Dylan Taylor

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Foi no mínimo engraçado e no máximo angustiante. Ter minha namorada ao meu lado e a mulher por quem nutro sentimentos desde a infância foi... Medonho. Ter esse momento me mostrou que eu não podia ficar como estava.

Acabei me acostumando com o que tinha com Mary, mas não é amor. Não aquele amor que me faz perder a falar ou falar baboseiras, que me faz sentir vivo e pensar como a vida é extraordinária. Não é o amor que sinto quando estou com Anne.

Ela podia não sentir nada além de amizade por mim, mas com o tempo poderíamos ter algo a mais. Eu poderia finalmente falar o que sinto e entregar ao destino como minha vida ficaria. Só que para isso, não podia continuar namorando.

O que Mary e eu tínhamos não passava de carinho dado e recebido. Alguém que nos apoiamos e não queríamos parar para voltar ao que era antes. No entanto, eu já havia superado a morte de minha mãe e por mais que ela não dissesse, sei que sentia falta da família.

-Mary... - pronunciei seu nome abaixando o volume da televisão e me ajeitando no sofá. Ela saiu de meu peito se acomodando para me ver.

Acho que permaneci tempo demais calado pois senti as mãos macias de Mary em meu rosto chamando minha atenção.

-O que foi Dylan? Está tudo bem? - perguntou preocupada e quase desisti do que faria, mas então lembrei que isso não era justo. Nem comigo e nem com ela.

-Sempre fomos sinceros um com o outro não é? - questiono e recebo apenas um acenar com olhar. - Só que não estamos sendo cem por cento honestos Mary.

-O que quer dizer?

-Eu não a amo como deveria. - murmuro e continuo sem dar-lhe tempo. - E nem você.

-Como pode dizer isso Dylan?

-É a verdade Mary, no fundo sabe que é. Estamos apenas nos enganando e por tempo demais.

Mary fica em silêncio pensando no que eu disse e me levanto para beber um pouco de água. Minutos depois ouço seus passos e giro para vê-la parada na porta.

-Eu amo você Dylan, mas... Tem razão. Está certo sobre nossa relação. - permaneço calado apenas observando-a. - Me acostumei a ter você por perto e te ajudar quando precisa que as vezes me dar medo de ir embora. - murmura desconsolada e fecho nossa distancia a levando para sentar-se no sofá novamente.

-Você é a pessoa mais valente que já conheci, vai ter medo do que?

-Do novo? - questiona a si mesma e seguro sua mão lhe dando conforto. - Quando me salvou de um bêbado, eu pensei que tinha ganhado uma segunda chance. Você me fez a melhor mulher do mundo durante esses anos e realmente queria que dessemos certo. Achei que apenas a gratidão nos faria felizes. Só que para você é pouco e até entendo... É ela não é? - me interroga e cerro meus olhos olhando sem entender. - É a Anne.

Arfo com sua revelação e volto a fitar nossas mãos juntas. Algumas horas. Bastou algumas horas para Mary sacar o jogo. E olha que nem sequer dei bandeira.

-Não importa Mary, ela nem sequer sente o mesmo. - digo desleixado mas sentindo o gosto amargo na boca.

-Eu não estaria tão seguro. - murmura. - É difícil te perder para outra, mas se for para Anne, vou compreender, ela é uma boa pessoa.

-O que isso significa? - pergunto duvidoso e ela sorrir com tristeza.

-Que terminamos e não tenho para onde ir.

-Você tem e sempre teve seus pais. - rebato e ouço seus suspiro.

-Eu saí de lá dizendo que eles eram os piores pais que alguém podia ter. Com certeza não querem nem me ver pintada de ouro. - comenta e acaricio seu rosto.

-Você é uma pessoa maravilhosa Mary, realmente incrível. É isso que seus pais vão achar quando te ver outra vez. Os pais sempre amam e perdoam os filhos, e pela mulher que é, com valores e princípios que se herdam dos pais, sei que te receberão de volta. É semana de natal Mary, não passe outra vez essa data tão especial longe da sua família.

Seus olhos a traem com lágrimas e seus braços rodeiam meu pescoço num abraço apertado que devolvo. Nunca vou esquecer de Mary. Ela sempre vai fazer parte do meu passado. Um passado bom.

-É por isso que te amo. - sussurra e a aperto mais em meu corpo. - Dylan... - pronuncia e se afasta me olhando. - Já que estamos jogando tudo para o alto mesmo, a menina da foto que você guarda em seu criado-mudo, é a Anne não é?

Suspiro e sorrio me sentindo mais leve pela conversa que tivemos.

-Sem mais segredos... Sim, a garota na foto é Anne. Sempre fui apaixonado por ela desde essa época.

-Por que nunca disse? - Mary pergunta surpresa e dou de ombros.

-Não queria que se sentisse mal, além do quê não achei que fosse importante. Eu nem sequer pensei que ela voltaria! - respondo energético.

-E quando vai contar a ela o que sente? - saio do sofá caminhando para longe.

-Não sei quando e nem como vou dizer, só sei que não posso ficar guardando por mais tempo.

-Apenas diga Dylan ou se faltar palavras, a beije. - sugere e por maisque seja absurdo já chegar beijando-a, anoto a dica. - Vou arrumar minhas coisas, pretendo voltar para casa amanha e rever meus pais.

Sorrio com sua empolgação. Eu sabia que ela sentia falta dos pais, mas,mais ainda, fiquei feliz dela entender perfeitamente nossa situação e que eu agora estava livre para minha pequena.

-Obrigado Mary. - murmuro e recebo seu olhar carinhoso enquanto vem até mim e me abraça de novo.

-Eu te amo Dylan, não se esqueça disso.

-Não vou. - sussurro e beijo o alto da sua cabeça.

Essa noite foi uma daquelas noites loucas, mas eu gostei. Finalmente contei a Mary dos meus sentimentos que nunca morreram por Anne e agora eu teria que ter a coragem de contá-la. Amanha a tarde poderá ser minha chance e sinceramente, espero que nada mude entre nós. E claro, se mudar, que seja para melhor.

Anne e Dylan - Um conto de natalOnde histórias criam vida. Descubra agora