Aquela sexta que até o amarelo da minha cozinha me fazia lembrar você.

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Tentei levantar, uma, duas, três vezes.

Na quarta tentativa desisti, resolvi que voltar a dormir era o melhor. Afinal, estava cedo ainda.

Acordei novamente por volta de meio dia. Coisa que só poderia acontecer em uma sexta de feriado.

Resolvi levantar pra valer dessa vez.

De qualquer jeito eu não conseguiria voltar a dormir. O vizinho havia posto uma musica com uma letra pejorativa e ela estava me fazendo ter pesadelos.

Tentei fazer algo para comer, mas com meu desastre de pós-sono do meu dia a única coisa que eu consegui fazer, foi quebrar a louça cara que a minha mãe tinha dado quando, eu resolvi morar sozinha.

Enquanto catava os cacos de porcelana dos meus pratos extravagantes e esquisitos eu sem querer, lembrei-me de você. De como você os achava engraçado. Costumava dizer, com sua total falta de senso sobre o que podia comentar ou não, que minha louça amarela pareciam patos. A realidade era que existiam poucas coisas na minha casa que você gostava. Uma vez eu cheguei a perguntar.

- Além de você é claro.

-Então me diz, porque você coloca defeito em tudo.

-Gosto do seu gato.

-Ele te odeia.

-Gosto da vista daqui. Dá pra ver o sol nascer. Gosto da tua cozinha pequena. Você fica ainda menor nela.

-E dos meus moveis? - perguntava justamente para te provocar. Eu já sabia a resposta.

-Odeio eles.

Então nós brigaríamos de novo. Não era uma briga de verdade. Você discutiu, dizendo que amarelo não era cor pra cozinha e eu disse, que você não sabia nem que roupar vestir direito quem dirá saber que cor era boa para cozinha... E droga! Estou fazendo de novo.

Mergulhando nessas memórias. Meu rosto já esta molhado e eu nem havia percebido que estava chorando.

Termino de catar os cacos, balançando a cabeça para ver se os pensamentos sobre você vão para o lixo junto com o que eu acabei de juntar.

Mas, não se vão. Por que minha até cozinha amarela me faz lembrar você.

Será que você sabe que a reformei inteira por causa de você? Fui à sua ideia louca, de que amarelo talvez fosse realmente uma boa cor. Acho que se você soubesse me chamaria de louca. E diria que não era para levar suas idéias a sério.

Será que você sabe a falta que faz?

Parece que te procuro a cada esquina, tentando não te ver. Por que não quero te ignorar de propósito. Mas, eu queria te ver, de longe. Obviamente, eu teria que colocar meus óculos de grau porque você sabe que eu não enxergo, porém, eu enxergaria você.

Enxergaria seu sorriso idiota e teria vontade de te enforcar por estar usando aquela sua camisa preferida, que é toda puída.

Eu tento, todos os dias, esquecer que você não faz mais parte da minha vida, porem, parece que a cada dia é mais difícil. Mais difícil acordar. Será que isso não vai passar nunca?

Acendo um cigarro na minha sacada, mas nem a fumaça leva você. Estou morrendo de medo. De passar o resto da minha vida pensando o porquê de você não esta comigo e com esse frio terrível no peito. O frio da falta que alguém faz.

Resolvo, como sempre, de ultima hora, sair de casa. Visitar alguém, beber em algum canto diferente, ver um filme. Não sei se você me faz tanta falta pelo simples fato de que eu te amava demais ou se estou apenas me sentindo sozinha.

Queria que fosse a segunda opção, mas ate Deus sabe que não é.

Tomo um banho e coloco aquele meu vestido de verão no inverno. Entro no meu carro e vou nadar por ai sem rumo, tentar estacionar no coração de alguém, por que o meu infelizmente já esta ocupado.

Aquelas Coisas Depois do TérminoOnde histórias criam vida. Descubra agora