Sob a luz do luar

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O dia havia chegado. Não podia estar mais animada. Ou aterrorizada.
Confesso que não parei de pensar nessa viagem a semana inteira, mas não de um jeito bom.
Eu sou muito precavida, e pessimista, e desde o dia em que resolvemos ir para o acampamento no final de semana, meu corpo se estremecia quando falávamos desse assunto.
Talvez seja meio que um trauma, pois Lexi sempre falava para mim o quanto florestas são assustadoras. E eu acreditava, é claro.
Mas haviam controvérsias quando Judy e Anne discordavam de Lexi e  sempre me falavam o quanto florestas são demais, além de toda aquela baboseira de fauna e flora. - Não que eu não goste do meio ambiente, mas acho que a forma de vida das plantas não é algo que alguém goste de ouvir o tempo todo.

Andei de um lado para o outro, finalmente me cansando e encostando na coluna gélida. Estava esperando as meninas em frente a rodoviária, onde íamos nos encontrar para pegarmos o ônibus que nos levaria até o acampamento.
Anne me mandou uma mensagem dizendo que estavam chegando... há uma hora atrás.

Estamos chegando, elas disseram.

Porque era amiga das pessoas mais nada pontuais que poderiam existir?
Fiz essa pergunta à mim mesma várias vezes até que um carro para em frente à mim, quase esmagando meus dedos dos pés. - Estava distraída de novo.
A porta de trás se abriu, revelando duas meninas de olhos puxados, uma com cabelo curto, na altura dos ombros, vestindo uma calça jeans rasgada e uma blusa de mangas compridas nas cores vermelha e preta. - Anne. - E outra com o cabelo comprido da cor rosa com a franja jogada ao lado esquerdo, vestindo uma calça colada preta e um moletom rosa bebê da marca Adidas. - Judy. -
Ao receber sorrisos simpáticos vindo das duas, percebi a ausência de uma pessoa. Onde estava Alexandra?

- E aí? - saudou Judy.

- Hey. - disse. - Onde está Lexi?

- Está vindo com James. - respondeu, Anne, fazendo uma cara de nojo.

- James?! - perguntei surpresa. - Desde quando ela... - não terminei de falar por conta da agradável interrupção de uma buzina de um carro que passava, e logo estacionou onde o carro da Sra. Müller estava antes de partir.

A porta de carona se abriu, revelando Lexi, que vestia uma calça jeans escura e uma jaqueta preta de couro.

- Obrigado, lindo. - disse a menina de cabelos cacheados, virando-se para a pessoa que dirigia. James, o porteiro.

- Não me agradeça. - respondeu ele, dando uma piscadela para ela, fazendo-a corar.

Ela fechou a porta do carro, que logo partiu em seguida. Veio em nossa direção e sorriu, um sorriso lindo que ia de orelha à orelha.

- Olá meninas! - saudou.

- Lexi! - dei um abraço na menina que ainda sorria. - Pensei que você não vinha.

- Alguém tem que te defender na floresta, certo?

Ri  e concordei com a resposta bem elaborada de minha amiga apenas com um aceno de cabeça.
Nós conversamos mais um pouco em frente o local e ouvimos uma chamada vinda de dentro da rodoviária, era o nosso ônibus que havia chegado. Saímos correndo em direção a plataforma e chegamos rapidamente.
Um homem gentil estava na porta do ônibus, para verificar as passagens, e, assim foi feito. Guardamos nossas malas, embarcamos e nos sentamos em nossos devidos lugares.
O motorista esperou todos os passageiros adentrarem no veículo, e deu a partida.

[...]

Já passava de nove horas da noite quando estávamos próximos ao acampamento. Fomos à tantos lugares que é impossível contar as paradas que fizemos ao longo do dia.
Só sobraram eu, as meninas e mais duas pessoas no fundo do ônibus.
Uma mulher de meia idade com um homem ao lado, que provavelmente era seu marido. Eles estavam dormindo envoltos de um cobertor, algo como um edredom; provavelmente eles ficariam mais tempo no ônibus do que nós.
Vendo aquela cena, percebi o quão sonolenta estava.
Não consegui dormir durante toda a viagem, e quando tentava, minha mente imaginava a figura que estava em meu sonho me observando de longe. Não, não tive mais aquele sonho, mas ao que parece não foi necessário mais de uma vez para me deixar totalmente aterrorizada.
Parecia ser um sonho besta, sem sentido, mas eu não sei explicar o quanto aquilo fez efeito em mim.
Olhava a janela enquanto pensava, mais uma vez, em meu sonho, porém, me distraí por um minuto olhando a paisagem, que era magnífica.
As árvores tão juntas com suas folhas verdes que mais parecia um mar cobertos pela luz da lua, que brilhava ao topo. O céu, sem estrelas, com apenas algumas nuvens encobrindo o azul escuro que predominava no local.
Tudo me encantou, exceto por uma coisa.
Na beira da estrada, havia algo que não fazia parte da paisagem natural. Era gritante o quanto aquilo se destacava.
Uma figura estranha e totalmente preta estava lá, apenas parada olhando para o ônibus que passou com uma velocidade considerável, mas que, para mim, foi como se tudo estivesse em câmera lenta.
Aquilo tinha a forma de qualquer pessoa normal, exceto por suas pernas e pés, que não eram visíveis. - Talvez por causa do matagal em que se encontrava.
Seus braços estavam parados ao lado de seu tronco, mas um deles mudou de posição e foi levantando até chegar na altura de seu ombro, apontando para algo.
Para mim.

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