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A respiração dele era tão pesada. Ambos estávamos devidamente perdidos nas nossas respirações um tanto quanto ofegantes.

-Foda-se — Ele resmunga entre os dentes.

E tudo o que eu via distorceu-se para sangue.

Era isso, tudo o que eu conseguia ver, cheirar e até mesmo sentir...

Hoje o Cameron não apareceu no bar e a Debbie sentou-se no seu lugar. Como é que nos conseguimos sentar no lugar sem conseguir sentir o que eles sentem? A vida é composta de espectadores e cada um tem a sua cadeira, a cadeira que há de suportar os seus sentimentos. 

Cada cadeira com o seu peso. Cada lobo com a sua vitima.

E foi aí que  a imagem da cara dele me veio á mente. O medo preencheu-se pelo meu corpo, desespero, no entanto, certa confiança e segurança...e que segurança...

"As mãos dele eram ásperas", lembro-me. Não por trabalhar ou se magoar. Era só um pequeno detalhe e eu adorava esse "grande" pequeno detalhe.

-Algumas dizem que chega a levar á loucura.— Disse a repetida mulher que tanto ocupa a minha visão.

Se ela continuar a aparecer constantemente devia de lhe dar um nome, mas que nome?

Porque é que tenho que dar tanta importância?

Ela claramente era estranha, foi a primeira pessoa que notou em mim.  E porquê? Porque notaria? Nunca falaram comigo e de repente  ela aparece em todos os lugares em que eu passo. Eu sou a mais monótona deles todos. Eu tinha o controlo e nem mesmo isso era suficiente.

Os redondos olhos castanhos marcavam o meu corpo, os meus longos cabelos castanhos selvagens, as magras pernas claras, a cara, pálida, talvez com uma expressão acolhedora, acinzentados olhos nem grandes nem pequenos, o fino nariz, a boca, o peito justo e as pequenas mãos que queriam agarrar o mundo. O meu.

Deveria sentir-me desconfortável?

Sentia-me salva, sana, eu simplesmente sentia.

E queria sentir mais, não só os olhos, tudo.

Sempre me disseram que uma pessoa carismática e positiva, confiante de si mesma conseguia tudo. Talvez um de nós fosse assim. Mesmo vitima e culpado ao mesmo tempo. Conseguia tudo. Talvez ele, talvez eu... talvez ambos tenhamos tudo mesmo sem sequer sabermos. Podia até estar na pontinha dos nossos dedos. Mas carisma e confiança era o que provavelmente mais faltava nele e eu, ás vezes sentia-me como o seu espelho. Não vazio, mas parecia que eu conseguia exatamente sentir o mesmo que ele na hora em que ele o sentia. Há quem diga "Almas gémeas" e eu acredito que acreditávamos. Em algo, em nós, no mundo. Mas nunca na sociedade ou nos que nos rodeia. Custa acreditar a qualquer um.

Eu queria que ele acreditasse em mim. Ao invés disso.

-Eu deveria estar louco, por te fazer isto! Por estar contigo!— Ele grita, o seu grito ecoa pelo vazio lugar enquanto ele me amarra a uma cadeira.

E eu observo. E deixo que o faça.

-Eu quero-te! Imenso ! Mas é tão difícil! É como uma luta é como se... tu precisas de outro? Para viver? 

Tudo o que ele dizia era tão diferente, contraditório.

-Há um rumor de que um moço andou pela vizinhança a tentar encontrar alguém.—A voz da pessoa tão popular saiu, com um tom de ironia.

Desta vez não. Não pode ser, não ela. Eu estava em casa. Ela não podia estar também, eu devia estar sozinha em casa. 

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⏰ Última atualização: Dec 18, 2016 ⏰

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