Capítulo 2

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   Deixo o copo de chocolate quente cair no chão. Estou distraída, desde que Jess disse aquelas coisas, não consigo entender.
   Jen vem até a cozinha e olha para o chocolate que eu preparava para ela no chão.
- Você é uma péssima irmã mais velha Ela diz enquanto pega um pano para limpar o chão.
   Me deito na cama para dormir, mas não consigo, porque minha cabeça está cheia de pensamentos.
   O que Jess disse foi que Miles deixou uma carta, e que ele devia cuidar de mim e de Jen. Jess nem sequer sabe cuidar dele, como vai cuidar de Jen?
   Abro a carta que Jess me entregou.
'' Jess, sei que isso pode parecer mórbido, escrever uma carta sobre eu morto, mas só posso fazer isso agora.
   Sei que você e Jenna não se dão muito bem. Mas preciso que fique ao lado dela, depois que eu for. Jenna não tem ninguém, seus pais morreram e ela precisa cuidar da irmã mais nova sozinha, então eu gostaria que você a ajudasse, no que ela precisar. Sei que deve estar pensando ''mas eu sou um irresponsável'' sim, mas eu acho que isso é só o que você deixa que as pessoas vejam, no fundo, você é uma pessoa incrível. Por isso que estou pedindo isso para você. Eu amo a Jenna, então só poderia pedir para você cuidar dela, porque eu confio em você, muito, mesmo que você não confie em você mesmo.
    Cuide da Jenna e de sua irmã, preciso que faça isso. Você é meu melhor amigo.''
   Acordo e vejo que já são oito horas da manhã. Levanto e vou até o quarto de Jen, mas ela já está tomando banho. Jen é tão mais responsável do que eu era com onze anos. Fico feliz que ela seja assim.
    Preparo panquecas para nós quando alguém toca a campainha. Abro a porta e vejo Jess, ele está com a pálpebra do olho direito um pouco roxo. Tento fechar a porta, mas ele empurra e entra.
- Se importa se eu tomar café da manhã aqui? Não tem nada no meu apartamento, em Nova Jérsei eu sempre comia em restaurantes...
    Por que ele estava pedindo permissão se já estava sentando comendo?
   Fui até o quarto de Jen e bati na porta do banheiro. Ela saiu enrolada em uma toalha e com outra no cabelo.
- Ei, vai sair assim? - Perguntei.
- Sempre tomo café de toalha no verão, depois coloco o uniforme.
- Tudo bem, se o fato de Jess estar aqui não te constrange...
    Jen me olha com os olhos arregalados e vai conferir se a porta do quarto está trancada a chave.
- Primeiramente, saiba que ele não foi convidado!
   Vou até a mesa e me sento. Jess está colocando toda a jarra de mel em suas panquecas, tiro ela da mão dele, ele resmunga.
- Bom dia pirralha - Jess diz para Jen quando ela se senta - Uniforme legal.
- Eu sou legal. E não me chame de pirralha.
   Rio da patada de Jen.
   Terminamos de comer e Jen vai buscar sua mochila no quarto. Fico olhando para o olho de Jess, ele percebe, mas não diz nada.
- Eu não sei qual era o problema do Miles pra pedir pra você cuidar de mim. Você sai por aí arrumando briga na rua como uma criança.
    Ele levanta, eu vou atrás. Ele olha para mim e arqueia a sobrancelha.
- Olha só, não se mete na minha vida ta? - Ele diz. Eu dou uma risada sarcástica.
- Olha quem fala!
    Eu abro a boca pra continuar, mas ele vai embora rapidamente.
    Levo Jen para a escola e depois vou visitar a família de Miles.
   Toco a campainha da casa branca de dois andares. Austin, o pai de Miles, atende. Ele é loiro como Miles era, e tem os olhos azuis muito claros.
- Sibele! Nossa Jenna veio nos ver - Ele diz sorrindo - Entre!
- O senhor passa bem? - Pergunto entrando na casa. Me sento no sofá da sala de estar - Me perdoe por não vir muito ultimamente...
- Por favor, você que nos perdoe. Sei que somos uns velhos chatos que gostam da companhia de uma jovem tão especial quanto você - Diz Sibele, a mãe de Miles.
