Teve um dia que Malicalus não apareceu.
Mipiniê esperou, esperou, esperou e nada. Então pediu a um bem-te-vi que perguntasse à Velha Quaresmeira se ela não tinha nenhuma notícia dele.
Enquanto o bem-te-vi não voltava, Mipiniê se torceu e retorceu de ansiedade. E se Malicalus tivesse sido apanhado por uma corrente de ar? Por um redemoinho? Ou pior: e se tivesse ficado preso num incêndio?
Há tempos, as chuvas não vinham e os incêndios estavam se tornando cada vez mais comuns. Quase sempre, por culpa dos bichos de duas patas. Mipiniê crescera ouvindo histórias terríveis de como os bichos de duas patas derrubavam árvores e queimavam florestas inteiras. Sua espécie era muito forte e até conseguia aguentar um pouco de fogo, mas quando as chamas queimavam altas, não havia como sobreviver.
– Mipiniê? – chamou o bem-te-vi.
– Oi?
– Eu falei com a Velha Quaresmeira.
– E?
– Ela falou que o Malicalus foi embora.
– Como assim? Ele vai voltar?
– Ela falou que ele sempre volta.
– Quando?
– Ela falou que não sabe. Ele vai e volta quando quer.
Mipiniê não soube o que dizer. Malicalus sequer tinha vindo se despedir. Por que teria ido embora daquele jeito?
Uma gota de seiva escorreu do olho de Mipiniê e o bem-te-vi sentiu que era melhor deixá-la sozinha.
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Mipiniê e Malicalus
Short StoryJá imaginou o que aconteceria se uma árvore se tornasse amiga do vento? Descubra a história de Mipiniê e Malicalus neste conto para crianças (e adultos!) de todas as idades.