27/10/2016Tenho quinze anos já há um mês, estou mais adulta agora (ou não) e a minha mãe continua a não querer deixar-me frequentar lugares nenhuns!! Ela diz que eu sou maluca por pensar que alguma vez me iria deixar ir a uma festarola de Halloween cujo horário é das sete e meia da tarde até à meia noite em pleno centro de Manchester.
Está a exagerar imenso... A festa vai decorrer na escola da minha melhor amiga onde nem sequer é permitido o consumo de álcool ou de qualquer outra substância, mas diga eu o que disser, a resposta da minha progenitora continuará a ser um redondo não. Eu só espero que ela não continue a ser tão... assim, porque eu sou uma rapariga que não gosta de estar fechada em casa, gosto de ir ao cinema, ao teatro, ao centro comercial, de estar com os meus amigos, gosto de me divertir e não consigo sair desta onda que é a super proteção da minha mãe e sempre que penso que me estou a esquivar dela, ela retorna e torna a envolver-me e fico sempre neste rebuliço de ''não podes ir'', ''não conheço quem vai, por isso não vais'', ''é que nem pensar''.
Já tinha até imaginado cada detalhe do meu disfarce, eu ia usar um vestido de cor preta com uns collants rasgados, um leather jacket e uma maquilhagem onde ia usar e abusar de sombra de olhos preta e combiná-la com um batom bordeaux de tom avassalador, eu queria parecer e agir como uma vampira durante aquela festa, todas as séries e filmes que vi sobre este ser sobrenatural tão poderoso deixaram-me completamente fascinada, não vou mentir.
Pode ser que mesmo sem ir à tal festa, cujos pormenores sobre a mesma continuam a emergir na minha cabeça, ainda me possa disfarçar, nunca se é demasiado velho para o Halloween, e se a minha mãe não me deixa ir ao baile de mascaras temático por achar que não tenho maturidade suficiente para que tudo corra totalmente bem, tenho que arranjar outra maneira de viver este dia que sempre me cativou desde criança.
Em princípio vou pintar o meu cabelo de cor-de-rosa para usar na escola juntamente com uma amiga minha, a Rachel, que por sua vez vai pintar o cabelo de azul, segundo a lógica dela, juntas formaremos a Harley Quinn de Gotham City ou mais recentemente do filme Suicide Squad. Eu gostei da ideia, até porque eu sou a pessoa que mais alinha nesta espécie de circunstâncias, mas estou com algum medo do que os professores e os meus colegas vão dizer ou pensar quando nos contemplarem em tais figuras quando formos segunda-feira para o estabelecimento de ensino.
Eu ligo imenso à opinião dos outros e digamos que o meu começo neste ano letivo não foi nem está a ser o correto, toda a gente pensa que eu sou uma rapariga com um baixo nível de inteligência e uma grande quantidade de pessoal da minha turma ficou escandalizado com o facto de eu ter tirado dezanove, de zero a vinte, numa ficha de matemática. Hoje um colega meu até me perguntou se eu sabia definir ''negligência'' com a cara mais arrogante do mundo e eu como já me estou a adaptar tão bem ao meu papel de miúda infantil e burra segui o guião da minha personagem, dizendo que não conhecia tal definição, apesar de saber que a palavra tem como significado ser-se descuidado e desleixado em relação a algo ou executar uma tarefa de forma desatenta e irresponsável, onde esse comportamento pode chegar a gerar consequências.
Muito sinceramente estou farta de agir deste modo, mas é inevitável, foi o chapéu que me entregaram para as mãos, por isso é o chapéu que vou ter que colocar sobre a minha cabeça mesmo sabendo que ele não me pertence e que me sinto imensamente ridícula ao usá-lo.
Se foi para me terem dado um chapéu, ao menos que fosse um daqueles cheios de adornos engraçados e brilhantes, pertencente a uma feiticeira que contivesse poderes mágicos de teletransporte para que eu me pudesse retirar de todas as situações menos boas que acontecem à minha volta e para me puder esgueirar sem nenhuma dificuldade ou obstáculo para a festa de Halloween de Manchester que vai ocorrer já amanhã.
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Awkward Disaster
Historia CortaLotis contém intermináveis dificuldades em entender de que se trata e de como se escapa à fase mais assustadora da vida à qual os adultos designam adolescência, ela embarca numa busca incessante pela normalidade nunca alcançada que acaba por termina...