Capítulo 1 - O Primórdio

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 A noite era fria e chuvosa, o rei Giles andava de um lado para o outro do salão principal do castelo, pensativo. Na torre do castelo encontrava-se o príncipe Kentin, tocando sua flauta. Serenamente acompanhava o som que os trovões faziam e observava o fogo da lareira iluminando todo o quarto, então parou subitamente após errar uma das notas da canção. No mesmo instante, alguém bate na grande porta de madeira que estava entreaberta:
 - Posso entrar? – Ecoa uma voz baixinho pelo quarto.
 - Sempre que quiser minha mãe... – Responde o príncipe sorrindo para a Rainha Manon, que retribuía o sorriso.
 - Então, por que parou de tocar meu filho? – Perguntou Manon sentando-se ao seu lado.
 - Errei uma das notas... a senhora estava ouvindo a canção? – Perguntou o príncipe com um sorriso fraco.
 - Kentin, eu sempre acompanho tudo o que você faz. – Respondeu ela passando uma das mãos nos cabelos de Kentin.
 - Então permita-me começar novamente... – Respondeu ele voltando a tocar a flauta.
 No salão, o Rei Giles ainda estava eufórico e continuava andando pelo salão com passos rápidos. Após passar alguns segundos repetindo os mesmos movimentos de nervosismo pausou ao perceber que um de seus mensageiros se aproximava, foi ao seu encontro e o segurou pelos ombros:
 - E então, que notícia me trás? – Perguntou ele balançando o mensageiro.
 -  Majestade... não trago notícia nenhuma. – Respondeu ele nervoso.
 - Como não? Mandei que fosse atrás dos reis de Kapia e Clorian... – Disse o Rei alterando um pouco a voz.
 - Sim meu Rei, e foram eles que vieram comigo de seus reinos após receberem a vossa mensagem. – Disse o mensageiro apontando para a porta de entrada do salão. – Eles estão o esperando na sala de reuniões do castelo, majestade.
 Giles o olhou torto e logo depois o saudou seguindo em direção a porta de entrada do salão. Antes de sair virou-se para o mensageiro e mandou-o avisar a Manon que não permitisse que Kentin saísse do quarto. Este obedeceu a ordem e subiu para a torre, chegando lá observou o príncipe adormecido nos braços da rainha e resolveu não os incomodar.
Na sala de reuniões estavam o Rei Philippe e o Rei Francis sentados ao redor da mesa de pedra. Algumas serventes os ofereciam vinhos e petiscos. Foi quando o Rei Miles entrou agressivamente na sala e as mandou se retirarem. Fez um sinal para que os Reis, que haviam se levantado quando o vira entrar, que se sentassem novamente:
 - Majestades, creio que devem ter conhecimento dos últimos acontecimentos. – Disse Giles sentando-se a mesa enquanto os dois reis balançavam a cabeça afirmativamente. – Então, creio que já devam ter sido persuadidos com injúrias pelo Rei Arnaud, de Vemri.
 - Bom Miles, Arnaud realmente veio ao meu reino, e falou que Maslóvia estava adquirindo minérios clandestinamente de Vemri. – Disse Philippe.
 - Que dissimulado, eu não extrai nada de Vemri, peguei minérios do Norte. Na barreira entre nossos reinos. – Contestou Giles batendo firmemente o punho na mesa de pedra que balançava.
 - Giles, eu acredito que não haja fundo nenhum injuriar o seu reino. Afinal, todos sabemos que Vemri e Maslóvia não são elites contrárias... – Disse Francis.
 - Sim Francis. Mas, eu lhe garanto, que meus escavadores não estavam explorando terras alheias. – Respondeu Giles virando-se para o mapa pendurado no meio da parede da sala. – Como podem ver, este é o limite entre Kapia. – Disse apontando para Philippe, o Rei de Kapia. – E de Clorian. – Continuou, mas apontando para Francis dessa vez. – E este, é o reino de Vemri. – Apontou para o canto superior do mapa. – A área que eu explorei está ainda dentro das terras que nossos antepassados decidiram a anos que não pertenciam a nenhum dos reinos. E eu encontrei jazidas de minérios raríssimos por lá, poderíamos dividir as riquezas entre os reinos, mas Arnaud insiste em dizer que as terras são dele.
Philippe e Francis se olhavam contestando as atitudes de Arnaud:
 - Por que nos chamou aqui Giles? – Perguntou Francis.
 - Cavalheiros, creio que saibam, que Maslóvia sempre se saiu bem em combates. – Disse Giles andando para o outro lado da sala onde encontrava-se um outro mapa, que delimitava todas as terras já conquistadas por Maslóvia. – Mas, Vemri reuniu dois reinos do leste, e pretende formar um grande exército para conquistar Maslóvia.
 - Creio que já entendi Giles... – Disse Francis levantando-se da cadeira. – Infelizmente não posso submeter o meu reino a esse tipo de combate. Ainda mais agora que estamos quase no início do inverno, preciso abastecer Clorian.
Miles o encarou e se aproximou lentamente:
 - Majestade, sabe quais foram os reinos que Arnaud convocou? – Perguntou Giles.
 - Não tenho interesse em saber Giles, esta conversa acabou. – Disse Francis virando as costas para Miles e saudando Philippe que observava a cena calado.
 - Reino de Éslovia... – Disse Giles, enquanto Francis abria a porta da sala e se preparava para sair. – E o reino de Guckavin...
Francis parou subitamente e estremeceu, virando-se devagar para Giles e Philippe:
 - Acha que depois de conquistar Maslóvia, Guckavin não terá interesse em Clorian? – Perguntou Giles.
Francis voltou sua atenção para ele e se aproximou:
 - Não permitirei que nenhum Guckaviano imundo toque em bens de meu reino. – Disse Francis com uma voz grossa e ameaçadora. – Clorian reunirá um exército e contra-atacará Vemri, a favor de Maslóvia.
 Giles o encarou sério e ambos apertaram as mãos. Philippe virou-se para eles:
 - Estarei com ambos os reinos nessa batalha cavalheiros, Kapia necessita da ligação econômica que possui com Clorian. – Disse Philippe, virando-se calmamente para a saída. – Avisem-me... quando a guerra enfim começar.
 - Com toda certeza, Majestade. – Disse Giles, cumprimentando Francis que estava também retirando-se do local.

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