2. Coleção de Ternos

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Firma Paulsen
17:53h
Rebecca Paulsen

- Cheguei. - disse Aver, entrando pela porta. Maddie estava correndo atrás dele, com uma prancheta.
- Quantas vezes vou ter que dizer que a Maddie não é sua secretária pessoal? - falei, irritada.
- Qual é? Sou um homem ocupado, um advogado famoso, preciso de alguém que cuide dos meus compromissos.
- Não tem problema, senhorita Rebecca, eu...
- Cale a boca. - disse, interrompendo Maddie. - Não o defenda. Vá sentar a reunião começa em alguns minutos. - Maddie saiu, sem falar nada, e sentou ao lado de Spencer, irmão mais novo de Aver e advogado na fima.
- Pare de ser dura com todos. - falou Carl. Eu tenho que ser dura. Tenho que mostrar autoridade. Seja quem for que assuma hoje, de acordo com o testamento, tenho que mostrar poder. Aliás, Carl também tem.
- Por falar em reunião... A Gina está disponível né? Pois ela já é secretária, então não preciso abusar de assistentes jurídicas para isso. - falou Aver, rindo. Eu e meu irmão ficamos sérios. - Calma gente, estou brincando. Vocês estão muito parados.
- Aqui não é boate para estarmos dançando. - retrucou Carl.
- Tá legal, tá legal, chega. Gina não está disponível. Ela continuará sendo secretária do chefe, mas dessa vez, de outro chefe. - respondi. Gina é o apelido da Regina Veneza, a secretária pessoal do meu pai. Bom... Não mais.
- A reunião vai começar. - disse Hadar Launch, subindo no palanque. Ela era a advogada contratada pelo meu pai a alguns anos para apresentar o testamento quando chegasse a hora.
- Não acredito nisso. - falou Aver, boquiaberto.
- Meu Deus, acabou de conhecer e já está assim. Que vergonha. - comentou Carl.
- Você não sabe nem da metade, amigo. - disse Aver, sentando na primeira fileira. Eu e Carl sentamos ao lado dele. Hadar começou com um discurso furado, dizendo "o quanto Daniel Paulsen fará falta", apenas para ganhar o aplauso da firma. E foi o que aconteceu no final do discurso.
- Vou começar a ler seu testamento. Bem, Daniel não tinha cônjuge, pois se divorciou, então os bens serão todos deixados aos dois filhos, Rebecca Paulsen e Carlos Paulsen, e divididos conforme a escritura. Sua casa no valor de U$ 683.000,00 é o único bem que será dividido e não terá apenas um dono. - falou. Todos a aplaudiram.
- Não entendo o porquê de aplaudirem tudo o que a mulher fala. - comentou Carl.
- Se você realmente a conhecesse, se é que me entende, aplaudiria também. - disse Aver, dando um sorriso malicioso. Revirei os olhos.
- Quietos.
- Continuando. - disse Hadar, fitando Aver. A advogada começou a distribuir os bens. Entre tantos, fiquei com o carro e Carl ficou com sua coleção de ternos caros. Estávamos felizes. Até chegar a hora mais esperada.
- A firma... Antes de falar, gostaria de ler uma mensagem deixada por Daniel aos seus filhos. "Meus queridos, meus preciosos. Se vocês estão escutando esta mensagem da boca de Hadar Launch, é porque a minha hora chegou. A minha hora de partir. Creio que vocês dois estejam hoje, aqui nesta firma, aonde estou escrevendo essa mensagem, arrasando como advogados excelentes que são. [...] - Gina começou a chorar, no fundo da sala. Os dois tinham uma relação muito próxima. Não duvido que já tenham tido "seus momentos". - [...] Mas eu quero que saibam: Eu sempre os amarei. Sempre, sempre, sempre os amarei. E espero vê-los um dia, novamente. [...] - não aguentei. Carl não aguentou também. Ele estava mordendo o terno, com os olhos encharcados. Eu já estava chorando, sem fazer barulho, só lacrimejando. O abracei de lado.
- Seja quem for que ganhe a firma, saiba que nunca nos separaremos. - falei.
- Para sempre juntos, irmãzinha. - respondeu ele, sorrindo. Deitei em seu ombro.
- [...] Essa firma é de vocês dois. Mas receio que apenas um possa governá-la. Por isso escolhi você, Rebecca, para liderar meu maior patrimônio." - terminou. Um enorme mar de aplausos começou a rodear pela sala. "Ele me escolheu". Carl se levantou, chocado, e saiu da sala, empurrando a porta. Eu o deixei ir. Provavelmente tivera ficado chateado comigo. Mas a culpa não é minha. Subi até o palanque, cumprimentei Hadar, e peguei a palavra.
- Então... Eu fui a escolhida. É uma honra para mim. Eu... Eu estou tão nervosa. - disse, rindo. Todos riram também. Agradeci a todos, honrei meu pai e meu irmão, agradeci Hadar e desci do palanque, me sentando. Hadar subiu novamente.
- Me perdoem, parece que tem uma outra mensagem aqui. "Rebecca, filha querida, como nova chefe, Gina serás sua secretária pessoal. Por isso, quero que honre ela e quadruplique seu salário. Te amo, sei que farás um ótimo trabalho no meu lugar. Por isso escolhi você." - terminou. Gina abriu a boca, sorrindo logo depois. Todos a aplaudiram também. Dei um sorriso, mas fui direto atrás de Carl.

