Capítulo 10

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A dor latejava, pulsava em sua têmpora. Sentada em uma maca, Gisella agradeceu num murmúrio quando a enfermeira se afastou depois de terminar o curativo.

– O joelho não precisa de sutura. – Ela avisou antes de sair deixando-a só.

Recebeu três pontos próximos á têmpora, do médico educado que sorriu quando terminou.

– Se não tomar sol e cuidar direitinho, a cicatriz não vai ficar tão evidente. – ele explicou sério.

Mas aquilo não era importante para ela.

O cheiro de hospital era penetrante em suas narinas. Questionou-se em algum momento se conseguia se recordar de todo o fato, mas era apenas o momento em que se viu de encontro ao vidro do carro e a lembrança da dor constante. Entretanto, seu pensamento maior se concentrava na explicação que daria á Adan. "Ele não vai me perdoar", repetia para si.

Mais tarde, Pietra surgiu. Agora mais tranqüila já que deu tudo certo no final. Quando soube que bateu o carro de Adan, apesar de expressar ligeira preocupação, tentou consolá-la, mas ela sabia que o homem demorava a perdoar quando o decepcionavam, aliás, ambas sabiam.

Agora Pietra se dividia em atenção a ela e ao pequeno recém chegado Denver, um gorduchinho rosado e perfeito, além de saudável. Dayse também se desculpou, mesmo ela se cansando de dizer que não se arrependeu por ter feito a boa ação, o que era verdade. Foi sincera em afirmar que faria novamente. A única coisa que a deixava insegura, era a reação de Adan quando visse o estado do furgão.

– Deve ficar em observação por pelo menos esta noite, Gisella. – o doutor Capello, plantonista naquela noite, informou. – Por causa do trauma na testa. – acrescentou ante sua careta.

Ela apenas aquiesceu, mas no fundo sabia que voltaria para casa naquela mesma noite, com Adan.

***

A maca era dura, o soro gotejava tão lento que sua impaciência estremecia diante dele, olhou para porta ao ouvir vozes, a qualquer momento Adan passaria por ela, e mesmo com seu coração ao salto iria tentar explicar o ocorrido, sua imprudência.

E quando ele entrou, estava sentada e cabisbaixa, as mãos cruzadas entre os joelhos, o olhar morto em uma expressão lívida. Demorou a perceber a presença silenciosa, e foi o que ele precisou para se recompor ao saber que havia sofrido um acidente. Ainda havia mancha de sangue em sua blusa, a calça jeans estava rasgada até a altura do joelho exatamente onde estava o curativo sobre ele. Ele fez um movimento para que o notasse.

– Adan...

Nossa! Seu coração foi pro alto. Sua voz vacilou quando o notou ao erguer a cabeça e se deparar com os olhos mais cinzas que já viu. Mesmo a expressão fechada dele não a atemorizou.

– Eu posso explicar...

– Não é necessário, – ele usou o tom seco e frio naquele instante. – acredite.

– Eu... Esqueci o freio de mão. – gaguejou tentando encontrar as palavras certas. Ignorou as lágrimas que escorreram pelo rosto e também, a expressão que ele lançava. – Você já viu o furgão?

Ele balançou cabeça, colocou uma mão no bolso e andou alguns passos, a bengala na outra mão para ajudar.

– Você é maluca? – ele bradou por fim, quando ela fez menção de se levantar. – Sabe o que poderia ter causado?

Eu Corro Para VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora