[Quarta] O Que Eu Faria?

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Por que meu pai tinha que fazer isso? Comigo? Que tortura.

Dominic não parava de falar baixinho no meu ouvido para que seu pai não o ouvisse falando auto. Ele sempre ficava irritado. Sempre.

Eu só queria pegar meu iPod e deitar na minha cama. Porém eu tenho que ficar aqui aturando essa família que, se eu tivesse escolha, não teria na lista de amigos. Por mais que essa lista não exista, já que não tenho nenhum.

Eu sempre amei as quartas-feiras, pois é o único dia que eu poderia ser eu mesma e fazer tudo que desejo. O dia que eu não preciso ver Dominic.

Pelo menos o dinheiro trás algo de bom para mim, o divertimento. Mas hoje, exatamente as 10h e 15 minutos eu fui tirada do meu sono precioso e desejado, simplesmente para estar ao lado dos meus pais quando o seu sócio mais importante chegasse. Então todo meu divertimento foi por água a baixo.

Mais que diabos ele vinha fazer aqui numa quarta-feira? — Foi o que pensei algumas horas atrás, quando eles chegaram e se acomodaram, como sempre.

— O que foi Ap? — Perguntou o garoto de cabelos escuros ao meu lado.

— Já disse para não me chamar assim. Meu nome é April, nada mais nada menos, entendeu Dominic? — Virei meu rosto para observar meus pais movendo suas bocas lentamente para seus amigos, a família de Dominic.

— E você sabe que pode me chamar de Dom. — Não virei meu rosto para ele, mais tinha certeza que ele tinha um sorriso estampado em seu rosto branco.

Suspirei.

— Afinal, por que vocês estão aqui hoje? — perguntei alguns minutos depois que de o silêncio havia pairado sobre nós.

— Meu pai tinha algo muito importante para falar com o seu. Tem alguma coisa haver com uma viagem. Você acha que nós vamos viajar juntos April? — Ele pareceu empolgado, diferente de mim.

— Tomara que não. — sussurrei.

Seus pais se levantaram da cadeira, assim como os meus e começaram a andar na nossa direção.

— April, — Meu pai começou a falar,  suspirando — Sei que você é a melhor amiga do Dominic e ele o seu, mas — Ele fez uma pausa. — Ele terá que ir embora, vai estudar na Suíça. E sua família também irá para lá algum tempo depois.

Minha garganta secou. Eu estava surpresa, o filhinho amado de Carter estava indo embora? Definitivamente confuso, por quê ele tem que ir? O que fez de errado?

Eu não ligo na verdade. Ele tá indo embora e eu não poderia estar mais feliz. Eu queria gritar, pular, dançar e comemorar até os últimos dias da minha vida.

Agora eu não teria ninguém para me atormentar e deixar meus dias mais tediosos, agora também tenho um motivo para pedir aos meus pais para conhecer novas pessoas, pessoas interessantes de verdade. Não serei mais  acordada cedo para receber essa família todos os dias, que felicidadeeeeeee. Não terei que olhar para Dominic todos os dias, da escola até a minha casa. Não vou ter mais um garoto irritante ao meu lado.

Estão todos calados, sem expressões. Menos Dom, que está com a cara fechada e os olhos cheios de lágrimas.

Eu queria virar meu rosto diretamente para o dele e sussurrar que ele é feio e que nunca mais o verei novamente, dizer o quanto estou feliz.

Adeus Dominic.

— Adeus Dominic — sussurrei finalmente ao seu ouvido. Ele se virou e pediu para ir embora, sem olhar no meus rosto novamente. Ele finalmente entendeu que eu não o queria na minha vida.

Eu nunca teria feito tal coisa nesse dia se eu soubesse que acabar sendo uma pessoa tão sozinha nos últimos anos. Passar a adolescência sozinha é horrível, as pessoas acham que você tem algo contagioso e não querem se aproximar.

Apesar de pensar que meus pais deixariam que eu conhecesse novas pessoas, eles se fecharam ainda mais para mim e não se importaram com nada que acontecia comigo. Só davam dinheiro e pronto. Ótima vida April.

Pensei que tudo isso mudaria quando meu irmão voltasse, mais ele não voltou, ele se foi, para sempre. Eu chorei por muito tempo. O único que ficou do meu lado foi o tio Pablo. O tio que todos diziam que é um louco só porque ele é um cientista e um experimentalista. Ganhou necessariamente esse título quando sua filha morreu, a mais de 15 anos atrás. O pior dia da vida de todas as pessoas que estavam ao seu redor. E a única pessoa que enxugou suas lágrimas, foi eu. Mesmo eu sendo apenas uma pequena menina de 7 anos.

Bem, mais o pior dia da minha vida foi quando Dominic respondeu uma das muitas cartas que o enviei. Depois de 3 meses que ele foi embora. E a única coisa que ele disse foi:

Me deixe em paz, vá viver sua vida filhinha de papai. Não quero ser mais incomodado. Adeus para sempre, April.

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Conto pela JACES_M

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