Prólogo

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Escuridão era tudo o que encontrava ao meu redor. Nem mesmo uma luz estava lá para me guiar.
O tique-taque de um relógio não tão distante era quase ensurdecedor. Como se meu tempo de vida estivesse se esgotando, como se eu não tivesse mais do que míseros segundos para me despedir de meus amigos e familiares. Mas aí percebi: estava sozinha.

Será um pesadelo? Talvez a dor insuportável que sentia em minha cabeça e pernas respondessem por si só.
Não sei onde estava, nem sei o que fazia aqui. Tentei me levantar, mas estava fraca demais; não sinto o resto do meu corpo e, como se não bastasse, não conseguia gritar.
Minha voz estava fraca, era como se eu tivesse gritado o mais alto que pude em alguns momentos atrás e agora só restaram pouquíssimos fios de voz.

O barulho do relógio é cessado, substituído por passos na grama molhada, fazendo-me ficar alerta.

- Está na hora, docinho. - disse um homem, mais perto do que eu imaginava.

- P-por favor. - implorei, embora com a voz quase inaudível.

Algo foi tirado de mim com certa brutalidade. Era perceptível que a pessoa, seja lá quem fosse, estava com pressa. Uma forte claridade machucou meus olhos já acostumados com o escuro. - Eu estava com um saco na cabeça o tempo inteiro.
Minhas mãos trêmulas eram a única coisa que conseguia mexer, mesmo que involuntariamente.

Estava com tanto medo.
Queria gritar. Queria correr. Queria que os braços grandes e acolhedores de minha mãe estivessem envoltos à mim, me protegendo de tudo e de todos.
E tudo o que eu sentia era medo, e saudade de casa, de minha cama, estar segura no meio de minhas cobertas quentinhas, mas, ao em vez disso, estava deitada sobre a terra, que era mais familiarizada com a lama.

A forte luz foi desligada, e agora só me restava a luz da lua. Uma figura estava à minha frente, segurando algo brilhante. - Que deduzi ser uma faca.
Meus olhos arregalados vendo o objeto devem ter sido uma diversão e tanto para quem assistia, pois uma risada foi ouvida, e, logo em seguida, um suspiro.

- Não precisa ter medo de mim, querida. - passou a mão em meus cabelos.

Recuei rapidamente, com a respiração ofegante. Virei de costas, me arrastando sem rumo o mais rápido que conseguia. Vi uma luz com a minha visão embaçada por causa das lágrimas que escorriam pelo meu rosto.
Sentia que estava longe o bastante, quando, de repente, fui puxada para trás pelos meus cabelos.
Me debatia para tentar me libertar, enquanto meus dedos apertavam o braço daquele que me puxava. Logo fui jogada de volta à lama.

- Vadia! - uma ardência tomou conta de minha bochecha sensível.

- Não me m-machuque, por favor. - implorei novamente, em meio a soluços e desabando em lágrimas.

- Eu prometo que você não vai sentir nada. - disse, agachando ao meu lado.

Nem o choro mais histérico poderia pará-lo.
Me debatia desesperadamente, até levar outro tapa na cara, deixando a bochecha ainda mais vermelha, como se eu tivesse passado blush em excesso.
Tudo ficou quieto por um momento. Meu olhar se movia para todos os lados, esperando algo acontecer.
E de repente me veio a dor. Uma dor aguda. E à minha frente, a mesma faca de antes foi jogada no chão, agora suja de sangue. O meu sangue.

As lágrimas brotaram novamente, deixando um rastro por onde escorriam. Gemia conforme a dor aumentava, e tornava-se cada vez mais difícil de ignorar.
Tremendo, coloquei minha mão onde doía. Tateei com cuidado e trouxe de volta a mão ensanguentada.
Olhei para minha barriga, e tudo o que via era uma poça de sangue se formando. - E a minha camisa pollo da cor vermelha ficando mais vermelha do que já era.
Deitei sobre o chão úmido, gemendo de dor, com a mão em volta de minha barriga sangrando.
A sombra imóvel à minha frente soltava uma gargalhada aterrorizante, apesar de baixo, o som fazia os meus pelos da nuca se arrepiarem.

- Mande lembranças às outras por mim, tá? - murmurou com um semblante sorridente, como se fosse o gato de Alice.

Minha visão ficou escura e tudo começou a girar ao meu redor. - Se eu não estivesse nessa situação, juraria de pé junto que estava em um daqueles brinquedos de parque de diversões que todo mundo gosta mas vomita no final.
Aquela risada ainda ecoava em minha mente. Meus olhos se fecharam lentamente e minha respiração ficava cada vez mais pesada.
E, novamente, a escuridão.

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