Assim que entramos no carro pude sentir o ambiente estranho entre nós, que eu só queria quebrar, eu queria puder confiar nele, mesmo ele parecendo ser a última pessoa em que eu devesse confiar. O cheiro que estava no carro era mais uma vez familiar e me entrava no nariz como uma reliquía.
Ele liga o carro e sinto o calor do mesmo a aumentar.
"Ah...sabes alguma loja de telemoveis por aqui perto? Eu precisava de comprar um." Pergunto-lhe sem medos, determinada a começar um diálogo com um sentido positivo.
" Sei sim. Porquê é que precisas de um telemovel?" questiona-me ele. Ele faz perguntas sem cabimento, sinceramente.
"Porque o meu antigo se estragou, e mudar nunca fez mal a ninguém." Afirmo.
"Se tu o dizes." Deixa ele soar da sua boca estas palavras.
O carro começou a andar e á medida que isso acontecia ia observando pela janela nem sei bem o quê, acho que pretendia não olhar para o Jamie, já que a tentação era tão grande, enorme aliás.
Queria poder-lhe questionar sobre a carta, mas e se, com isso viesse uma discussão? ou algo que me pudesse fazer sair deste carro neste segundo? Mas se viver com medo de todas as respostas, nuca saberei aquilo que sempre desejei saber. Eu sou capaz.
"Jamie?" deixo eu escapar dos meus lábios, secos no momento.
"Sim Cassandra." Diz ele, de uma forma que me provoca algo na barriga, um balanço estranho.
"Ah...sabes algo sobre a carta? Falaste de uma maneira..." Começo eu.
"Já disse que não. Mas se precisares de desabafar.... ou assim." Responde-me ele.
"Não entendo." revelo eu.
"O quê exatamente?" Pergunta-me ele, lançando os olhos dele sobre mim, o que me fez estremecer. Raios, nunca mais chegavamos a porra da loja.
" Tu. Se bem que, existem mais coisas que não entendo ou não quero tê-lo de fazer, mas neste momento não te entendo, mas gostava de o fazer. És frio, como és simpático, ignoras como lanças um olhar que ....bem nada, esquece esta parte " Revelo eu entre uma expressão de vergonha.
" Eu sinto que te devia proteger, não me perguntes porquê. Mas não ando atrás de quem não me deseja em ter, ou de quem não quer a minha proteção." Explica-me ele deixando me claramente corada. Um buraco agora dava um jeitão
"Ah...e diz lá preciso de proteção para quÊ? A única coisa que me pode atingir é mesmo a minha nota no exame final haha" Digo tentando animar um pouco a conversa entre nós, duas almas mas que parecem unidas por algo estranho. Estou a enlouquecer, ou talvez sempre tenha sido louca.
Ele provoca coisas estranhas em mím.
"Não sei, mas Cassie não te quero mal....Prometo." promete ele então, deixando me completamente surpresa, ele está a revelar uma parte mais querida e que prefiro, dele.
Pretendia então acabar por aqui isto, pelo menos este assunto, sobre ele quero eu dizer.
"Olha, uma boa maneira de começarmos uma amizade seria confiares em mim, conta-me o que têm essa carta." Exibe ele então a sua tentativa de abrir-me com ele.
Nunca contaria nada disto alguém, além de Peter e Melissa, mas esses tinham-me agora deixado e podia não conhecer bem Jamie, mas era ele que ali estava e parecia ser seguro, agora confiar nele, e além disso se guardasse tudo para mim iria rebentar.
"Bem...por onde hei de começar.... depois de ter voltado do hospital soube que os meus pais foram assassinados e o meu tio Jack deixou aquela carta para mim, mas ainda não me decidi se hei de a ler ou não. Chama-me cobarde mas temo do que lá possa estar escrito." Confio-lhe eu.
"Não és cobarde, estás aqui depois disso portanto não és de todo cobarde. Entendo o teu receio...mas Cassandra, pensa algo escrito lá pode estar, que te desiluda e faça cair mas por outro lado algo que te faça aliviar a dor, ou até mesmo compreende-la." Aconselha-me ele, parando o carro e fazendo me perceber que tinhamos chegado então ao destino.
"Bem, vou comprar o que pretendo, prometo ser rápida. Gostava que depois continuassemos a nossa conversa...." Revelo eu.
"Eu também. Não queres que vá contigo a loja? Posso esperar aqui se desejares, mas também te posso acompanhar." Oferece-se ele.
"Eu vou ser rápida portanto podes ficar aqui, mas obrigada, agradeço a tua oferta." Digo pegando na minha mala e saindo daquele carro.
A simpatia do Jamie estava me a deixar bem disposta, o que seria bom,visto que estou no inicio da semana, e não me apetecia nada começar logo mal. Cá fora está um tempo bom assim dizendo, o céu brilha como uma salvação, mas ainda assim algumas nuvens chamam por atenção.
Dirigo-me então á loja de telemoveis, pretendia realmente ser rápida, não só porque tinha deixado o Jamie á espera, mas também porque qualquer telemovel servia apenas precisava de um.
Assim que entro, um som é imitido pela porta o que me assusta.
"Boa tarde." Digo ao rapaz moreno que se encontra no balcão de modo a tentar cubrir o meu embaraço no momento.
Ele não responde o que me deixa de pé atrás sobre a sua simpatia, mas não era nada de relevante certamente.
Olho para o montante de telemoveis que se encontrava agora á minha volta, e tento procurar preços relativamente baixos.
" Vai só ficar a observar?" Questiona-me o tal rapaz, que afirmo agora ser rude, muito rude.
"Sabe que antes de tomar uma decisão deve-se observar bem!" exclamo eu tentando fazê-lo entender o quão rude foi, mas parece não ter resultado pois ele estava prestes a responder-me.
"Como queira." Diz por fim ele, desistindo ter uma briga comigo, que deveria ser das poucas clientes porque caso ele trate toda gente assim não deverá haver muitas certamente.
Olho finalmente para um telemovel que me parece minimamente bom e que possuí um bom preço, pego nele e levo-o á caixa.
"70 euros." Informa-me o rude rapaz sobre quanto devo pagar para o produto receber.
Dou-lhe o dinheiro e pego no que comprei.
"É como a sua mãe ou apenas finge sê-lo para ter importância?" pergunta-me o rapaz. Devo provavelmente ter ouvido mal, só pode, ou este jovem rapaz tinha de certeza um problema.
"Desculpe?!" Falo eu com um tom de indignação total.
"Jonh!" Grita.....o Jamie? Há uns segundos ele não estava aqui, como é que entrou assim e nem me apercebi? E ele conhece o rapaz? Estou confusa.
"Jamie...Ham..." Solta estas palavras, atrapalhado o tal rapaz chamado Jonh.
"Cassandra vamos!" Ordena-me o Jamie.
Nunca sigo ordens, ou não gosto de as seguir, mas o melhor que tinha a fazer era seguir a dada pelo Jamie, visto que de qualquer das maneiras era o que iria fazer, ir-me embora com ele e não me podia esquecer que estávamos a tentar começar uma amizade, não queria já estragar isso.
Ando então até a porta e posso sentir que o Jamie está atrás de mim pelo ritmo da batida do meu coração.