Capítulo 9

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As mulheres gritavam animadas recolhendo as vasilhas e pertences que ficaram expostos sobre a mesa, sorriam e falavam alto, alegres por terem colaborado de alguma maneira com a construção da ala de esporte e entretenimento da escola onde seus filhos e netos estudavam, ou estudariam um dia no futuro. Os rapazes recolhiam os capacetes dispostos para o evento naquele dia, doados pela prefeitura; animados, também organizaram uma comemoração para aquele dia, afinal era sábado, o fim da tarde caía calma e a contar pela fraca brisa certamente seria uma noite estrelada.

Gisella aspirou o ar e pousou os olhos analisadores sobre o papel comparando com a construção erguida á base de muito esforço, dedicação e determinação; voltou os olhos pela última vez no croqui procurando algo em sua vista criteriosa que o separasse do formato do desenho. Adan realmente era um sábio, pensou ao deslizar os dedos sobre a página, procurou algo que fosse causar diferença na atividade dos estudantes, bem como no acolhimento e conforto de todos. Pensou na sala de informática, compacta e uniforme; na biblioteca "para todos", onde pelo que soube foi feita apenas para empréstimo de livros que os alunos necessitavam para estudar, agora seria uma ampla biblioteca com espaço para uma confortável sala de leitura diária. Até a sala de esportes, ampliada caberia a piscina olímpica e o salão para jogos com uma pequena arquibancada, segundo os olhos do arquiteto que as criaram. Ele aprovou um trabalho original, que seguia a "linha" daquela comunidade: simples, inteligente, ativa e cooperativa bem como seu padrão e realidade. Não sabia muito sobre como ele preferiu morar ali na ocasião, mas imaginava que teria sido após o acidente e durante sua recuperação.

– Não quer se juntar a nós?

Frank perguntou tirando-a de seus devaneios.

– O quê?

– Vamos comemorar o término da ala oeste, – ele vibrou sentando ao seu lado. – apesar de ainda faltar o acabamento.

– Admiro o ânimo de vocês, – comentou soltando uma respiração pesada. – mas hoje eu pretendo dormir tudo o que não dormi até agora.

Frank riu de seu exagero.

– Você merece! Vamos sempre olhar este lado da escola e saber que "Gisella, a engenheira" foi quem fez este trabalho.

– Já estava feito. – lembrou-o. – Em parte, ao menos.

– A parte mais importante faltava. – ele insistiu.

– Pode ser. – desistiu por fim. – Mas ainda falta muita coisa, como você disse o acabamento. É a parte mais trabalhosa, viu?

– É verdade. E ainda não temos dinheiro.

Aquela realidade era a mais triste.

– Até aqui, – Gisella apontou a construção com o dedo. – foi rápido porque já tínhamos os materiais todos em mãos, graças ao esforço e iniciativa de Apola.

– Tem razão. – ele concordou. De repente se ergueu batendo as mãos da poeira na calça jeans. – Minha irmã é esforçada. Será uma ótima diretora nesta escola.

– Eu fiquei feliz por saber sobre o convite. – confessou sincera, sorriu ajeitando o capacete que caía de um lado só. – Amapola tem decisões certeiras e é ótima para lidar com as pessoas.

– Sim. Ela vai assumir após a licença maternidade, mas está que não fala de outra coisa.

– Seu pai tem sorte com os filhos. – comentou sentindo a garganta raspar.

– É, mas senti um tom de animosidade.

– É, sentiu. – concordou e respirou fundo e pesado antes de imitá-lo, erguendo seus quadris cansados, começou a guardar seus pertences antes de concluir. – Mas então, aproveite a noite com seus amigos.

Eu Corro Para VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora