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Naquele dia Charles tentava, inutilmente, equilibrar-se sobre o skate. Na ocasião eu não fiz muitas perguntas; apenas deixei nosso assunto sobre coisas banais fluir, sem nenhuma interrupção. Gostava de olhar para seu rosto pálido enquanto conversávamos; ele fazia muitos gestos e sorria constantemente. Pensei o quanto ele era feliz, pra ser sempre daquele jeito.

Sabia que, provavelmente, nunca mais o veria de novo, mas mesmo assim não pedi seu número de telefone. Até aquele momento eu ainda não havia percebido o quanto Charles era importante pra mim.

Contei sobre ele a Elizabeth, que não deu muita importância ao assunto. Dediquei uma boa parte dos meus pensamentos a ele naquele dia, até ir esquecendo-o gradativamente, dia após dia.

Exatamente um mês depois do nosso primeiro encontro, eu o vi mais uma vez, num parque perto de casa. Charles estava, assim como da primeira vez, fitando o nada. Porém, dessa vez, seu olhar estava vazio e ele, mais pálido do que antes. Não o conhecia, então não podia concluir seu estado. Decidi que passaria despercebida, mas ele me notou e acenou.

Reparei em suas olheiras; fundas, escuras. Imaginei-o passando noites em claro, provavelmente fitando o nada também.

— Julie? — Perguntou-me.

— Sim. Charles?

Ele me deu um de seus sorrisos pequenos e simpáticos; ternos, aconchegantes.

— Você está bem? — Perguntei. — Parece cansado.

Deu um longo suspiro, e colocou o sorriso de volta no rosto — um pouco mais apagado e menos significativo do que antes.

— É a doença. Ela não me deixa viver em paz.

Franzi a testa e me sentei ao seu lado, colocando minha bolsa ao meu lado. Até aquele momento, Charles nunca citara nenhuma doença. Irracionalmente, me preocupei.

— Câncer — explicou, antes mesmo que eu pudesse perguntar. — Fui diagnosticado aos onze. Os médicos dizem que tenho pouco tempo.

Engoli em seco.

— E-eu não sabia.

— É.

Ele não parecia ofendido, nem triste — ao menos irritado. Parecia normal, como se estivesse contando que toca algum instrumento musical. Pensei o quão constante aquele assunto era para ele, e em como já deveria estar acostumado. Também pensei em como eu, se estivesse em seu lugar, não conseguiria tocar no assunto sem deixar cair uma lágrima.

Eu o admirava por ser tão forte, por não ter medo. Por ver o mundo com bons olhos, quando a maioria de suas experiências envolviam dor e, eventualmente, náuseas.

Charles falava sobre não ter tempo suficiente, e me contava as coisas que faria caso tivesse. Formaria uma família, mas antes precisava de uma namorada! E antes de casar, viajaria muito com sua namorada. Mas, antes mesmo de conseguir a namorada, ele queria tentar e se esforçar muito; até conseguir andar de skate.

Todos esses sonhos e fantasias — planos distantes —, provavelmente só existiriam em seu mundo particular; no fundo de sua mente. Talvez Charles morresse no dia seguinte, e esse tipo de pensamento me assombrava. Eu queria que ele fosse feliz, aproveitasse as coisas boas da vida também.

Se fosse possível, eu daria um pouco do meu tempo a Charles.

Se fosse possível, eu daria um pouco do meu tempo a Charles

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OIOIOIOI GENTENEEEEY

os capítulos serão curtinhos pq simmmm

nossa, eu tô ouvindo troye sivan

eu escrevo essa história ouvindo troye sivan

ou seja: se prepara pra levar tiro pq isso aqui vai ser bad

hehe

TIMELESSOnde histórias criam vida. Descubra agora