Capítulo 2 - Erade

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A viagem para Erade já estava durando dois dias. Havia no barco, além de Kentin, alguns serventes enviados por Giles para protegê-lo, e os navegadores do barco. Kentin estava na sala do capitão junto com este, que estava a lhe mostrar os seus mapas. Kentin estava perdido em seus pensamentos apenas o observando mostrar com magnitude todos os lugares que já havia navegado, pensava no que causou a guerra entre seu pai e os outros reinos e porque isso o faria mudar de reino:
— Não se preocupe, Alteza. – Falou o capitão tirando Kentin de seus pensamentos.
— Perdão? – Respondeu ele um pouco atordoado com a volta a realidade.
— Vossa Alteza deve estar com medo do que acontecerá por lá. – Continuou o homem passando uma das mãos pela barba grisalha.
— De forma alguma, eu confio em meu pai... – Respondeu Kentin indo em direção a janela. – Mas, eu nunca precisei sair de Maslóvia antes, eu gostaria de saber detalhadamente o porquê de isso estar acontecendo agora...
— Eu o aconselho a não se meter meu príncipe... – Disse o capitão soltando uma risada abafada. – Giles é cabeça dura desde que o conheço por gente, se ele não contou ao senhor, é porque não precisa que saiba.
Kentin o observou quieto e pensativo por uns instantes, e voltou-se para a porta da sala indo em direção ao convés do barco. Assim que abrira a porta da sala ouviu um grito estrondoso vindo de uma das cofas do barco:
— Virar a bombordo. – Gritou um dos homens que puxava uma das linhas da vela. – Terra à vista.
Kentin direcionou-se a proa do barco e avistou de longe uma ilha enquanto o barco virava-se em direção a ela. Era uma Ilha grande e possuía um grande castelo no centro, com alguns acampamentos em volta. Nada passava despercebido a Kentin, que tratou de perceber até os grandes moinhos que movimentavam-se em cada canto de Erade. Se aproximou do capitão que saía de sua cabine e o pediu-lhe uma luneta. Ao tomá-la em suas mãos usou-a para averiguar as outras embarcações que chegavam a Erade por outras direções, um barco que vinha do Oeste carregava o Brasão de Vemri, que era conhecido por Kentin. O barco que vinha do Sudeste do mar trazia o Brasão de Kapia.
Ao desembarcar, o príncipe notou que não só ele, como todos os descendentes dos reinos estavam na Ilha. Um homem estava no centro do porto e carregava uma prancheta, enquanto um outro que aparentava ser um general estava ao seu lado pondo todos os novos visitantes em fila:
— Bom dia Altezas. – Disse o homem alto e com um monóculo. – Me chamo Faraize, e sou representante da Duquesa de Erade.
Todos continuavam quietos e observando os dois homens parados:
- É... bem, seus pais os enviaram aqui para que não tivessem contato com o conflito que provavelmente terão. – Continuou Faraize com nervosismo. – Mas, não pensem que ficarão tranquilos aqui, temos todo um cronograma planejado para príncipes e princesas. Com certeza, não ficarão entediados nesses cinco anos.
— Cinco anos? – Falou uma voz vinda de trás da multidão. – Está blefando, não ficarei cinco anos nessa ilha patética. – Continuou uma senhorita loura agora aparecendo para que todos a vissem.
Faraize arrumou o monóculo em seu olho e então deu uma breve lida no papel que segurava:
— Oh, você deve ser a princesa de Clorian, Ambre Quegan. – Disse Faraize o olhando inquieto. – Aparentemente não estava sabendo do que seu pai nos ordenou e...
— Tolice, tenho certeza de que meu pai não lhe disse isso, deve estar inventando... – Continuou Ambre.
Nesse mesmo instante um rapaz com os cabelos da mesma cor dos da princesa se aproximou dela e a segurou pelo braço falando calmamente:
— Ambre, fique quieta. Com certeza ele não está mentindo. – Disse ele.
— Oh, Vossa Alteza. – Disse Faraize se curvando diante do rapaz. – Perdoe-me eu realmente pensei que soubessem do cronograma.