Telhado da Firma Paulsen
18:47h
Carl Paulsen

- Eu sabia. - disse para mim mesmo. Virei mais um copo de Whisky. - A perfeitinha herdou a firma, eu herdei a coleção de ternos. QUE RAIVA. - gritei. Olhei para baixo, pela borda do prédio. Joguei com tudo meu copo no chão, lá de cima. Não ouvi seu barulho de quebra, pois o prédio da firma tem 26 andares.
- Só não se jogue daí. - disse Rebecca, sorrindo e se aproximando. Ficou ao meu lado. - Eu sinto muito.
- A culpa não é sua. Eu meio que já imaginava.
- Então por que saiu correndo daquele jeito? - perguntou. Eu não disse nada. Apenas olhei para ela. - Não fica magoado comigo.
- Não estou. - respondi, sorrindo falsamente. "Você podia ter abandonado o cargo por mim". Não faria o mesmo por ela, mas mesmo assim não consigo parar de pensar em outra coisa. Por que meu pai não me escolheu? Eu sou mais velho que ela, me formei antes dela, virei advogado antes dela... Vim para a Paulsen com ela, ou seja, esperei-a se formar. Tudo isso para virar um advogado sócio-sênior, perder o pai e perder meu cargo dos sonhos. "Por que não nós dois, então?".
- Carl? - disse Rebecca, estalando os dedos. - Terra chamando Carl.
- Desculpe, eu... Viajei nos meus pensamentos. - disse. Ela sorriu, me beijou no rosto e saiu. Eu amo minha irmãzinha, amo mesmo... Mas eu amo o cargo do meu pai tanto quanto, e se for preciso derrubá-la para conseguir chegar lá, pode apostar que eu vou.
- Quando eu te derrubar, vou te dar os ternos do papai. Quem sabe assim não ficamos quites, não é mesmo? - disse, sabendo que ela não ouviria.
- Derrubar quem? - falou uma voz vindo da escuridão do telhado. Me assustei. Era Maddie.
- Oi gata. Não é nada não. Estava falando sozin...
- Olha aqui, querido, você não tem mais poder sobre mim. Não tenho mais medo de você, pois quando você saiu daquela reunião, vi o quanto sou importante aqui. O quanto seu pai me valorizou.
- O que está querendo dizer?
- Você não pode me demitir. Ganhei imunidade na firma e só posso ser demitida pela Rebecca, de acordo com aquele testamento. E quero deixar bem claro que não sou sua "gata", não sou seu "amor", e minha vida amorosa não lhe diz respeito.
- Espera...
- E se você tentar algo comigo mais uma vez, eu juro que te processo por assédio moral e sexual, além de contar para a nova chefe que você quer derrubá-la. - dizia, se aproximando mais. - Você acha que eu não sou poderosa? Você está muito enganado. - terminou, se virando e indo até a saída. "Mais uma que vou fazer de tudo para derrubar".

Paulsen - Advogados Ao Ataque (PAUSADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora