Segundos mais tarde, a estrutura de madeira, composta por dobradiças e uma maçaneta demasiado criativa para uma porta daquela qualidade, voltou a abrir-se e de lá saiu o rude rapaz que trazia a sua expressão carrancuda de anteriormente.
"Mas tu ainda aqui estás?" — Soou a sua voz grave. — " Já disse para ires embora."
"Eu quero ajudar-te, quero..." — No momento em que iria terminar a frase que o meu cérebro biologicamente já tinha preparado, senti um dor aguda de grande intensidade na zona abdominal que levou o meu corpo, instintivamente, a enrolar-se numa perfeita bola.
"Charlotte, o que se passa?"
As dores era continuadas e intensas, retirei os braços que abraçavam os joelho e, devagar voltei a levantar-me. Desapertei o casaco e pequeninas gotículas de sangue pairavam na camisola rosa bebé.
"Charlotte!!" — Ouvi a voz do rapaz e em milésimas de segundo o seu corpo estava tão próximo do meu que senti as suas mãos fazerem pressão no meu ferimento. — "Olha só o que fizes-te!"
"Não precisas de gritar comigo." — Reclamei.
"Vamos ter de ir ao Hospital."
"Não será necessário. Estás atrasado para o teu turno e eu vou já para casa."
"Não! Desculpa, mas desta vez, não te vou deixar ir sem cuidar de ti." — Olhei para cima, os seus olhos, vermelhos e cansados, estavam fixos nos meus e o rapaz preocupado e o herói que antes tinha visto nele, voltaram.
"Ouve, não é necessário." — Coloquei a minha mão sobre a dele, procurando transmitir-lhe calma. — "O médico disse-me que era muito provável isto acontecer se fizesse esforços."
"Por favor, deixa-me ver então." — Ele insistiu.
"Não é preciso."
"CARAMBA! Deixa-me ajudar-te!" — O seu tom elevado e a sua expressão rude e agressiva tinham voltado.
"Pára! Não entendes que não é aos gritos que resolves as situações?"
"Tu não percebes, ninguém percebe!"— Senti o seu corpo, tenso, afastar-se e vi-o descer o lance de escadas.
"Por favor, espera." — Pedi, arrependida das palavras e do tom que tinha usado.
Impressionantemente, o seu corpo parou, e a sua cara foi voltada para mim.
"Não precisas de ajuda, pois não? Então vou embora. Já estou atrasado."
"Não, eu preciso da tua ajuda, deixo-te ajudares-me se me deixares ajudar-te."
Ao som das minhas palavras ele aproximou-se de mim, olhou nos meus olhos e esvaziou, tudo o que parecia estar à tempo demais comprimido no seu peito.
" Tu ainda não percebes te pois não? Aliás ninguém percebe, porque não se esforçam o suficiente para perceber. Tantos e tantas tentaram ajudar, mas quando as coisas se complicavam todos nos abandonaram deixando-nos no pesadelo em que sempre vivemos. Tu não vais ser diferente. Quem tem que ajudar a minha irmã sou eu, e apenas eu, sou eu quem tem essa responsabilidade e sou eu que o vou fazer. Agora se não te importas vou trabalhar porque o futuro da pequena depende do dinheiro que eu ganho."
"E a tua mãe?"
" A vida dela também não foi fácil. Nunca teve apoios e nunca teve grandes oportunidades que a ajudassem a voltar a querer viver. Todos os dias, tenta escapar-se ao pesadelo em que vive refugiando-se no álcool. O meu pai, deixou-nos quando a minha irmã nasceu, não o culpo. Não é fácil viver e apoiar alguém que nunca está sóbrio, que nunca está no seu próprio juízo. " - Fez uma pausa. Olhou para baixo e cerrou os seus maxilares. -" Como vez, sobro eu para suportar os pilares das ruínas que compõem a minha vida. Sou eu, o único a trabalhar e o meu ordenado tem que pagar a luz, o gás, telefones, água, renda de casa, a escola da piolha, o vinho da minha mãe, alimentação para os três, e o que restar, que quase nunca acontece, encaminho para as sessões de fisioterapia que a Bella necessita para ter mais algumas hipóteses de voltar a a andar." - A força que este fazia para não chorar era já notória no tremelicar da sua voz rouca e, quando este parou de falar, elas caíram com intensidade, fazendo o seu peito inchar e desinchar com a respiração acelerada que estas provocavam.
Perante a situação, os meus braços abraçaram o corpo dele que se fixou no meu, tentando juntar de novo todos os pedacinhos que tinham caído com o declamar daquelas palavras tão dolorosas. Mas, surpreendentemente, o rapaz com toda a força e tentando recompor-se, continuou a história que eu julgava ter terminado.
" A Bella não nasceu assim, ela tinha 4 anos quando o acidente se deu." - O seu corpo apertou mais e senti uma insegurança tremenda vinda dele.
"Chhh... Não precisas de recordar isso." - Tentei, mas o meu conselho foi ignorado pelo rapaz bipolar.
"Estava a chover, o dia tinha sido razoavelmente bom em comparação com os outros e, tal como sempre eu vinha a brincar com ela, fazendo-lhe cócegas constantes enquanto esta, fixa no meu colo, me abraçava. Tinha-lhe prometido ir ao parque assim que chegasse do trabalho, para que ela fosse andar de baloiço. Quando tudo parecia correr como planeado, a minha mãe, embriagada puxou-me com tal agressividade, que me fez desequilibrar e cair, rolando com a minha irmã presa a mim, dois lances de escadas." - Pausou, respirou fundo e engoliu mais algumas lágrimas. - "Lembro-me de sentir o seu pequeno corpo debaixo do meu suportando todo o peso vezes e vezes sem conta e lembro-me de levantar rapidamente, sentir dores intensas no braço esquerdo, que mais tarde vim a descobrir estar partido, e , de olhar para o lado e ver Belle estendida, inconsciente. Corri para ela mas nem um único sinal de vida ela tinha. Entrei em pânico e desmaiei." - Desfez o abraço e, voltou a olhar-me fixamente nos olhos. - " Acordei horas mais tarde, deitado numa cama de hospital onde me informaram que a minha irmã estava bem mas estava paralítica. O meu mundo caiu naquele momento e até hoje, 3 anos depois, não o consegui reerguer, pois sei que a minha irmã não vai voltar a andar, a correr, e a ser feliz, por minha causa. Tantas vezes que eu desejo que fosse eu a estar no lugar dela."
"Por favor, pára! Tu não tiveste culpa, foi um acidente!"
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Olá meninas!! Aqui está mais um capítulo que tanto gostei de escrever. E vocês, gostaram de o ler?
Digam-me a vossa opinião nos comentários e votem se gostaram.
Muito obrigada, por todo o apoio que continuam a dar mesmo depois de todos estes meses. OBRIGADA.
Espero que continuem desse lado porque eu vou continuar deste.
All The Love,
A.
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This is Life || Niall Horan
Fanfiction"A literatura faz, á muitos e muitos séculos o que o ser humano ainda procura. Viajar, sem custos, no preciso momento e em minutos ir de uma ponta do globo á outra." A.