NATASHA

Capítulo 3

    Ela se aproximou dos dois, e percebi que um clima estranho assolara aquele lugar. Aproxime-me, no exato momento em que ela empurrou Rafael no chão e repetiu as mesmas palavras que outrora ouviu dele:
- Você é um nada! Se enxerga antes de existir! Antes de tentar respirar ou falar alguma coisa, olha no espelho e veja quem você é!
Rafael e Barbara ficaram sem ação. Tirei-a da balada antes que mais alguma coisa acontecesse, mas antes de ir falar com ela, procurei aqueles dois para saber como fazer contato com a família de Ana Paula - ou Natasha.
Eles me deram o telefone do pai dela. Guardei no bolso e fui para a rua, afim de levá-la para minha casa. Enquanto eu estava nervoso com toda aquela situação, ela simplesmente ria.
- Você viu a cara deles?
- O que deu em você?
- Eu não quero mais saber de nada, Rafael!
- Você precisa ter cuidado!
- Cuidado com o que? Minha vida toda eu tive cuidado, e no fim das contas nem vida eu tive. Tô nascendo agora, e só quero pular a parte da gestação!
- Você não pode apagar o passado. Aconteceu e pronto!
- Do que você tá falando? Eu não tenho passado, só futuro! Nasci agora e meu nome é Natasha! NA-TA-SHA!
Não adiantava falar. Ela estava literalmente e visivelmente bebada. Deixei-a dormir e liguei pro pai dela, dando o endereço da minha casa.
No dia seguinte, logo pela manhã, a campainha tocou. Era ele, e Natasha não podia acreditar. Começou a gritar, a me bater.
- Me escuta! - gritou ele.
- Eu não quero te escutar! Você me deu uma vida de mentiras! Nem sua filha eu sou!
- Como você sabe?
- Lucas, coloca musica dramática que é pra cena ficar mais bonita, por favor! - ela estava irônica. - Fala logo quem é minha mãe e de onde eu vim...
- Olha como você fala comigo!
- Ah, vai dar uma de pai agora? Já sei: não está no exterior, tá com o tempo livre? Aonde você esteve esse tempo todo, enquanto eu aturava a sua esposinha me ignorando pra torrar seu cartão de crédito?
- Me respeite!
Ela se aproximou dele, peitando-o.
- Você não me respeitou esses anos todos, e eu te respeitei. Você nunca esteve presente e mesmo assim te amei. Tá na hora de eu ser o que você me ensinou a ser!
- Eu te falo quem é sua mãe. Mas volta pra casa!
Ela fechou a porta na cara dele e ligou o som no último volume para abafar os gritos dele. Depois de um tempo, ele foi embora, e eu desliguei o som.
- Pára com isso! Você não é assim! - eu gritei, segurando-a pelos braços.
Ela começou a chorar. E, como se não tivesse estrutura, caiu no chão aos prantos. Eu sentei junto de Ana Paula - ou Natasha - , afagando seus cabelos.
- Dói muito...dói demais!
- O que?
- Ser Ana Paula...
Ela parecia um ser indefeso.
- Mas foi por ela que me apaixonei! - e a beijei, com uma paixão e desejo que jamais senti em toda minha vida por ouras garotas.
Naquele momento, eu não estava me reconhecendo...algo em mim havia mudado, mas não sabia o que.