8.

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'Que raio, mãe, tu não vais perceber mesmo' digo desistindo da conversa, ou melhor, discussão.

'ESTÁS A BRINCAR COMIGO, MACK, tu não te podes meter nessas coisas de jeito algum, a tua reputação estará no lixo. Floresta assombrada com rapazes? É a Martin que te mete essas coisas na cabeça, não é? Nunca gostei daquela rapariga' ela dizia chateada.

'A sério. Juro que não te percebo, sempre fiz tudo que mandaste mãe, nunca te falhei uma única vez, nunca saí com uma amiga, nunca permitiste qualquer amizade da minha parte. A única coisa que te interessa é o que os outros vão dizer, e eu, onde fico? Eu quero divertir-me mãe, estou farta, farta mesmo. Não tem problema nenhum ir, fogo' digo.

'O que eu mando, Mackenzie? Se fizesses o que eu mando estarias agora calada a comportar-te. Eu preocupo-me com o que os outros dizem queres saber porquê? Porque a partir do momento que eu engravidei de ti, todos me meteram debaixo de olho, tu vieste do pior erro da minha vida e eu não quero que caias no mesmo erro. Eu envergonho-me e envergonharei-me para sempre porque se eu, neste momento, não te tivesse seria mais livre, poderia ser alguém e estaria num convento a continuar a viver o meu sonho, mas estou aqui a tomar conta de uma pirralha que nasceu com o ADN de um homem que me maltratou, espezinhou e eu nada fazia porque o amava. Tu és um erro.' ela dizia com ódio no olhar.

A minha cara estava lavada em lágrimas e cada palavra atingia-me como balas no coração. Então esta era toda a verdade, ou melhor, a mentira que vivi todos estes anos a acreditar que esta mulher na minha frente me amava e tratava de mim por protecção, por orgulho, mas afinal, eu não bastava de um erro da sua vida, de uma obrigação ou até mesmo de uma barreira na sua vida. Esta mulher a partir deste momento não é a mulher que eu conhecia, será que eu a conhecia mesmo?

Eu olhava para ela enquanto as lágrimas saíam num silêncio aniquilante e ela olhava para mim com o vazio que sempre olhou. Levantei-me e caminhei para a porta.

'Não te atrevas a sair por essa porta! Sempre soubeste que algo se passava e não era nada bom. O teu pai não está aqui porque fugiu, fugiu de uma vergonha e tu és fruto dela, fruto de uma parte da minha vida que odeio com todas as minhas forças. O único homem que amei deixou-me na merda, essa é mesmo a palavra. Com uma criança na barriga, fruto de violações que eu nem tinha conhecimento porque estava inconsciente por tanta porrada apanhar. Porque é que eu não fugi, não é mesmo?' ela deixou a pergunta no ar enquanto olhava para o vazio, procurando realmente a resposta 'Não te podes queixar, eu podia ter abortado, espetado uma faca na barriga até ter certezas que estavas morta mas deixei-te viver porque não és culpada, mas eu nem sei se o que sinto por ti é ódio ou nojo. Todos os dias que olho para ti lembro-me dele, do terror que passava'

'Porque não me abandonaste?' pergunto e ela olha para mim sem expressão.

'Pensei nisso, pensei realmente, não te minto, mas toda a gente saberia aqui que eras minha filha, afinal tu tens os olhos dele, os meus lábios, o pequeno nariz dele e as minhas grandes bochechas. Alguém que saiba quem ele era e quem eu sou sabe a milhas que tu és minha filha'

'Por isso é que toda a gente aqui me olha com nojo, não é?'

'Talvez. Algo que eu sinto também' ela diz e caminha para a cozinha deixando-me ali no vazio.

Caiu sobre as minhas próprias pernas por já não aguentar a fraqueza que tanto sentia fisicamente como psicologicamente. Ela passa por mim vestindo o casaco e pegando na mala e sai de casa sem mesmo olhar para mim.

Corro para o meu quarto, fecho a porta á chave, arranco a minha roupa rasgando-a e atiro-me para a cama e choro desesperadamente, como nunca chorei.

Como é que alguém era capaz de ser assim, refiro-me ao meu pai como a minha mãe, ao menos ela pode-me odiar mas ao menos cuidou de mim, mas o meu pai? Ele violava-a enquanto ela estava inconsciente, como é que alguém tem escrúpulos para o fazer, fazer a uma mulher com 17 anos? Eu vim de um erro, de violações, porrada, de amor mal correspondido e depois de 18 anos é que percebi de onde venho, a razão do meu nascimento, o meu pai era maluco, isso é tudo o que sei, e conhecê-lo é algo que não quero fazer alguma vez na minha vida.

RELIGIOUS GIRL |H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora