. Era fria como o gelo.
- Vá para o seu quarto, Anna - ordenou Elsa, fechando a cara. - Você não pode ficar aqui.
- Mas...
- É sério! - gritou Elsa. - Vá embora!
Dando um passo adiante, Elsa avançou como se fosse empurrar Anna para fora do quarto. No entanto, antes que pudesse tocar o ombro trêmulo da irmã, Elsa se deteve, como se tivesse lembrado de algo terrível. Isso machucou Anna mais do que qualquer palavra.
Anna caminhou lentamente pelo corredor. Quando olhou para trás, na tentativa de ver Elsa uma última vez, sua irmã bateu a porta.
Anna encarou o quarto fechado por um longo e triste momento. O que tinha acontecido? Por que de repente Elsa ficara tão fria com ela? Por que se mudara do berçário? Sentida, Anna se virou e dirigiu-se novamente ao quarto delas - seu quarto. Ela nutria a sensação, lá dentro, de que algo tinha dado muito errado. Só não sabia o quê. Tudo o que ela podia fazer era tocer para que Elsa voltasse a falar com ela...logo.

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⏰ Última atualização: Oct 11, 2016 ⏰

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