Ainda no Verão

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– Vermelhas?

– Não.

– Roxas?

– Não.

– Brancas?

– Não.

Malicalus pensou um pouco, antes de tentar outra vez. Já fazia algum tempo desde que conhecera Mipiniê. Os dois passavam as tardes juntos e conversavam sobre quase tudo.

– Azuis?

Mipiniê riu.

– Nunca vi flor azul.

– Pois eu já. – ele se estufou, todo orgulhoso – Já vi flores de todas as cores e tamanhos. Uma vez vi até uma flor que era tão grande quanto você.

Mipiniê se pôs desconfiada. Achou que ele só estava querendo impressionar.

– Eu desisto. – disse ele – Me conta a cor das suas flores?

Ela sorriu, tímida de orgulho.

– São amarelas.

Ele piscou por um momento e depois desatou a rir.

– Que esquisito!

Mipiniê sorriu um sorriso que não queria sorrir.

– O que tem de esquisito com a cor das minhas flores?

Ele riu ainda mais.

– Elas são amarelas!

O sorriso que não queria sorrir murchou.

– Acho que não quero mais conversar com você hoje. – disse Mipiniê, magoada. Ninguém nunca tinha rido de suas flores antes.

Ele parou de rir e percebeu que tinha feito alguma besteira.

– Você ficou triste?

Mipiniê não respondeu.

– Por que você ficou triste?

E, de novo, Mipiniê não respondeu.

– Fala alguma coisa! Por que você não fala?

– E por que é que você fala tanto? – gritou ela.

Malicalus se assustou. Nem imaginava que Mipiniê fosse capaz de gritar.

– Não precisa ficar irritada. Eu só não entendi por que você ficou triste.

– Fiquei triste porque você ofendeu minhas flores!

– Mas são só flores! Eu as arranco o tempo todo, de outras árvores. – e completou – E amarelo é uma cor bem esquisita.

Mipiniê torceu seus galhos.

– Só porque você acha isso, não quer dizer que todo mundo ache! Muitas árvores já elogiaram minhas flores!

– Mas por que é que você se importa tanto com uma bobagem dessas?

Mipiniê sentiu a tristeza voltar crescida (o que é normal depois de a gente explodir). Respirou fundo e tentou explicar.

– Minhas flores são o melhor de mim. – disse ela – Toda árvore tem orgulho de alguma coisa. Ou dos galhos, ou das folhas, ou das flores. Você não devia rir do que os outros têm de melhor.

Malicalus balançou a cabeça, pensativo; e justo quando Mipiniê teve medo que ele fosse embora, Malicalus abraçou seu tronco. Um abraço leve, gostoso e fresquinho.

– Desculpa.

Mipiniê desculpou.Não tinha certeza se ele entendera, mas desculpou mesmo assim.

Mipiniê e MalicalusOnde histórias criam vida. Descubra agora