— Não há problema Senhor Faraize. – Disse o rapaz calmamente.
— Que audácia, como ousa não se reverenciar a mim? – Gritou Ambre. – Nathaniel, mande-o se curvar.
— Ambre, não faça esse alvoroço, claramente está se curvando por eu ser o herdeiro de Clorian. – Disse o rapaz, Nathaniel. – Agora por gentileza, quieta. – Continuou ele deixando Ambre com uma cara fechada.
Kentin observava a cena quieto, passou seus olhos por toda a extensão do porto, e observou várias pessoas o olhando, inclusive dois rapazes que não paravam de o olhar. Foi quando uma voz tirou seu pensamento:
— Deixarei cada um de vocês aos cuidados de dois dos soldados de Erade, para que não temam a nada. Eles os levarão a seus respectivos quartos do acampamento. – Disse Faraize abrindo espaço e mostrando-lhes carruagens. – Espero que tenham sido bem recebidos.
— Um instante! – Disse alguém.
— Sim? – Disse Faraize novamente arrumando seu monóculo, aparentava querer ir embora e sair daquela conversa o mais rápido possível.
— Eu não creio que precisarei de cuidados de soldados, exijo que retire a minha guarda. – Falou um dos príncipes. Ele possuía os cabelos numa cor escarlate, Kentin demonstrou-se curioso do por que.
— Perdoe-me príncipe... – Faraize deu uma ultima olhada nos papeis que carregava. – Castiel Kailon, de Guckavin, mas não será possível, recebemos ordens estritas para protege-los desta maneira.
Castiel apenas cruzou os braços e voltou o olhar para os guardas que eram consideravelmente mais baixos que ele. Faraize o general foram na carruagem da frente. Kentin foi guiado por dois dos guardas até outra delas e pôs-se a sentar num banco de penas que esta possuia. As carruagens seguiram em fila uma a uma pela estrada de terra de Erade, todos do acampamento, desde ferreiros até alguns que aparentavam ser nobres os olhavam insistentemente. Kentin olhou para o outro lado e viu um campo de treinamento, foi então que a fila parou de andar e desceu da primeira carruagem, o general que olhou fixamente para Kentin antes de voltar sua atenção ao campo. A fila voltou a andar normalmente até o castelo.
Ao chegarem, todos desceram e formaram filas para adentrar o salão, onde estava acontecendo um baile de boas vindas a todos os príncipes e princesas. Faraize estava anunciando todos que entravam:
— Princesa Li Chanley, de Gertyn. – Disse ele dando passagem para a garota com os olhos bem pequenos. – Principe Lysandre Madilt III, de Kaylock. – Continuou Faraize.
Kentin observava todos os descendentes serem chamados enquanto ouvia ao longe a voz de Faraize:
— Princesa Rosalya Keervan, de Tritton....
Nesse momento, percebera que a última princesa a ser chamada possuía longos cabelos brancos e uma estrutura corporal magnífica. Kentin estava boquiaberto com tamanha beleza, observava-a cumprimentar Faraize e todos os nobres que estavam no salão:
— Príncipe Kentin Gealish I, de Maslóvia.
Nesse momento, todos os que estavam presentes ficaram em silêncio e encararam Kentin com curiosidade. No mesmo segundo cochichos e sussurros começaram sem sessar. Os sussurros foram ficando cada vez mais altos, e Kentin ouvia nitidamente perguntas como "Como ele ousa vir aqui?", " A culpa dessa batalha é do pai dele.", "Soube que o Rei Giles mandou-nos pra cá por causa dele."
Então, a Duquesa Shermansky levantou-se de sua cadeira e bateu com uma das mãos na mesa:
— Silêncio por favor. – Disse ela. – Por favor, continue Senhor Faraize.
Todos voltaram ao silêncio calmamente, mas os olhares inoportunos continuaram a ser lançados para Kentin, que retirou-se do salão em direção ao jardim. Chegando lá observara o lago refletindo as folhas que o rodeavam:
— Kentin? – Uma voz disse tirando-o de seus pensamentos.
