Esperança

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Eu carregava com dificuldade minha mala e minha mochila, ambas pesadas, devido a quantidade de roupas que tive que pegar. Não queria que fossem muitas mas o clima não me permitiu isso. E eu também não queria mais nada meu naquela casa. Já para os pés, apenas meu all star, e para minhas lembranças e boa esperança, uma foto com Nick, onde ele colocava a língua para fora, fazendo uma careta engraçada.

Eu não tinha amigos, então praticamente só estava deixando Nick. Afinal, a única garota que considerei como amiga foi Aniela Bianucci, aluna italiana de intercâmbio que ficou 10 meses morando perto da antiga escola de Nick. Aniela tinha 19 anos e era a única que me entendia, afinal também era estranha. Usava seus longos cabelos castanhos presos em um coque bem em cima da cabeça, aparelho nos dentes e óculos do tipo "fundo-de-garrafa", motivo que levava alguns de sua faculdade chamarem Aniela de Betty, A Feia. Após Aniela voltar pra Itália, minha vida voltou para mesmice e não me aproximei de mais ninguém. Nos falávamos às vezes por telefone, mas o contato entre nós foi ficando raro até desaparecer. Mais tarde descobri que ela havia casado e mudado de cidade.

Conforme minha mente vagava à procura de algo para se ocupar, comecei a pensar na vida deles e em como se tornaram o que eram. Clementine cresceu em um orfanato, nunca sequer conheceu seus pais. Quando completou 14 anos, fugiu e passou a perambular pelas ruas até que Jason, cerca de 7 anos mais velho, a encontrou e levou para sua casa, apresentando à ela (se é que Clementine já não conhecia) o mundo das drogas, e mentindo para vovó Juliet que era apenas uma amiga que precisava de um lugar para ficar por alguns dias. Cerca de 5 meses depois, Clementine estava grávida de mim. Como Jason morava com a vovó, ela obrigou que se casassem... Bem, que morassem juntos na verdade, afinal Clementine era menor de idade para casamento legalizado. Porém como eles estavam vivendo juntos há algum tempinho, isso não mudou nada.

Vovó Juliet era uma loira, enrugada, sorridente e viúva, que encantava a todos do bairro, se dava bem com todo mundo e nunca deixou de ajudar quem precisava. Bem diferente de seu filho. Era generosa com todos mas tratava Jason severamente pois sabia bem o filho que tinha. Logo após se mudarem para nossa casa, que vovó Juliet deu à eles, ela se encarregou de cuidar de mim, e foram os melhores anos da minha vida. Quando Nick nasceu, entregaram também para ela que aceitou com maior prazer. Mas infelizmente acabou falecendo de infarto quando Nick tinha 5 anos, e nós, é claro, passamos a viver com eles.

Peguei um trajeto escuro onde não havia ninguém, e acreditava eu, que era mais perto por ali para chegar até a estrada. A chuva já começara a cair, cerca de meia hora atrás, e eu já estava andando há umas duas horas quando um carro preto, um Chrysler 300  (não que eu entenda de carros, mas esse eu conhecia) começou a diminuir a velocidade ao meu lado e a parar poucos metros à minha frente. Tentei ignorar, o medo acelerou meu coração e bambeou minhas pernas, mas eu não tinha escolha, precisava seguir. Quando cheguei perto, o vidro baixou e um rapaz de de vinte e poucos anos apareceu na janela.

- Carona?

Perguntou simplesmente, e pelo tom de voz, percebi que ele estava sorrindo. Era completamente escuro dentro do carro e a chuva me impedia de enxergar direito.

- Ér... Não... Valeu, não preciso.

Ao dizer isso, um trovão ecoou, e a chuva começou mais forte e fria. Me enrolei em meu cachecol encharcado e puxei mais o capuz do casaco tentando tapar as orelhas. Ele ladeou a cabeça e ergueu uma sobrancelha, como se perguntasse: "tem certeza?"

- Olha... Sem querer ser estraga prazeres, você não vai muito longe com esse frio.

- Não preciso mesmo _ Gritei, chegando perto da janela para que ele me ouvisse melhor. - Eu vou até onde der.

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⏰ Última atualização: Nov 08, 2016 ⏰

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