Eu tenho que acreditar

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       Os barulhos contra a porta de aço estavam cada vez mais fortes e mais altos, oque fazia com que a pequena Grier chorasse cada vez mais, eles tentavam entrar e o medo percorria meu corpo, mas ele não parecia está com tanto medo como eu

-Faz essa ratinha calar a boca, ta atraindo mais deles
-Ela não é um rato e ta com fome, o que você quer que eu faça?
-Da comida pra ela
-Você é idiota? Como eu vou fazer uma mamadeira sem água, sem nada

Ele suspirou, revirou a mochila e jogo uma garrafa d' água pela metade pra mim, ele pegou a pequena e eu misturei um dos leites em pó da mochila junto com a água na mamadeira, não deve esta muito bom, mas que escolha temos?

-Eu dou.

Ele disse e eu fiquei surpresa entregando a mamadeira a ele, me escorei em uma das mesas, eu estava exausta, queria chorar e me desesperar como qualquer pessoa normal faria nessas condições, mas eu não posso perder a cabeça, percebi que a pequena Grier se calou e eu agradeci mentalmente.

-Por que você não saiu desse hospital antes?
-O que?
-Esse bando adentrou a cidade provavelmente pela madrugada, aqui é um hospital, onde qualquer um que fosse mordido procuraria -suspirei, havia dois dias que eu não ia pra casa-
-Eu estava em cirurgia, 13 ou talvez 16 horas, eu não sei, houve algumas complicações, não vi nada disso acontecer  -me escorei na parede, sentando no chão- Não era pra mim esta aqui, mas me biparam para um caso, meu plantão havia acabado mas eu não fui embora -ri sarcástica- É aniversário da minha filha, e olha só onde eu estou

Ele me olhava mas não pronunciou nada, parecia pensativo ou talvez me achando uma completa idiota, como eu me achava agora

-Vidas foram salvas -ele direcionou o olhar para a pequena Grier que dormia em seus braços e eu sorri de canto- Se você não estivesse aqui, esse pequena também não estaria. -eu sorri um pouco, ela estava bem, tentei pensar somente nisso- Quantas filhas você tem?
-Duas. A mais velha tem 6 está aprendendo a ler, agora lê todas as placas na rua -eu ri um pouco ao me lembrar de Carly- A mais nova três, ou melhor está fazendo três hoje -senti lágrimas brotarem em meus olhos-
-Nós vamos encontra-las okay?

Ele se abaixou, colocando a pequena ao meu lado no chão forrado pela camiseta que ele usava minutos antes, não pude deixar de reparar as marcas em seu abdômen, mas não quis perguntar, senti minha cabeça pesar, eu estava com tanto sono, da ultima noite para essa o máximo que havia dormido foram duas horas, a gente escolhe medicina porque quer salvar vidas, porque queremos ser heróis, mas a gente se esquece de como os desafios são árduos.
Me permitir dormir, eu realmente não aguentava mais.

-Hey, acorda, já amanheceu

Ele me sacudiu, Grier ainda dormia, me levantei colocando a mochila nas costas, embolei meu cabelo e tirei aquele jaleco, e a blusa do uniforme, ficando com a camiseta branca de baixo, troquei a pequena, logo adentramos aquele túnel apertado novamente, meus braços pareciam fracos demais para suportarem meu peso e meus joelhos tremiam, mas eu continuei, o trajeto parecia infinito, estava quase me dando por vencida quando pude ver a claridade, acelerei um pouco mais  agradeci mentalmente quando finalmente chegamos a escada e eu pude esticar meu corpo, eu estava tonta, meus passos vacilaram e senti as mãos deles segurarem meu braço
 
-Você consegue continuar? -eu olhei para a escada de incêndio acima, um deslize e eu já era, engoli seco e assenti-
-Vá na frente com ela
-Mas e se você...
-Se eu cair, já era e vocês continuam -ela assentiu e começou a subir eu fui logo atrás, minha pressão estava abaixando eu pudia sentir pelo suor em minha testa, continuamos subindo, quando finalmente chegamos ao topo, ele me puxou para cima do telhado, devia haver alguns helicópteros ali mas estava vazio, provavelmente quem foi resgatar estava morto, engoli seco 

