Gostar de quem gosta de mim

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—Capítulo 13—

Batia meus dedos sobre a mesa ritmados no som da música que invadia meus ouvidos pelos fones. Eu estava no meu quarto ouvindo um rock pesado enquanto lia um livro de cálculos estruturais, apesar de não frequentar nenhuma instituição de ensino, eu gostava de estudar coisas de arquitetura e mesmo não tendo grana para comprar os livros ainda assim estudava, algumas coisas eu lia na internet, mas esse livro tinha sido um presente da Eliza.

Ah a Eliza. Fazia alguns dias que eu não falava com ela, desde o nosso beijo ela não tinha mais vindo aqui ou ligado para mim. Eu também não tinha tido coragem de ligar para ela, me sentia culpado por tê-la beijado em um momento inoportuno. Era um idiota mesmo. Por causa da minha burrice ela não estava mais falando comigo e isso era uma droga. Por que eu tinha que ser tão impulsivo? Precisava controlar isso ou acabaria tirando ela da minha vida de vez.

Coloquei o livro sobre a cama, desliguei a música no celular e tirei os fones deixando tudo em cima da cama, estava com sede, precisava de água. Peguei nas rodas da cadeira e me direcionei para a cozinha, mas quando cheguei à sala, esbarrei com ninguém mais ninguém menos do que a senhorita Borges.

– Eliza? – Estranhei sua presença ali, já que ela costumava avisar quando vinha.

– Oi... Justin – falou com cautela parecendo constrangida.

– O que veio fazer aqui? – Perguntei sem ser grosso.

– Eu vim.... Falar com a Pattie – o clima entre nós estava muito pesado, a tensão era quase que materializada.

– Ah...

Assenti e longos instantes de silêncio se passaram. Eu não estava certo se deveria falar ou não sobre o nosso beijo e Eliza parecia nervosa, era uma situação muito ruim. Até que ela decidiu se pronunciar.

– Hm... Justin, eu quero falar com você sobre o que aconteceu no parque no outro dia... – Começou a se explicar enquanto apertava as mãos uma na outra – Só queria dizer que.... Não deveríamos ter nos beijado, quer dizer, somos amigos, não é, e eu não te vejo mais do que isso, imagina, claro que não – uma risada nervosa escapuliu de sua boca – Foi só um momento inoportuno e eu acabei... – gesticulou com as mãos – Me deixando levar pelo impulso, mas não foi nada mais que isso. É. – desviou o olhar balançando a cabeça em um gesto positivo – Foi um impulso e não deveria ter acontecido. Somos amigos e longe de mim me aproveitar de você, não mesmo. Amizade é a única coisa que existe entre nós, só amizade, apenas isso, você entende, não é?

Suas palavras eram como facas atravessando meu coração. Doía. Doía muito. Doía pra caralho ouvi-la dizer que queria apenas ser minha amiga, eu já sabia disso, até tinha tentado me conformar com isso, mas ouvir as palavras saindo de sua boca, confirmando de fato o que já era, era ainda mais pesado estava acabando comigo, me sentia ainda mais idiota e queria me dar não só um soco, mas uma surra também. Já era péssimo ama-la em segredo, mas isso? Tinha sido ainda pior, eu me sentia em cacos, minha vontade era esmurrar uma parede por ser tão idiota e alimentar algo já sabendo que nunca daria certo.

Mas ela não precisava saber disso, não precisava saber que eu sofria, que eu a queria pra mim, que eu não queria apenas a droga de uma amizade, que não, eu não queria ela só como amiga, mas também como mulher, como minha! Mas se eu falasse, ela se afastaria de mim e isso eu não queria, preferia ter ela por perto apenas como amiga e sofrer por isso do que não tê-la de nenhum jeito, longe de mim, sem que não pudesse nem ver seu rosto, então engoli o que estava sentindo e falei o que eu nunca quis, em nenhum momento, falar para ela.

– Claro. Claro – assenti – Tem razão, você está certa, não somos... – engoli em seco – Mais do que amigos, foi um momento inoportuno, para ambos, claro. Somos amigos, só isso, você tem razão, não vai.... Acontecer de novo – falei contragosto, mas com um sorriso forçado no rosto.

