Ele queria o mundo mas o mundo não o queria

Capítulo 10- A outra metade dialoga

Hoje, um pouco mais cedo, tomei uma decisão muito difícil, tão difícil quanto escolher entre pizza e batata frita, piscina ou mar, dia ou noite, o sapato azul ou preto, essa decisão foi planejada a dias, ensaiada em frente ao espelho, ou então essas palavras rodopiaram em minha mente todas as vezes que eu deitava a cabeça no travesseiro e, ali eu passava horas, pensando, sussurrando com o breu, e então eu chorava, chorava com vontade, e soluçava, aí eu dormia. Todos os dias sofridos e desesperadores para que hoje, o grande dia, eu pudesse finalmente dizê-las, olhar em seus olhos e soltar o verbo, sem gaguejar, sem desculpas, sem perdão, sem mais!
Me arrumei, calcei minhas botas -elas pareciam estar mais apertadas que quando usufrui delas ontem. Botei meu perfume e saí porta a fora. Eu estava decidida, era agora ou nunca.
Ele se aproximou sem nem um ''Oi'', disse: O que vamos fazer?
Minhas mãos começaram a suar, comecei a tremer, aquelas palavras não saiam, não iria sair nada. Foi aí que gaguejando, consegui apenas dizer: Acabou.
E então ele me fitava, enquanto eu olhava aquele chão, -ele devia estar melhor que eu. E comecei a chorar, e ele me abraçou, também chorando, disse: O que eu fiz? Perdi uma chance, eu a tinha, e então desperdicei. Acho melhor você ir pra casa, pois não quero chegar na minha e ainda ter esperanças de te ver amanhã. Eu não mereço você.
E então vim pra casa, com uma dor no peito. Eu pensei que estava bem, que faria tudo direito, diria o que queria, ele o fez por mim. Disse tudo o que eu ia dizer, cada palavra. Foi aí que percebi, quem estava bem, era ele. Sou uma farsa. Mas resumi tudo o que me sufocava em uma só palavra, e ele entendeu.
Eu estou sofrendo por cortar a árvore que estava crescendo, ou eu achava que estava mas, com o tempo plantarei outra, ela vai crescer, crescer de verdade, e vou me sentar na sombra que ela me propuser, e lembrarei do dia em que cortei algo tão incrível, pra construir outra melhor. Sem mais.