Capítulo 3

269 9 0
                                    

     

Alfonso Herrera tinha 34 anos. Os pais haviam morrido em um acidente de carro quando ele tinha 10. Depois disso, foi criado pela tia, Linda Herrera.
Alfonso assumiu os negócios do pai aos 29 anos. Pegou o que já era uma empresa lucrativa e aumentou seu sucesso.
Eu sabia dele fazia tempo. Sabia daquelas colunas sociais que a classe baixa lia para se informar sobre a classe alta. Os jornais o retratavam como um sujeito inflexível. Um verdadeiro cretino. Mas eu preferia pensar que conhecia um pouco mais o verdadeiro homem.
Seis anos atrás, quando eu tinha 26, minha mãe havia se metido numa situação muito ruim com uma dívida de cartão de crédito, depois de se divorciar do meu pai. Ela devia tanto que o banco ameaçou executar a hipoteca da casa. E eles teriam o direito de fazer isso. Mas Alfonso Herrera salvou o dia.
Ele era do conselho diretor do banco e convenceu todos a darem à minha mãe os meios de salvar a casa e se livrar da dívida. Ela morreu devido a um problema do coração dois anos depois, mas, nesses dois anos, sempre que o nome dele era mencionado nos jornais ou no noticiário, ela contava a história da ajuda que Alfonso lhe oferecera. Eu sabia que ele não era o durão que o mundo pensava que fosse.
E quando eu soube mais sobre suas... delicadas preferências, minhas fantasias começaram. E continuaram. E continuaram até eu entender que precisava fazer alguma coisa a respeito.
Por isso me vi parando na entrada de sua casa de campo num carro com motorista às cinco e quarenta e cinco daquela sexta-feira. Sem bagagem. Sem malas. Só minha bolsa e o celular.
Um grande golden retriever estava na porta da frente. Era um cachorro bonito, de olhos intensos que me viram sair do carro e me aproximar da casa.

— Cachorro bonzinho — falei, estendendo a mão.

 

Eu não era fã de cachorros, mas se Alfonso tinha um, eu precisava me acostumar com ele. O cachorro ganiu, veio a mim e pôs o focinho na minha mão.

 

— Cachorro bonzinho — repeti. — Quem é o menino bonzinho?

 

Ele soltou um latido curto e rolou para eu fazer carinho em sua barriga. Tudo bem, pensei, talvez os cães não fossem assim tão ruins.

— Apollo. — Uma voz tranquila veio da porta da frente. — Vem.

 

A cabeça de Apollo se levantou ao ouvir a voz do dono. Ele lambeu meu rosto e correu para ficar ao lado de Alfonso.

— Vejo que já fez amizade com Apollo.


Hoje ele usava roupas informais: um suéter cinza-claro e calça cinza mais escura. O sujeito podia vestir um saco de papel e ainda assim ficaria ótimo. Não era justo.

— Sim — repliquei, levantando-me e espanando a poeira imaginária da calça. — Ele é um cachorro muito manso.

 

— Não é — corrigiu-me — Normalmente não é tão gentil com estranhos. Tem muita sorte de ele não ter te mordido.

Eu não disse nada. Alfonso se virou e entrou na casa. Nem mesmo olhou para trás para saber se eu o estava seguindo. Mas eu estava, é claro.

— Vamos jantar esta noite à mesa da cozinha — disse ele enquanto me levava pelo saguão.

 

Tentei ver a decoração, uma mistura sutil de antigo e contemporâneo, mas era difícil tirar os olhos dele, que andava na minha frente.
Passamos por um longo corredor e por várias portas fechadas, e durante todo esse tempo ele falava:

Submissão (Adaptada) Onde histórias criam vida. Descubra agora