     Ela coloca uma xícara de chá de canela, meu favorto, na minha mão. Eu agradeço e pergunto sobre a viagem que eles vão fazer para a Grécia, onde mora a família de Sibele. Sibele é grega, ela conheceu Austin lá e veio morar com ele aqui.
    A noite quando saio da lanchonete vejo Jess do outro lado da calçada. Continuo andando, mas o hematoma em seu olho me deixa preocupada com ele de uma forma que me irrita.
    Atravesso a rua e chamo ele. Jess se vira.
- Oi - Eu digo.
- Oi - Ele repete - Eu to indo na casa da minha mãe então... Te vejo depois...
- Eu ia visitar ela agora - Ele me olha como se não gostasse da ideia - A mãe de uma amiga da Jen vai busca-la na escola, então...
    Ele abre a boca pra dizer algo, mas eu já estou andando rápido na frente dele.
   Quando chegamos na casa dele encontro a mãe dele dormindo no sofá, com um livro em cima das pernas. Quando tento tira-lo de cima dela ela desperta.
- Jenna... Que bom que está aqui - Ela diz sorridente. Um barulho vindo do banheiro assusta ela. Jess vem até ela com um pote de remédio nas mãos - Jess, quando você chegou em NY?
- Continua se entupindo com essas coisas? - Ele diz e joga o remédio no colo dela - Eu não tenho paciência pra você, mãe... Tchau.
    A mãe de Jess levanta e segue ele até a porta, mas ele já está indo embora. Os olhos dela estão prestes a transbordar.
   Vou atrás de Jess, mas ele continua andando.
- Você é um egoísta! Sua mãe tem problemas, você sabe, ela precisa daqueles remédios - Ele para de andar e olha pra mim - Está irritado por que ela está doente?
    Ele respira fundo. Primeiro acho que vai dizer algo, mas ele sai andando.
    Chego no meu prédio e Jen ainda não chegou. Ligo para a casa da amiga dela e sua mãe diz que elas estão jantando e que depois ira trazê-la.
  Quando Jen chega eu vou dormir.
   As duas da manhã ouço um barulho. Abro a porta e vejo Jess encostado na minha porta, ele cai.
- O que está fazendo aqui? - Pergunto enquanto ele se levanta. Ele parece alcoolizado.
- Por que Miles morreu? - Ele pergunta.
- Jess, vai dormir - Digo o empurrando até sua porta - Por que você é assim?
    Ele me encosta na parede ao lado de sua porta e coloca os dois braços na parede, entre mim, tento sair mas ele não deixa.
- JESS!
- Você me acha desprezível, eu também, todos acham. Mas todos amavam Miles, e ele morreu, e eu continuo aqui fazendo merda. Eu juro, que tento mudar, mas mudar pra que? Por quem? De qualquer forma, eu acho que nasci pra ser um merda. Eu sinto muito por aquela carta, sei que me quer longe, e eu vou embora, eu juro.
    Olho para ele, sinto pena. Jess era a pessoa mais lamentável naquele momento.
   Seguro seu antebraço direito e o levo até sua cama. Ele tira a jaqueta e deita.
- Eu tenho muita pena de você - Eu digo saindo do quarto dele. Consigo ver pelo espelho seu rosto com expressão triste - Boa noite, Jess.
  No dia seguinte Jen vê Jess quando saímos do nosso apartamento. Ele está trancando a porta e passa a mão no cabelo que está bagunçando.
- Jess! - Ela diz. Ele se vira e da um sorriso antes de descer as escadas.
   Levo Jen para a escola e quando volto encontro Jess na minha porta.
- Oi... - Eu digo abrindo minha porta.
- Eu vou embora... Amanhã - Ele diz com as mãos nos bolsos da jaqueta.
- Não... - Ele me olha surpreso - Miles disse que acredita em você, que você é uma boa pessoa no fundo. Fique... Por ele.
   Ele me olha de um jeito diferente, olho para o lado constrangida. Ele acena com a cabeça e entra em seu apartamento.
   Coloco a mão no meu peito e meu coração bate acelerado.

    
  

the annoying bad boyOnde histórias criam vida. Descubra agora