– Que bom que resolvemos isso, não queria que ficasse um clima estranho entre a gente – ela sorriu parecendo aliviada. Claro, por que não estaria.

– É. Eu também não – meus lábios ficaram em uma linha fina e nos calamos.

– Eliza, querida – minha mãe surgiu ao lado de Eliza chamando nossa atenção.

– Pattie, oi. – Eliza falou com um sorriso fraco.

– Já terminei minha ligação, podemos falar agora – minha mãe falou não percebendo a situação estranha entre nós, pelo menos pareceu não perceber.

– Claro, eu já vou. – ela falou olhando para minha mãe, em seguida olhou para mim – Foi bom falar com você Justin, a gente se ver.

Eliza falou e eu apenas assenti então as duas seguiram em direção à cozinha. Eu estava com raiva, com muita raiva, meu sangue estava fervendo. Claro que eu sabia que ora ou outra ela acabaria falando isso já era mais do que esperado, mas eu não podia controlar e não sentir isso, não podia!

Fechei as mãos em punho e peguei nas rodas da cadeira me direcionando para o meu quarto entrando nesse e batendo a porta atrás de mim. Me odiar era pouco para o que estava sentindo, eu queria.... Queria quebrar aquele quarto inteiro até que sobrassem apenas cinzas. Caralho, como eu estava com raiva.

Apertei ainda mais as mãos, que ainda estavam cerradas em punho e olhei na direção da escrivaninha e vi meu celular lembrando automaticamente da visita que meus amigos tinham me feito há uns dias. Hailey tinha trazido April, que era uma garota muito legal. Ela tinha sido muito gentil e parecia ter gostado de mim, até tínhamos trocado contato.

Abri um sorriso tendo uma ideia e ao mesmo tempo tomando uma decisão. Peguei nas rodas da cadeira e fui até a escrivaninha pegando meu celular indo em contatos procurando o número de April já discando e ouvindo o telefone tocar. No quarto toque ela atendeu.

Pronto – sua voz soou do outro lado.

– April, oi. É o Justin, então.... Eu estava pensando se você não queria sair para um café ou para beber alguma coisa, não sei, o que acha, está livre?

Eu adoraria, seria um prazer, mas depende de quando, você quer ir que dia?

– Hoje – falei firme decidido a dar aquele passo – Ou amanhã, não sei. Sexta as pessoas estão sempre mais cansadas – até tinha esquecido que ela trabalhava e ainda estava na graduação.

Olha.... Eu prefiro amanhã mesmo. Hoje realmente prefiro dormir mais cedo porque estou com o sono um pouco desregulado, mas amanhã estou livre o dia todo.

– Então fechou, te encontro amanhã?

– Está bem, te vejo amanhã. Tchau Justin.

E ela finalizou a chamada. Fiquei olhando para a tela do celular por um tempo pensando no que eu tinha feito. Sem medir as consequências, eu tinha beijado Eliza com a miséria esperança de que ela reagiria de um jeito diferente do que ela reagiu. No momento em que meus lábios tocaram os seus, ela correspondeu pelo calor do momento e por estar emocionalmente frágil, mas assim que percebeu que seus lábios tocavam os lábios de seu querido amigo Justin, se afastou e saiu correndo e depois veio pedir desculpas pelo mal-entendido. E mesmo com o tempo e com tudo que já tinha acontecido, eu continuava um bobo apaixonado por alguém que nunca olharia para mim como eu olhava para ela. Muita burrice para um homem só.

Mas chega disso. Não! Não vou mais sofrer por um amor impossível, não vou chorar por uma mulher que me aprisionou como amigo e não consegue me enxergar como algo mais. Não vou lamentar o fato de que nunca chegarei a sua altura, não vou olhar apenas para ela quando sei que ela não me quer e nunca vai querer. Não! Não mais. Chega! A partir de agora eu vou gostar de quem gosta de mim e quer algo comigo e poder ficar comigo. De agora em diante vou amar quem me ama e não apenas como um amigo que escuta tudo. Vou tentar ser feliz e sair com garotas que queiram sair comigo e eu vou fazer isso com April, porque ela sim me ver muito e muito mais do que um simples amigo.

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