thirtieth-seventh day ☹

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Lauren está com o olhar pesado e o rosto inchado. Ela não havia dormido, comido e muito menos parou de chorar um segundo sequer. Jauregui está em um daqueles dias que ela somente quer ficar deitada ao lado de Camila, conversando sobre seu dia e lhe dando mais uma razão para viver. 

Lauren não queria ir ao hospital, mas se ela não fosse visitar Camila, quem iria lhe dar um motivo para viver? Lauren estava sendo a única com algum pensamento positivo ali e Ally tirou isso dela quando disse aquelas palavras, mas a garota apenas não consegue deixar Camila para trás. 

Mas e se Camila já tiver deixado Lauren para trás?

Lauren andava em passos curtos e lentos em direção ao quarto de Camila, sua respiração calma e ela parecia mais um corpo sem vida andando. Sua aparência estava um lixo. Os olhos cansados com sombras escuras ao redor indicando a falta de sono, as roupas amarrotadas, o cabelo completamente bagunçado. Ela estava tão destruída por fora quanto por dentro. Mas então, ela ouviu. 

- Eu preciso que você assine isso. - Lauren parou no corredor assim que ouviu a voz da doutora Delevingne, ela colocou a cabeça perto da porta do quarto para ver o que estava acontecendo. Sinuhe e Sofia estavam chorando baixinho enquanto a mulher segurava alguns papéis na mão. 

- E-eu... Não vou assinar! - Sinuhe disse firme. O que está acontecendo? Lauren pensou.

- Ela não tem nenhuma chance de sobreviver? - Sofia perguntou, o tom de voz tão baixo que Lauren teve que chegar mais perto para ouvir. 

- Normalmente o paciente em coma evolui para melhora do nível de consciência ou para a morte encefálica, e Camila certamente evoluiu para a melhora, mas é como se tudo o que fizemos ou o que tentamos fazer é em vão. Ela já deveria ter acordado. - A mulher explicou e Lauren teve que fechar os olhos e suspirar para não ter que chorar novamente. Ela já estava entendendo tudo. - Sinuhe, Camila está em um coma profundo com 85% de chance de morrer...

- Mas ainda têm os 15% de chance... - Fora Lauren quem dissera. As três mulheres desviaram o olhar para a porta onde havia uma Lauren acabada e com lágrimas acumuladas nos olhos. - E doutora, eu vou apostar tudo nesse 15%.

- Isso não é um jogo, Lauren. - Ela rebateu. Odiava ter que fazer isso, mas é o seu trabalho. - Você não pode apostar tudo e simplesmente esperar que ganhe, isso é uma vida. É a vida da Camila, não um jogo. 

- Camila é a minha vida! - Lauren gritou, olhando para Sinuhe e a doutora. - Se você desligar os aparelhos e-eu... Eu vou morrer junto com ela...

- Querida...

- Você não pode esperar mais algum tempo? - Lauren sugeriu e a doutora negou. 

- Vai fazer quarenta dias...

- Esperamos quarenta dias, então podemos esperar mais algum tempo, certo? - Lauren limpou as lágrimas, ela não deixaria Camila ir. 

Não estava em seus planos deixar Camila ir, de jeito nenhum. Por Deus, ela estava cansada de tudo aquilo. Estava cansada de ficar sozinha. Estava cansada de ter que olhar para Camila e não ver seus olhos castanhos, cansado de não ter o som da voz de Camila para lhe distrair de alguma aula. Ela estava cansada de tudo isso e mais um pouco. 

Sinuhe diria que está orgulhosa de Lauren, mas ela apenas não consegue mais passar por tudo isso de cabeça erguida. Doí tanto ter que ver sua filha em um estado vegetativo como aquele, sem poder ver o lindo sorriso dela depois de um dia cansativo de aula. Ou não ouvir sua filha falar sobre suas bandas favoritas ou ter uma discussão com Sofia ao amanhecer para saber quem usaria o banheiro primeiro. Era tudo tão ruim... E saber que sua filha não está acordada é apenas mais doloroso ainda. 

Depois de uns segundos se olhando, Sinuhe puxou Sofia para fora do quarto, chamando a doutora e dizendo que elas precisavam de mais um tempo para pensar no que fazer. Delevingne suspirou e assentiu, ela sabia que eles iriam ser duros no começo mas iriam ceder no final. 

Então, Lauren estava sozinha com Camila, mais um dia...

Lauren se lembrava do primeiro dia. No hospital. Ela se lembra de quando a ambulância chegou no colégio e Ally só sabia gritar com Lauren, lhe dizendo coisas horríveis, mas ninguém olhava para Nicholas, o motorista do carro. Ninguém olhava para ele e transmitia seu ódio ou qualquer outro tipo de sentimento, era como se tivesse somente Lauren ali e era ela que dirigia o carro. Então, quando a ambulância chegou, Ally disse que os encontraria no hospital, Lauren nem sequer conseguia falar nada. Era como se tudo a sua volta fosse apenas imaginação... Você nunca acredita que algo possa acontecer, até que ela aconteça com você.

Lauren assistia filmes em que um dos principais moria ou que sofria algum tipo de acidente, mas ela nunca achou que fosse acontecer de verdade. Aquilo parecia mais uma cena de filme do que realidade, e ela queria que fosse imaginação. 

Quando Lauren descobriu que Camila estava em um coma induzido pelo efeito de concussão cerebral, ela não soube como reagir. Ela como se as palavras tivessem sumido de sua boca e estava em estado de choque. Ela não conseguia imaginar o cérebro de Camila sendo jogado nas paredes do crânio quando ela caiu no chão. Era impossível imaginar qualquer coisa do tipo. Mas ela só queria que Camila acordasse. 

Não importa se Camila acordasse no primeiro ou no último dia, ela só queria ver a latina mais uma vez fora daquele hospital. 

- Eu apenas quero ver você novamente e colecionar momentos novos... Isso não é um bom motivo? - Lauren perguntou, sua voz sempre baixa e carregada de soluços - Porque eu acho que não temos momentos o suficiente para a vida, eu... Não vou te deixar partir, Camila. Não está na sua hora, não está...

Naquele momento, Lauren prometeu para Camila que iria continuar lhe dando motivos para viver e que não importa o quão duro o dia possa ser, ela não iria desistir de Camila, não iria deixá-la ir. 

Não me deixe ir, Lauren.  

50 reasons to live (2nd book)Onde histórias criam vida. Descubra agora