-Ah cara! -um homem alto e loiro se aproximou abraçando ele- Achei que tivesse morrido
-É bro, eu também achei -um moreno se juntou ao abraço, falando aliviado-
-Quem são? - um alto e tatuado perguntou, encarando a pequena Grier que agora esfregava os olhinhos por conta do sol, ele me olhou, eu estava escorada nos meus joelhos trêmulos-
-Elas precisam de ajudar
-Isso é óbvio -agora, um moreno parecia rude, travando o maxilar em seguida, senti que eu não sou bem vinda aqui-
-Podemos conversa Sammy?

O tatuado perguntou e só então percebi que o nome do homem que me ajudou todo esse tempo  é Sammy, eu não havia perguntado, acho que boas maneiras não importam mais, ele entregou a pequena Grier para o loiro de olhos claros e saiu dali

-Sou Jack, melhor Johnson -ele se apresentou-
-Alysson 
-Pediatra? -ele perguntou sorrindo, parecia simpático ao contrário dos outros-
-Não, não -neguei e gargalhei- Acho que não sou tão boa com crianças.
-Obstetra? -ele arriscou outro palpite-
-Tenho cara? -ele gargalhou-
-Um pouco
-Cirurgiã geral
-Uou, me surpreendeu -nossa conversa foi interrompida pelos gritos das vozes roucas de Sammy e o tatuado-

"Cara, escuta é um bebê, você tem noção do que isso significa? É a morte pra gente, comemos cobras, gambas qualquer coisa que caia bem, encontrar leites e fraudas, sério? realmente você é um idiota Samuel" ele gritava, senti um ódio percorrer meu corpo e me levantei, seguindo as vozes até encontrar os dois, o tatuado me olhou de cima a baixo, ele parecia surpreso 

-Olha, eu não sei quem você é, eu mal sei sobre tudo isso - me referi aos mortos- Não sei o motivo de você ser tão duro, mas eu deixo uma coisa clara, eu não quero sua ajuda
-Ótimo, porque não precisamos de uma despreparada e um sinalizador de zumbis pra foder com tudo
-Opa, opa, galera chega! a Alysson é cirurgiã, se vocês não se lembram precisamos de um médico
-Jack tem razão, vocês sabem tanto quanto eu que Aaron está na pior - o moreno disse, Sammy permanecia calado, o tatuado me encarava pensativo enquanto Jack balançava a pequena Grier-
-Okay, okay podemos leva-lá para o acampamento e..
-Não, eu não posso ir para lugar algum com vocês -agora o olhar dos quatros estavam fixos em mim- Eu tenho que achar minha familía
-Aah qual é! 
-Cala boca Nate -Sammy se pronúnciou mas o tatuado o ignorou completamente-
- Acorda! Ninguém mais tem familía, e a sua provavelmente está morta a...   -o tatuado, Nate jogou as mãos para cima-
-Eu mandei calar a boca bro

Sammy o jogou contra a parede, senti meus olhos marejarem e fechei meu punho, eu sei que é uma possibilidade, mas eu tenho que acreditar Matt, minhas filhas, meus pais, eu não posso ter perdido tudo, não assim.
Segui em passos firmes até Jack e peguei a pequena Grier, forcei um sorriso de canto para ele, afinal Jack não tem nada a ver com tudo isso e as idiotices do tal Nate, voltei para onde se encontrava minha mochila com as coisas para a bebê e coloquei nas costas com a mão livre, senti Sammy tocar meu braço

-Não faça isso
-E você quer que eu faça o que? largue ela aqui e simplesmente desista de achar minha família, é sério? Porque se for, você podia ter me deixado morrer lá dentro mesmo
-Droga! Não -ele gritou e passou as mãos pelo cabelo- Eu vou ajudar você a encontra-los
-E por que? Vocês não parecem ser o tipo de pessoas que dão a minima para isso