— Sim? – Disse virando-se no instante em que uma garota o abraçava.
— A...h... – Balbuciou enquanto a jovem se afastava novamente.
— Sou eu, Amélia. – Falou sorrindo. – Nós brincávamos juntos quando éramos crianças...
— Ah, eu me lembro bem. – Disse Kentin abrindo um pequeno sorriso. – Kapianna, não é?
— Sim, e você Masloviano. – Respondeu sorrindo. – Ah quanto tempo não nos vemos.
— Eu diria desde o último encontro dos reinos, você cresceu bastante Amélia. – Prosseguiu Kentin um pouco nervoso.
— Ah, digo o mesmo de você. Está maior e.... mais.... forte... – Continuou Amélia baixando o olhar.
— Bom, com certeza foi influência do meu pai... – Respondeu passando uma das mãos nos cabelos.

— Kentin... quero que saiba, que eu não acho que isso que está acontecendo é culpa sua. – Disse Amélia com um sorriso amigável.
— Concordo plenamente com Amélia, Kentin. – Disse Nathaniel que chegava com as mãos em concha atrás das costas.
— Olá Nathaniel. – Cumprimentou Amélia. – Como vai o futuro rei de Clorian?
— Nada bem Amélia, as responsabilidades são muitas... mas por sorte, fui enviado pra cá, para ficar longe de todo esse alvoroço com a guerra. – Disse Nathaniel pondo uma das mãos no peito.
— Acha que isso é sorte? – Perguntou Kentin.
— De certo que sim, nossos pais resolverão isso de uma maneira sensata, tenho certeza.
— Se fossem mesmo fazer isso, não teriam nos enviado pra cá. – Falou Amélia cabisbaixa. – O meu pai disse que o Rei Arnaud está mentindo para os dois reinos que se aliou.
— Então, por que todos acreditam que a culpa é do meu pai? – Perguntou Kentin um pouco exaltado.
— Kentin, deve saber que Arnaud é persuasivo o suficiente para convencer uma nação inteira. – Disse Nathaniel pondo uma das mãos no ombro de Kentin.
— Sim, se seu pai estiver certo, eles vão conseguir provar... fique calmo. – Completou Amélia.
Kentin os agradeceu e voltou com ambos para o salão. Chegando lá Faraize estava dando as últimas apresentações:

— Principe Thomas e princesa Íris, de Evanora. – Disse Faraize fechando o pequeno pergaminho que estava segurando. – Espero que se divirtam Altezas. Boa estadia. – Completou ele, descendo do pequeno pódio ao som de aplausos elegantes.
Após se sentar, a Duquesa levantou-se e subiu ao pódio:
— Espero que saibam, que esses cinco anos que passarão aqui, estarão recebendo todo o auxilio e aprendizado que precisam. Isso significa que... – Pausou ela enquanto dois professores abriam um cartaz que parecia um calendário. – Todos os dias, serão compensados, vocês terão aulas, oficinas, tudo o que tem direito. Espero que façam dessa estadia, um começo de um grande futuro.
Após isso, todos aplaudiram novamente e Shermansky voltou a sentar-se. O baile continuou até a noite, Kentin dançava e se divertia com Nathaniel e Amélia. Ao bater das dez, todos foram para seus dormitórios, Kentin ficou em um dos quartos da torre, por achar que o lembrava sua casa e talvez não o fizesse sentir tanta saudade de Maslóvia. Pôs sua bagagem em um canto do quarto, a lareira já estava acesa, o inverno estava chegando e o castelo de Erade seria atingido brutalmente por ficar tão próximo aos picos. Kentin sentou-se em uma das camas, e tomou sua flauta em mãos. Retomou a melodia que tocara para sua mãe a uns dias atrás. Quando brutalmente alguém abriu a porta do quarto:
— Então... é com Kentin, O Masloviano que irei dividir minha estadia aqui? – Disse o rapaz de cabelos negros. – Interessante.

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