Capítulo 5 - O Verdadeiro Deus Egípcio

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Nos dias seguintes, meus sentimentos oscilavam como as teclas de um piano em um concerto de Tchaikovsky. Ia, em meio segundo, de "deprimida da porra" a "super empolgada". Fazia planos de suicídio que logo eram substituídos por planos mirabolantes sobre como eu reergueria a minha vida. Continue em frente, continue em frente, continue a nadar, se tornara o meu mantra. E era só o que eu podia fazer, no momento, continuar em frente, não parar de respirar e esperar por um milagre. O que é que as pessoas faziam quando não tinham nada para fazer? Era a pergunta que não queria calar.

Bom, já era quase nove horas e eu ainda estava na cama, embora estivesse acordada desde as seis horas, que era o horário em que eu me acostumara a acordar para ir para o trabalho. Não importava o quão tarde eu dormisse, sempre, sempre, inclusive aos domingos, me acordava às seis horas. Logo, se as pessoas desocupadas matavam tempo dormindo, essa era uma tática que não adiantaria de nada para mim. Até tentei, mas ficar rolando de um lado para o outro na cama só me deixou mais entediada e dolorida, e minha cabeça começara a doer. Não, ficar na cama não era a solução e voltar a dormir seria impossível.

Levantei, dando uma paradinha básica em frente ao espelho de moldura dourada, pendurado na parede aos pés da cama. Não gostei nem um pouco do que vi, a mulher que me encarava do outro lado não era eu. Quer dizer, lógico que era eu, mas não a eu que eu conhecia, aquela eu impecável, elegante, determinada de sempre, e sim uma versão um ponto zero de mim, uma pessoa pálida, magrela (eu estava vestindo uma "camisa velha do trabalho" e reparei nos arremedos de coxas que ela deixava aparecer), com olheiras e bolsas inchadas debaixo dos olhos. Era uma visão deplorável.

Fui até a cozinha e coloquei a máquina de café expresso pra funcionar. Enquanto esperava a bebida ficar pronta, olhei de relance para a mesa e vi meu notebook, onde eu o deixara, há dias. Era isso! O que as pessoas faziam quando não tinham nada para fazer era zapear de bobeira nos sites da internet e nas redes sociais. Não deixava de ser uma boa ideia. Eu poderia procurar Silvia, quem sabe marcar um encontro e desabafar com ela? A garota não era muito madura, nem muito experiente, nem muito sensata, mas era melhor do que não ter ninguém.

Liguei o computador e abri a página do Facebook. Haviam quatro mensagens não lidas e fui direto ao chat, curiosa para lê-las. Quem sabe algum amigo ou parente tivesse me achado por ali e resolvei dar um oi? Nada era impossível. Cliquei sobre o envelopinho que piscava no canto da tela e uma lista se abriu. Foi meio decepcionante... as quatro mensagens vinham do mesmo destinatário: Ahmed Mir. Uma coisa eu tinha que admitir, o cara era insistente pra caramba. Bem, força de vontade era um ponto positivo.

Abri a primeira mensagem:

"Bom dia. Eu entrar em curso de língua portuguesa. Vai aprender falar seu idioma. Poder conversar melhor com você. Você casar comigo?"

Ai meu Deus! Ele entrou em um curso de língua portuguesa, só para poder se comunicar melhor comigo! Uau! Aquela era a coisa mais significativa que alguém fizera por mim durante a minha vida inteira. Um ponto para o egípcio!

Abri a segunda mensagem:

"Bom dia. Eu aprender palavras românticas para você: te amo, meu amor, estou com saudades. Você gostar de palavras românticas? Eu cuidar de você quando ser minha esposa. Você meu habibi."

Ah! Que bonitinho! Ele aprendeu palavras românticas para dizer pra mim! Ownnnn! Eu estava começando a gostar daquela brincadeira. Não paquerava há tanto tempo que nem sabia mais como era aquilo. Talvez pudesse treinar um pouquinho com Ahmed, já que estávamos tão longe e provavelmente jamais nos encontraríamos pessoalmente, eu não correria o risco de cruzar com ele na rua por acaso e morrer de vergonha.

Ahmed Mir - O Príncipe do EgitoOnde histórias criam vida. Descubra agora