Capítulo 12 (FINAL)

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Estamos na sala da mãe de Jess. Jen está dançando no Just Dance 2. Finjo ajudar a mãe de Jess, mas na verdade estou olhando para Jess, que está com Sarah, sentados no sofá, ela olha para ele como se ele fosse um deus, ele está olhando para a frente, sorrindo, mas parece que longe.
Sento no sofá e rio da performance de Jen dançando Lady Gaga. Sarah se vira para mim. Estou sentada ao lado dela, Jess não olha para mim.
- Que coincidência, então você era vizinha do Jess? - Ela pergunta.
- Sim... - Respondo sorrindo. Ele olha para mim por dois segundos - Jen se apegou muito a ele.
Mentira. Eu que me apeguei muito a ele. Não consigo imaginar minha vida sem ele. Agora eu percebi, a fase ruim que eu passei depois que ele foi embora, foi a mistura da descoberta de que Miles queria se casar comigo com Jess ter ido embora. Eu não sabia lidar com o lado problemático do Jess, com a desaprovação dos pais de Miles em relação ao nosso namoro e ainda tinha a culpa de estar apaixonada pelo melhor amigo do homem que eu amava e tinha morrido.
- Cansei! - Diz Jen se sentando no sofá.
- Está toda suada Jennifer! - Digo - Vai tomar um bom banho quando chegarmos em casa.
Elizabeth pega um copo de vidro e coloca um pouco de uísque dentro. Jess olha para ela irritado.
- Já? - Ele pergunta.
- Só pra relaxar um pouco querido...
Sarah olha para Jess preocupada.
- Aham... - Ele se levanta e dá uma pausa antes de continuar - Sarah está aqui. Trouxe uma garota pra casa, mas você não está nem aí. Só quer saber de beber e se entupir de remédios! Eu desisto de você! Se destrua sozinha.
Elizabeth não diz nada. Ela o olha por alguns segundos, então se levanta, se aproxima de Jess e diz;
- Parece tanto com seu pai... O jeito durão, sarcástico, sempre cuidando de mim como se eu fosse filha dele...
- Então ele te abandonou. Me abandonou. Foda-se, mesmo - Ele diz e sai para fora da casa.
Sarah se levanta e vai atrás dele. Me despeço de Elizabeth e também vou embora com Jen.
Jen não diz nada. Ela entende o que está acontecendo, mas tenta não entrar no mundo maluco dos adultos.
Tento dormir, mas não consigo parar de pensar em Jess, se ele está bem, com Sarah, ou por aí, fazendo alguma coisa idiota e ilegal como rachas ou pichação.
O interfone toca. É Sarah. Por que ela está aqui?. Fico preocupada e autorizo sua subida.
- Jenna... - Ela diz com os olhos marejados - Sabe onde Jess pode estar?
Peço para ela entrar. Dou um copo de água e ela bebe rapidamente.
- Fui atrás dele. Ele não quis falar comigo, disse para eu desistir dele...Eu estou tentando sabe... Com ele... Mas acho que ele não quer que eu tente, parece que está comigo por outra razão... Que não é gostar de mim.
Engoli em seco. Olho para a janela e vejo que a neve começa a cair.
Sarah vai embora depois de quinze minutos. Olho para o relógio e ouço o tic-tac. Cada minuto é uma idéia assombrosa do que Jess pode fazer estando nervoso.
Pego meu sobretudo e meu cachecol. Antes de sair checo Jen que está em sono profundo.
Devem ser dez horas da noite. A lanchonete ainda está aberta. Vejo um homem passar de bicicleta, um casal andando abraçados e uma mulher correndo com fones de ouvido.
Passo pela biblioteca de fachada verde e através do vidro vejo alguém sentado em frente a uma das estantes de livros. Ele se vira e vejo que é Jess.
Bato na vidraça e franzo a testa confusa. Então percebo que a porta está destrancada. Entro na biblioteca, ela está com a lampada do meio acessa, por isso uma leve luz ilumina tudo.
- O que está fazendo aqui Jess?
Ele ainda está sentado no chão. Não olha para mim. Sento ao seu lado, vejo que há um maço de cigarros ao lado dele.
- Miles adorava ler. Sabe, uma vez, quando tínhamos doze anos, ele viu a minha mãe bêbada tomando muitos remédios, meu pai tinha acabado de ir embora, para sempre. Miles ficou muito mal pela minha mãe, então ele veio aqui e perguntou a bibliotecária sobre livros que poderiam ajudar a minha mãe... a ser feliz...
Ele diz o final sorrindo, mas um sorriso de lamentação.
- Isso tudo é culpa minha, a minha mãe estar assim, ser assim...
- Não, não é... - Digo, mas ele continua.
- Se eu fosse bom como Miles era, talvez a minha mãe não estivesse assim. Miles sempre foi o melhor, pra todos, pra você... - Ele me olha por uns cinco segundos e depois desvia para a janela.
- Jess eu preciso de você - Digo em um súbito de coragem - Por favor, eu estou implorando que não desista de você mesmo. Não saia por aí sendo um babaca e fazendo todos te odiarem, porque pode até conseguir isso deles, mas NUNCA vai conseguir isso de mim. Eu nunca vou te odiar, e eu já tentei, eu juro que tentei ver seu pior lado, mas você foi a melhor coisa que me aconteceu nesses últimos tempos, eu não lembrava que era possível ser tão feliz, tanto de tirar o fôlego, de achar que só pode ser um sonho, mas não foi. Você é real Jess, e esse foi o problema, era bom demais com você, e então eu criei mil impedimentos na minha cabeça pra não ficar com você, porque era tão bom que quando eu vi que ainda sim somos humanos, e que você também é falho, eu entrei em pânico. Você não é o Miles. Você é o Jess, e é por isso que eu te amo.
Ele me olha incógnito. Não sei dizer o que ele está sentindo, não parece bravo ou emocionado, nada.
- Eu não quero ser um babaca, não com você, Jenna.
- Jess... Os momentos que eu for infinitamente feliz com você vão fazer valer cada lágrima.
Meu celular toca. Atendo no viva-voz.
- Oi, é o Henrique.
- Olha só eu não quero nada com você... - Eu digo. Jess pega o celular da minha mão.
- Alô, aqui é o Jess, namorado da Jenna, se não parar de importunar ela eu vou até você e esmigalho seus testículos.
Ele diz isso e desliga o celular.
Ele me analisa. Eu sorrio. Se aproxima de mim e me beija. Aperto bem seus ombros pra ter certeza que ele não vai embora dessa vez.
Não vai, nunca mais.

the annoying bad boyOnde histórias criam vida. Descubra agora