Outono

4 0 0
                                    

– Sopra mais! – gritou Mipiniê.

Malicalus soprou e Mipiniê riu.

Uma chuva de folhas secas soltou-se de seus galhos e caiu sobre o chão, formando um tapete fofo e castanho.

– De novo? – perguntou ele.

– Não!

Mas ele soprou mesmo assim e Mipiniê voltou a rir.

– Malicalus, pare! Isso faz cócegas. Pare!

E quanto mais ela pedia que não, mais ele soprava para ver ela rir, pois tinha descoberto que gostava da risada dela.

Malicalus soprou e soprou e soprou tanto que uma hora ficou sem fôlego. Então resolveu se deitar no chão e ficou ali, balançando os braços e as pernas para fazer anjo de folha seca.

– Mipiniê.

– Oi?

– Você até que fica bonita sem folhas.

Ela riu.

– Fico nada! Agora só na primavera, depois que eu florir.

Ele se sentou.

– Tem lugar em que as árvores dão flor no inverno, sabia?

– Mentira.

– Verdade. Eu já vi.

Mipiniê suspirou.

– Que foi? – perguntou Malicalus, com medo de tê-la chateado.

– Nada não.

– Conta.

– Não é nada não.

– Mipiniê, eu te conheço. Conta o que foi.

– É que você fica aí falando dessas coisas que você já viu e eu fico aqui pensando que eu nunca vou ver nada disso.

– Ah.

Os dois ficaram em silêncio, por um tempo.

– Eu queria ser vento feito você. – disse ela.

– Mas você é tão bonita, sendo árvore.

– Mas não sou livre.

Mipiniê murchou de leve e Malicalus foi se sentar num galho dela, para ficar mais perto.

– Se você fosse vento, você não ia ter flor amarela.

Ela o encarou, assustada de ver que ele tinha razão.

– Acho que eu sou vento porque tinha de ser vento. – continuou ele – E você é árvore porque tinha de ser árvore. Ninguém devia de ficar triste por ser o que é.

Então Mipiniê sorriue pensou que Malicalus podia ser bem sabido, de vez em quando.

Mipiniê e MalicalusOnde histórias criam vida. Descubra agora