Olhei para Nate que estava jogado no chão, fumando, que idiota. Johnson observava tudo porém calado o moreno me olhava apreensivo, ainda não sabia seu nome

-Tem razão, não damos a minima, viemos de Los Angeles eles trancaram as pessoas na cidade para que a noticia não se espalhasse, a humanidade acabou ali, quem não se transformou, matou por sobrevivência, então olha, sim, é um pouco difícil dar a minima quando não conseguimos acreditar que ainda existem pessoas humanas como você... -ele trincava os dentes com uma certa frequência e fechava os punhos-...E é por isso que eu quero, que eu vou ajudar você, porque você é humana e oque você fez lá em baixo por aqueles bebês, nenhum de nós aqui faríamos o mesmo 

Ficou um silêncio constrangedor ali, eu estava frustrada, cansada, com fome e rezando para que tudo aquilo fosse um maldito pesadelo e não o futuro daqui pra frente, respirei fundo e o moreno se levantou,

 - A rua de trás esta limpa, se corrermos conseguimos chegar no carro
-Okay -Sammy disse colocando a besta nas costas, mas ainda com algumas flechas em mãos- Podemos descer pelas escadas de incêndio, adentrar o prédio de novo é ariscado 
-E pra qual direção devemos seguir? -o moreno perguntou agora olhando para mim-
-Há três quadras para o Leste -todos concordaram e eu continuei calada-
-Vamos nessa -Nate se levantou e seguiu para a escada, Sammy pegou a pequena Grier-
-Não, eu fico com ela, você é bom com as flechas e elas são silenciosas, quanto menos barulho melhor
 Jack J pegou a pequena a colocando entre a camiseta e seu peitoral, ela parecia ainda mais frágil assim, ele foi na frente e logo atrás eu e Sammy, descemos em silêncio pela lateral do prédio, não precisamos de zumbis nos esperando quando atingirmos o chão, passamos por algumas algumas janelas, eu evitar olhar o caos que aquele hospital tinha, estava tudo destruído, e as cenas eram horríveis, eu prestava atenção aonde pisava, um deslize e já era.

Pelo meu calculo mental devíamos está no segundo andar, o chão estava se aproximando e eu estava ficando cada vez mais desesperada, senti o vidro da janela a minha frente e quebrar e algo agarrou meu pulso, a figura deformada a minha frente e meu pé vacilou, agora eu estava pendurada somente por uma mão, droga, eu gritava, Jack olhou para cima, e nossos olhares se cruzaram, eu estava prestes a cair. Senti o sangue frio em meu rosto e meu pulso foi libertado, Sammy havia cortado o punho da coisa a minha frente, senti minha mão escorregar e me preparei para colidir violentamente com o chão, Sammy segurava minha mão, seus braços eram fortes mas não aguentaria por muito tempo, firmei meus pés no ferro da escada, minha respiração estava ofegânte.


-Esta bem?
-Estou, eu...obrigada
-Vamos acabar logo com isso -Nate disse-

Eu assenti e terminamos de descer aquilo, assim que chegamos a rua deserta, havia alguns deles ali. mas não o suficiente para nos desesperarmos, poderíamos passar despercebidos se não fosse o choro estridente da pequena Grier, ela chamou a atenção dos mortos ao nosso redor, então corremos até o carro a tentativa de não atirar foi em vão, alguns disparos foram feitos enquanto corríamos desesperadamente para o carro, adentrei o banco de trás junto com Jack e Sammy, O moreno assumiu o volante e poucos minutos depois Nate ocupou o banco do passageiro, Jack deu partida e só então eu percebi ao longo do caminho como a cidade estava devastada, corpos pelo chão, casas queimadas, vidros quebrados.

Será, que isso é tudo? 

Mais um capitulo, espero que gostem, comentem e votem por favor, isso é muito importante
Beijão manas!

Survive|| Sammy WilkOnde histórias criam vida. Descubra agora